Voluntariado: Possibilidades e Equívocos
“Possibilitar e alargar um voluntariado mais ‘consciente’ e ‘activo’, por parte das entidades promotoras de voluntariado, a um número crescente de cidadãos e cristãos, é o desafio que se impõem” é o desafio que se impõe no momento que vivemos. Esta é a opinião de Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas Portuguesa que participou no simpósio teológico-pastoral, organizado pelo Santuário de Fátima, na passada semana.
Eugénio Fonseca defendeu que este desafio abre novas possibilidades “para afirmar o voluntariado e contrariar os seus eventuais equívocos” acrescentando que “a pessoas auto-realizadas pela e na ‘entrega de si’ corresponderá um voluntariado eficaz e sem ambiguidades.” “Quando um ser humano se eleva, toda a humanidade se eleva”. Usando as palavras de Santo Ireneu de Leão, Eugénio Fonseca, lembrou que uma das formas mais “acessíveis” para que tal aconteça será o voluntariado.
Apesar da confiança e da visão positiva sobre os efeitos do voluntariado na sociedade, o o presidente da Cáritas Portuguesa e também responsável pela Confederação Portuguesa de Voluntariado não deixa de chamar a atenção para os equívocos e “perigos” do voluntariado.
“Neste tempo, em que assistimos a uma crise das organizações sociopolíticas tradicionais, ao auge do individualismo, em que há sectores que questionam mesmo a eficácia da democracia, nunca como agora, há tanta gente disposta a desenvolver actividades voluntárias”, reconhece Eugénio Fonseca para logo a seguir lembrar os efeitos daquilo a que chama “normalização do fenómeno voluntariado”. Um dos perigos, afirma Eugénio Fonseca é o uso do voluntariado para alcançar a felicidade individual: “é prova disso, a afirmação, bem-intencionada e expressa, algumas vezes, inconscientemente, por voluntários que dizem ser mais o que recebem do que o dão. Existe assim o risco da cultura da satisfação gerar uma forma de voluntariado que negue o sacrifício ou se disponha apenas a aceitar os seus mínimos, optando por acções fáceis propiciadoras de momentos felizes, mesmo que efémeros.”
Os voluntários a que chama de “fim semanistas” são para Eugénio Fonseca outro dos perigos da actualidade. Aqueles que vêm o voluntariado como algo a a parte da sua vida diária contribuindo, por isso, para uma contribuem para o “fenómeno da dualização moral”.
Apresentando aquilo que entende serem as características do voluntariado nas suas diferentes motivações, como missão, discipulado e forma de realização pessoal, Eugénio Fonseca vê na parábola do Bom Samaritano o melhor exemplo daquilo que considera ser “o paradigma do voluntariado.”
“A parábola do Bom Samaritano oferece-nos as chaves mais apropriadas e específicas do voluntariado. A prática da solidariedade não como actividade extraordinária, à margem da vida quotidiana, mas atingindo-a por inteiro” este é o ponto de partida seguindo-se “o desenvolvimento da nossa capacidade de ver mesmo as margens do caminho, lá onde estão caídas as vítimas do nosso modo de vida”.
Eugénio Fonseca termina falando associando ao voluntariado a noção de exigência, também ela retirada do exemplo do Bom Samaritano: a “exigência de nos determos, de rompermos com a normalidade da nossa vida” uma exigência que não é “negociável, mas absoluta: nada pode justificar que se passe ao largo.”