Mensagem do Presidente da Cáritas Portuguesa para a Semana Nacional da Cáritas
“Acolher a diversidade exige a educação do olhar”
Mensagem do Presidente da Cáritas Portuguesa para a Semana Nacional da Cáritas de 2008
Desempregados jovens e de longa duração, idosos sem família e menores abandonados, pessoas com deficiência e com sida, cidadãos ciganos e sem abrigo, pessoas drogadas e prostituídas, trabalhadores imigrantes e emigrantes, refugiados e estudantes estrangeiros, reclusos e pessoas discriminadas…. Com eles e ao serviço deles a Caritas Portuguesa unida às Caritas diocesanas e a outros organismos da Igreja e da sociedade em geral, quer continuar a ser – não obstante a diminuição dos meios e recursos – sinal vivo e orgânico do Amor sem limites e diversificado de Deus pela humanidade inteira.
Os empobrecidos pelo nosso moderno “estilo de vida nacional” – sempre menos sóbrio, poupado e simples – pululam a olhos vistos nas nossas cidades e vilas. Esses nossos irmãos e irmãs, em situação de vulnerabilidade, são denúncia pública de um sistema económico, laboral e político que, por mais europeu e rico que se queira proclamar ao mundo, se apresenta sempre mais exclusivista, selectivo, competitivo e desigual.
Neste ano europeu do diálogo intercultural considero que é preciso educar o olhar! A nível da acção social da Igreja urge uma nova pedagogia do olhar desde as famílias, passando pelas nossas comunidades cristãs para chegar às escolas e autarquias. A caridade cristã também depende do olhar! Reconheço que não nos sabemos olhar uns aos outros com o mesmo olhar com que Deus sempre olhou para a humanidade. Ele é o Deus que não faz acepção de pessoas (Gal 2, 6). O seu olhar não discrimina ninguém! Ele é o Deus que sempre acolhe no seu seio trinitário a diversidade e que, não obstante as diferentes formas como ainda é olhado na história humana – algumas vezes de forma ainda muito injusta e ingrata -, Ele nunca altera o seu olhar magnânimo de bondade, solidariedade e libertação. O olhar de Deus reabilita, admiravelmente, o homem ferido pelo mal, sara as feridas causadas pelas estruturas de pecado e envia-o rumo ao desconhecido: ao outro que pede acolhimento e reconhecimento para se viver a vida com sentido.
Já no passado ano europeu, dedicado à igualdade de oportunidades para todos, verificámos, lamentavelmente, que persistem muitas “carências de olhar” a nível da efectivação da igualdade de tratamento, da igualdade de género e de acesso aos meios de auto-promoção e apoio social. O próprio olhar de alguns, com responsabilidades na sociedade portuguesa, para com a presença da Igreja nas instituições sociais e educativas parece estar em mudança com o argumento pouco consistente de uma nova “laicidade da caridade” que corre o risco grave de tornar-se numa ofensa à tradição das obras de misericórdia cristã tão enraizadas na nossa lusa cultura.
Vamos abrir as portas à igualdade! Vamos ser fiéis à “ética do olhar” que não discrimina, mas que a todos escuta, acolhe e auxilia com inteligência. Vamos lutar contra as portas que parecem fechar-se silenciosamente que, ao proclamarem a supremacia da ciência, da técnica, da gestão e do tecnicismo correm o risco grave de deixar na rua, no desespero, longe dos apoios legítimos, ao frio e à fome, muitos cidadãos portugueses e estrangeiros que não têm outra saída se não recorrer à flexibilidade da caridade praticada por tantas organizações da sociedade civil, entre as quais se contam estruturas de inspiração cristã, animadas por voluntários e assalariados que com cosciência cívica e de baptizados desenvolvem a sua acção social com profundo sentido de serviço aos outros.
É, sobretudo, a nós cristãos leigos que a Igreja confia, em fidelidade ao príncipio da subsidiaridade, a aplicação prática e adequada dos princípios de reflexão, critérios de julgamento e directrizes de acção próprias da Doutrina Social da Igreja. E porque advertimos desconhecimento e ignorância relativamente a esta doutrina, continuamos empenhados na divulgação da mesma, através de tantos modos, nas comunidades cristãs.
Aproveitando o tempo de Quaresma, e motivando as muitas iniciativas de solidariedade que, durante a Semana Nacional da Cáritas sob o lema Acolhe a Diversidade – Abre portas à Igualdade, irão acontecer por todo o país, quero manifestar o meu agradecimento a todos os que com a sua generosidade, tempo, ousadia e competência, em estruturas públicas e privadas, são parceiros da Caritas e connosco têm tornado possível a presença de Portugal em projectos humanitários de socorro às vítimas de muitas catástrofes naturais e humanas, bem como em programas de apoio ao progresso social e económico de países em vias de desenvolvimento, particularmente os de expressão portuguesa.
Obrigado! Continuemos a abrir portas à igualdade na diversidade de olhares!
Eugénio José da Cruz Fonseca
Presidente da Cáritas Portuguesa