Incêndios: a memória de quem viveu ângustia
O Verão de 2003, entre 27 de Julho e 15 de Agosto, “arderam cerca 300 mil hectares de floresta, morreram 18 pessoas, cerca de 85 foram desalojadas e centenas tiveram de ser evacuadas das suas casas”. Dos dezoito distritos do país, quinze foram afectados por esta vaga de fogos. Um calor fora do normal terá sido uma das principais razões para uma vaga de incêndios que marcou a vida de muitas famílias portuguesas.
“Foi um horror”, recorda Isabel Varandas, na altura presidente da Cáritas Diocesana da Guarda, uma das zonas afectadas pelo fogo. “As pessoas estavam assustadas e muito chocadas com o que lhes estava a acontecer”. Isabel Varandas regressa rapidamente aos dias vividos na ânsia de ajudar quem necessitava da acção da Cáritas Portuguesa. As notícias de incêndios que, mais uma vez marcam a actualidade do país fazem-na lamentar que este seja já visto como um tema recorrente: “é a tristeza de ver que desde 2003 este é um drama que pode acontecer a qualquer pessoa e em qualquer região”.
Depois de vários anos inactiva a Caritas Diocesana da Guarda estava em 2003 a reiniciar a sua acção na Diocese, o seu trabalho de apoio e assistência às vítimas dos incêndios permitiu-lhe mostrar à população e às autoridades a importância do seu papel e aquilo que a distingue de outras organizações: “lembro-me que um dia um elemento do governo civil que viu a forma como falávamos com as pessoas ter usado a expressão ‘tratam-nos com carinho’”.
Naquela altura o país inteiro mobilizou-se para acudir a quem precisava não apenas na Guarda mas em todos os distritos onde o fogo deixou um rasto de destruição e também de vítimas humanas. Em Aldeia do Bispo uma mulher morreu enquanto prestava apoio na evacuação dos utentes do lar onde trabalhava. A família desta mulher foi uma das várias que a Cáritas Diocesana apoio. Entre recuperação, reabilitação e reconstrução total foram intervencionadas 9 habitações. Este foi o grande trabalho nos anos que se seguiram e onde se inclui o apoio dado à população em 2005 quando outra vaga de fogos colocou a diocese em novo estado de emergência. Em ambas as situações esta intervenção não esgotou aquilo que foi a missão da Cáritas no apoio à população: “fizemos um trabalho muito grande na resolução de vários problemas sócias e de acompanhamento ao nível humano usando os critérios cristãos”, recorda Isabel Varandas, sublinhando que nestas situações é muito difícil encontrar soluções para todas as pessoas.
Particulares, empresas e autarquias reuniram esforços e recursos e o resultado desta experiência vivida permitiu reforçar a rede local. Agilizou-se a colaboração entre as autoridades e promoveu-se a criação de vários grupos sócio caritativos. “As pessoas vinham trazer-nos o seu contributo em dinheiro ou em bens, equipamentos para as casas e nós mostrámos a nossa capacidade, flexibilidade e credibilidade”, explica Isabel Varandas que eram na altura a presidente da Cáritas Diocesana da Guarda.
Entre aqueles que foram apoiados pela Diocese da Guarda alguns já morreram e outras estão já em idades muito avançadas mas entre todos os que precisaram e os que ajudaram ficou o sentimento de amizade que permite ainda hoje estabelecer uma relação especial de reconhecimento mútuo.