Papa lança mensagem ecológica
Bento XVI saúda a nova sensibilidade internacional e pede uma relação «correcta» com o Ambiente
Bento XVI deixou hoje um forte apelo a favor da preservação do meio ambiente, manifestando o seu apoio aos líderes de governo e organizações internacionais que se irão reunir na próxima Conferência da ONU sobre mudanças climáticas.
Para o Papa é fundamental que “a comunidade internacional e cada governo enviem os sinais certos aos seus cidadãos e consigam travar as formas prejudiciais de tratar o ambiente”.
“Os diversos fenómenos de degradação ambiental e as calamidades naturais, que a comunicação social regista várias vezes, lembram a urgência do respeito pela natureza, recuperando e valorizando na vida de cada dia uma relação correcta com o ambiente”, disse.
O Papa admitiu que estes temas estão na agenda das “autoridades e da opinião pública”, saudando o desenvolvimento de “uma nova sensibilidade, que se exprime na multiplicação de encontros, também a nível internacional.
A Conferência da ONU sobre mudanças climáticas decorre de 31 de Agosto a 4 de Setembro, em Genebra, Suíça.
Falando em inglês, Bento XVI disse que “os custos económicos e sociais da utilização de recursos comuns devem ser reconhecidos com transparência e suportados por aqueles que os maltratam, não por outros povos ou pelas gerações futuras”.
Na audiência geral desta Quarta-feira, em Castel Gandolfo, o Papa falou do fim das férias de Verão, dedicando a sua habitual catequese à criação. A audiência na residência pontifícia, nos arredores de Roma, teve dois momentos, sendo o último dedicado apenas a cerca de dois mil peregrinos de língua alemã.
Como habitualmente, houve também uma saudação na nossa língua, a “todos os peregrinos de língua portuguesa, nomeadamente os grupos do Coral de Vila Real e de Mogi das Cruzes, desejando que esta visita ao Sucessor de Pedro fortaleça a vossa fé e vos ajude a irradiar o Amor de Deus na própria casa e na sociedade”.
Aos peregrinos de língua francesa, Bento XVI referiu que “no final deste período de férias de Verão, convido a dar graças a Deus pelo dom inestimável da criação”.“A protecção do ambiente, a salvaguarda dos recursos da terra e do clima estão confiadas à nossa responsabilidade”, acrescentou.
Para o Papa, a resposta aos actuais desafios ambientais passa por “construir em conjunto um desenvolvimento humano integral, inspirado pelos valores da caridade e da verdade, em benefício dos povos de hoje e de amanhã”.
Bento XVI disse ainda que quando Deus é esquecido, começa a destruição da natureza. “Se é desvalorizada a relação da criatura humana com o Criador, a matéria é reduzida a possessão egoísta, o homem torna-se a «última instância» e o objectivo da existência fica reduzido a uma cansativa corrida para possuir o mais possível”.
Um Papa ecológico
Ao longo da audiência, foi citada por diversas vezes a última encíclica papal, Caritas in veritate. Nesse documento, Bento XVI diz que os projectos para um desenvolvimento humano integral “não podem ignorar os vindouros, mas devem ser animados pela solidariedade e a justiça entre as gerações, tendo em conta os diversos âmbitos: ecológico, jurídico, económico, político, cultural”.
Em particular, desenvolvem-se as questões relacionadas com “as problemáticas energéticas”, condenando “o açambarcamento dos recursos energéticos não renováveis por parte de alguns Estados, grupos de poder e empresas”.
“A protecção do ambiente, dos recursos e do clima requer que todos os responsáveis internacionais actuem conjuntamente e se demonstrem prontos a agir de boa fé, no respeito da lei e da solidariedade para com as regiões mais débeis da terra”, indica o documento.
O Papa observa que “a monopolização dos recursos naturais, que em muitos casos se encontram precisamente nos países pobres, gera exploração e frequentes conflitos entre as nações e dentro das mesmas”.
Nesse sentido, prossegue, “a comunidade internacional tem o imperioso dever de encontrar as vias institucionais para regular a exploração dos recursos não renováveis, com a participação também dos países pobres, de modo a planificar em conjunto o futuro”. Por isso, Bento XVI frisa que também neste campo “há urgente necessidade moral de uma renovada solidariedade, especialmente nas relações entre os países em vias de desenvolvimento e os países altamente industrializados”.
“As sociedades tecnicamente avançadas podem e devem diminuir o consumo energético seja porque as actividades manufactureiras evoluem, seja porque entre os seus cidadãos reina maior sensibilidade ecológica. Além disso há que acrescentar que, actualmente, é possível melhorar a eficiência energética e fazer avançar a pesquisa de energias alternativas”, pode ler-se.
“O açambarcamento dos recursos, especialmente da água, pode provocar graves conflitos entre as populações envolvidas”, alerta ainda a Caritas in veritate.
Em finais de Julho, a Santa Sé divulgou o tema da mensagem de Bento XVI para o Dia Mundial da Paz 2010, desta feita intitulada “Se queres a paz, cuida da criação”. O Papa fala numa crise ecológica e na necessidade de enfrentá-la globalmente.
O tema pretende fomentar uma tomada de consciência do “forte elo que existe no nosso mundo globalizado e interconectado entre salvaguarda da criação e cultivo do bem da paz”, lembrando as “terríveis perspectivas que a degradação ambiental apresenta”.
Segundo a apresentação do tema divulgada pela Santa Sé, “se a família humana não souber fazer frente a estes novos desafios com um renovado sentido de justiça e de equidade social e de olidariedade internacional, corre-se o risco de semear a violência entre os povos e entre as gerações presentes e futuras”.
A mensagem deverá retomar as observações contidas nos números 48-51 da Encíclica, destacando a necessidade urgente de que a tutela do meio ambiente seja “um desafio para toda a humanidade”.
“Trata-se do dever, comum e universal, de respeitar um bem colectivo, destinado a todos, impedindo que se possam utilizar de modo impune as diversas categorias de seres”, refere a Santa Sé.
A celebração de 1 de Janeiro do próximo ano procurará “favorecer uma consciência renovada da interdependência que une entre si todos os habitantes da Terra”.
“Esta consciência servirá para eliminar diversas causas de desastres ecológicos e garantir uma pronta capacidade de resposta quando esses desastres atingem povos e territórios”, defende a apresentação da mensagem do Papa.
Fonte: Agência Ecclesia