Conselho Geral Cáritas: Nota de Abertura
Não há dúvidas para nós, de que estamos de olhos e coração aberto à realidade social do nosso país e às vidas daqueles que todos os dias nos procuram com os seus problemas, de que a crise social se mantem. Podem até existir alguns sinais que nos apontam para uma saída mas a fragilidade deixada nos últimos seis anos no tecido social e humano, nãos nos deixam baixar os braços, pelo contrário, exigem de nós um esforço redobrado.
É por esta razão que desde muito cedo tenho feito o apelo não para o perdão da dívida mas a que se revejam as condições de pagamento porque elas condicionam o atual orçamento de estado que, por sua vez, continua a penalizar as famílias portuguesas. O governo e todos os decisores políticos, em conjunto com a sociedade civil, devem encontrar um caminho que permita devolver condições de rendimentos dignos à população. Não posso, ainda, deixar de manifestar, mais uma vez, as minhas preocupações em relação à implementação das Redes Locais de Intervenção Social por não serem ainda claros todos os mecanismos de atendimento e prestação de apoio de primeira necessidade às populações.
Por tudo isto na nossa ação social justifica-se, naturalmente, a ação assistencial mas pede também, de forma particular, a intensificação do esforço na atuação das causas da pobreza e da exclusão social. Pela Doutrina Social da Igreja somos mandatados a apresentar caminhos que levem à subsidiariedade através do envolvimento de todos nos problemas que são de todos. Uma sociedade onde há pobreza não pode ser nunca uma sociedade desenvolvida e, por isto, os problemas da pobreza não afetam apenas a alguns mas, pelo contrário, afetam-nos a todos e todos temos de lhe dar resposta.
Para este efeito é importante que se conheça a realidade. Precisamos de conhecer todos os casos sociais que são acompanhados porque só desta forma teremos mais condições para atuarmos nas causas e apresentarmos aos governantes e outros decisores políticos propostas efetivas.
A definição de um plano estratégico da Cáritas Portuguesa e da Cáritas em Portugal é a nossa primeira resposta a esta necessidade para delinear uma estratégia que envolva as pessoas, as capacite, e que vá além da “emergência social”. Ao nível Mundial a Cáritas assumiu uma nova personalidade jurídica e isso traz implicações para todos nós que fazemos parte desta rede internacional. É necessário, por isso, que se intensifiquem os esforços para a implementação dos “Standards Minimos de Qualidade”. Durante este ano haverá mudanças às quais temos de estar atentos e que serão momentos de oportunidade para todos, nomeadamente, a tomada de posse dos novos órgãos sociais da Caritas Internationalis, que acontecerá em maio. Em Setembro, nas Nações Unidas, será definida e aprovada a nova Agenda global para o Desenvolvimento. Os novos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) – que substituem os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio – tentarão incorporar uma agenda universal e diversificada. Tudo indica que, pela primeira vez, um dos objetivos tenha uma meta zero, ou seja, acabar com a fome e pobreza extrema no mundo, no espaço de menos de uma geração.
Em Portugal a atualidade será marcada pelas próximas eleições legislativas. Deixo aqui em aberto a possibilidade de enviarmos a todos os partidos políticos candidatos às próximas eleições legislativas, um conjunto de propostas de atuação para o desenvolvimento de uma estratégia nacional de combate à pobreza. Acreditamos que só desta forma, deixando de lado uma dinâmica de medidas avulsas, se poderão resolver os verdadeiros problemas da pobreza em Portugal. Quem parte para eleições não pode levar consigo apenas as preocupações partidárias e as convicções pessoais. Sem uma noção de serviço e de compromisso com a construção do bem comum a política estaremos a deixar comprometida a própria democracia. Naturalmente que se esta ideia avançar o projeto de documento será submetido a todas as Cáritas Diocesanas e, será, portanto, um documento da rede Cáritas em Portugal.
Como Igreja o Papa Francisco desafia-nos a viver este ano como Ano Santo da Misericórdia. Este homem que tem sido para todos nós um desafio diário de santidade deixa-nos agora mais esta interpelação. Este jubileu nasce da intenção de tornar “mais evidente” a missão da Igreja de ser “testemunha da misericórdia”, diz-nos Francisco, que nos recorda também que “ninguém pode ser excluído da misericórdia de Deus” e que a Igreja “é a casa que acolhe todos e não recusa ninguém”. Ora isto é fundamental para nós Cáritas que somos sinal do Amor de Deus. Somos agentes deste fervor que está em nós e que nos obriga a lutar quanta a “globalização da indiferença” que são também palavras do nosso Papa Francisco deixadas na sua mensagem quaresmal. Só o amor é transformador! É daqui, deste amor que transforma o mundo, que devem nascer todas as nossas ações e alertas.
O nosso trabalho deverá falar por nós. A análise da realidade social e a apresentação dos projetos que a Cáritas a nível nacional e diocesano está a desenvolver vão ocupar a agenda de trabalhos que agora iniciamos. Eles são uma evidência da forma como a Cáritas está apostada em melhorar a sua ação e levar mais longe a sua missão para que sejamos sempre um sinal da Igreja como serviço da caridade “para o desenvolvimento humano e defesa do bem comum, através da animação da Pastoral Social”!!
Eugénio Fonseca
20 março 2015