Rescaldo: Cáritas mantém-se disponível para apoio
Madeira, Algarve, Ourém, Viseu. Entre os meses de Julho e Setembro, em Portugal, arderam milhares de hectares de terreno florestal causando danos em habitações, provocando a perda de postos de trabalho e, principalmente, causando a morte a várias pessoas. Os números não divulgados de forma formal estimam que até Agosto arderam 73.055 hectares de floresta correspondendo a 16.168 incêndios.
Os dados foram adiantados pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) que indica que, entre 1 de janeiro e 31 de agosto, a área ardida aumentou 81 por cento face ao mesmo período do ano passado, quando arderam 40.146 hectares.
O país recebe diariamente os relatos daqueles que vêm a sua vida transformada em poucas horas. O cheiros a queimados, o barulho dos sirenes e o avançar das chamas lançam as populações num estado de pânico que ninguém poderá compreender a não ser que esteja frente a frente com uma situação limite. O sentimento de revolta pega-se ao desejo de salvar casas e vidas. Há mão criminosa em muitos dos fogos que assaltaram o país, noutros há desleixo e no combate há chamas há a inexplicável falta de coordenação de algumas autoridades. A acrescer a tudo isto as dificuldades de acesso a muitos terreno, nomeadamente na região da Madeira.
É este o cenário. Medo, frustração, dor, perda. Perante isto a Cáritas Portuguesa avançou com a abertura de uma campanha de solidariedade na qual pediu a colaboração de todos os portugueses no apoio às vítimas destes incêndios. Esta conta tem recebido os sinais de uma solidariedade afetada pelo contexto económico do país. Os contributos existem mas são em valor muito inferior ao esperado. Embora sensibilizadas e mobilizadas para a solidariedade a verdade é que os portugueses, que por norma contribuem para este tipo de iniciativas, não têm neste momento a mesma capacidade económica para responder ao apelo da Cáritas Portuguesa.
Localmente o apoio foi feito por parte das estrutura locais que pela sua proximidade à população e às autoridades que atuam no terreno têm uma capacidade maior de responder com prontidão e eficácia. Foi assim na Madeira, Algarve e Leiria, as regiões mais afetadas.
“Relativamente à ação e missão da Cáritas Diocesana a primeira reação quando se percebe a gravidade do incêndio é: da parte dos responsáveis estar atentos e alertar os colaboradores para a eventualidade de a Cáritas ser chamada a intervir. Ao mesmo tempo equacionar quais os meios adequados a acionar de acordo com a gravidade da situação” explica José Barbeito, presidente da Cáritas Portuguesa do Funchal, na Madeira. Para todos a estratégia é igual. A Cáritas coloca-se ao serviço das autoridades locais oferecendo a sua disponibilidade para ajudar.
No Algarve, os voluntários rapidamente se mobilizam e para além das populações o apoio foi também dado aos membros do corpo de bombeiros. Durante os dias em que estiveram em combate os bombeiros contaram com a ajuda dos voluntários da Cáritas que nunca deixaram que faltasse comida, água e leite. Também a população local e de forma espontânea deu este apoio que se revelou essencial para os homens que combateram aquele que foi o maior fogo em área ardida. Carlos Oliveira, presidente da Cáritas no Algarve, explica que depois deste apoio imediato no tempo em que o incêndio esteve ativo, a Cáritas prestou também apoio à população “oferecendo eletrodomésticos àqueles a quem o fogo causou danos nas habitações”.
A articulação da resposta das Cáritas Diocesanas é feita através das autoridade locais como são as Câmaras Municipais mas também, muito, através das paróquias: “a ação com os Párocos e ou grupos de ação socio-caritativa paroquial nomeadamente as Cáritas Paroquiais”, sublinha Carlos Oliveira.
Na Madeira, na intervenção de emergência, “deslocaram-se meios humanos para acolher os desalojados que ficaram instalados no quartel local (psicólogos, assistentes sociais e voluntários). Logo de imediato se disponibilizou vestuário e produtos de higiene, bem como alguma comida em falta nas instalações militares”, explica José Barbeito, “na fase seguinte foi apoiar e acompanhar os desalojados nos dias que estiveram abrigados no quartel. Fez-se deslocar duas equipas de apoio: uma para a cidade de Machico e outra para Sta. Cruz no centro de acolhimento provisório montado debaixo do aeroporto. Posteriormente, forneceu-se mobília, eletrodomésticos, roupa, alimentos e produtos de higiene e limpeza quando a essas pessoas foram atribuídas casas “.
Na Madeira, a avaliação das perdas é feita pelas Câmaras Municipais e Governo Regional e é a partir destes dados que toda a intervenção será feita. Atualmente “existem cerca de 18 habitações perdidas 23 danificadas sem condições de habitabilidade e 14 com danos mas em condições de habitabilidade, sendo pois necessário construir novas habitações e um trabalho de recuperação das danificadas”.
A experiência vivida em situações de emergência quer no Algarve, quer na Madeira, deu a estas estruturas a grande capacidade de intervenção. Recorde-se que em Fevereiro de 2010 as cheias na Madeira foram uma situação limite que trouxe um novo olhar sobre a atuação da Cáritas naquela região. “Deu um ‘nowhow’ importantíssimo que, aliado à posterior avaliação feita a essa intervenção, trouxe importantes mais valias tais como: já estavam definidos procedimentos mais simplificados para a atuação de emergência, a seleção dos voluntários que se apresentavam foi mais apurada, a estrutura hierárquica estava bem definida, cada elemento responsável sabia desde logo o que fazer simplificando o papel de coordenação do presidente e libertando-o para outras tarefas necessárias como o permanente contacto com as diversas autoridades locais (Governo, militares, autarquias, etc), na procura de soluções para as diversas situações no momento e para a fase posterior”.
Comum a todos os cenários vividos entre Julho e Setembro esteve o espírito de entreajuda e solidariedade mútua que se manifestou entre vizinhos, conhecidos e voluntários. Tudo fizeram para travar as chamas, retirar pessoas, animais e propriedades e doar bens necessários.