A Cáritas e cada um, para um futuro sem fome
Durante dois dias, 1 e 2 de Junho, na Áustria, personalidades de todo o mundo e com níveis de responsabilidade elevados, discutiram sobre as causas para a fome no mundo e as formas de a combater. José Cordeiro, membro da direcção da Cáritas Portuguesa, esteve neste encontro e deixou-nos algumas notas daquilo que no seu entender sai reforçado deste encontro internacional.
Os representantes das mais prestigiadas organizações mundiais como sejam a ONU e a FAO mas também muitas outras organizações de referência estiveram juntos na Conferência Internacional “Future without hunger” que aconteceu na Áustria entre os dias 1 e 2 de Junho. “O encontro foi promovido com o propósito de aclarar os problemas da fome n mundo e o modo de, sustentavelmente, garantir alimentos e segurança alimentar para todos”, explica José Cordeiro, da direcção da Cáritas Portuguesa que participou nos trabalhos deste Congresso.
O tema de abertura ficou marcado pela declaração de que “a Caritas não pode silenciar os dramas daqueles que sofrem de fome e desnutrição” uma interpelação deixada a todos os que têm responsabilidades mundiais e locais para que a Caritas faça a diferença em toda a sua acção.
“O representante da Nações Unidas Thomas Stelzer fez notar que a Crise Financeira está a servir de motivo para se desacelerar o investimento, e mesmo a travar, os programas de combate contra a fome”, relata José Cordeiro lembrando que Thomas Stelzer foi ainda mais longe ao alegar “que é urgente, nestes tempos que correm, ajudar a desenvolver a agricultura e os mercados agrícolas nos países mais pobres”. Desafios, que reconheceu, muito complexos mas que exigem financiamento global e trabalho que envolva a todos. Thomas Stelzer afirmou, ainda, ser de elevada pertinência a realização deste Congresso por colocar na actual agenda mundial as políticas internacionais a implementar até 2020.
Por seu lado o Cardeal Maradiaga, Presidente da Caritas Internationalis, produziu um discurso de elevada carga reflexiva e interpelante, não deixando de proclamar que “a pobreza no mundo é uma vergonha e a fome uma tragédia.”
Durante o Congresso foram apresentados vários testemunhos daqueles que diariamente são confrontados com a fome no mundo e as suas mais trágicas consequências. Posição também partilhada e vivenciada pela Comissária Europeia, Kristalina Georgieva.
“Foram também trazidos alguns exemplos de sucesso no combate ao flagelo da fome, nomeadamente no Gana em que a redução se cifrou nos 50% devido às políticas de investimento no sector agrícola, sector em que mundialmente se tem vindo a desinvestir continuadamente desde os anos 80”. Ao falar da sua participação neste Congresso José Cordeiro sublinha a importância de se retirar deste conjunto de participações elementos de informação e de alerta que poderão ajudar no trabalho local e diário da Cáritas em Portugal.
“Só ajuda alimentar é insuficiente para políticas de combate a médio e longo prazos”. Este foi um dos alertas deixados pelo Congresso “Future Without Hunger” que apresentou também dados sobre a importância de envolver as mulheres nos programas; a atenção que se deve prestar às necessidades locais e à sua adaptação cultural (e não à imagem de modelos ocidentalizados); as alterações climáticas que estão a agravar os problemas da fome no mundo e que pedem uma intervenção. Os problemas do comércio mundial também foram tratados e daí resultou a afirmação da necessidade de uma melhor e mais justa regulação do comércio mundial no sentido de proteger as economias locais e incentivar à criação de emprego e trabalho digno.
Uma última nota sobre a Conferência, deixada por José Cordeiro, está relacionada com “o enfoque que se deu na prioridade ao combate à fome nas crianças, problema tido e assumido como inaceitável flagelo humano”.
“Espera-se agora que esta Conferência Internacional possa servir de eco para os políticos e a próxima Conferência do Rio+20”. José Cordeiro explica que “a Conferência do Rio deve abrir a janela do futuro. Água, energia, oceanos, agricultura… são temas fulcrais tendo em consideração que em 2030 já serão expectáveis reais problemas de água se os consumos se mantiverem ao nível actual.”
Credits: Zanetti/Caritas Swiss