Instituições pedem estratégia contra pobreza infantil
Em Portugal, cerca de 25.6% das crianças encontra-se em risco de pobreza, são estes os últimos dados publicados pelo INE, em janeiro passado, apesar da análise reportar a 2013. Neste dia a Cáritas Portuguesa sublinha a importância de se encarar o combate à pobreza infantil como uma prioridade para os decisores políticos e para a própria sociedade civil. “Os custos humanos deixaram marcas não apenas na geração futura, mas no tecido humano e social do país. Um país que não dá às crianças as oportunidades necessárias para um crescimento equilibrado e de esperança nunca poderá ser considerado um país desenvolvido”, afirma Eugénio Fonseca.
“São números muito pesados e, por isso, estamos conscientes de que a infância em Portugal não é um período de vida feliz para muitas crianças porque vivendo em situação de pobreza e exclusão social encontram-se privadas de várias dimensões de bem-estar”, diz o Padre Jardim Moreira, presidente da EAPN Portugal a propósito do Dia Mundial da Criança que hoje se comemora. A Cáritas Portuguesa, em conjunto com a EAPN, que coordena um grupo de trabalho de reflexão sobre este tema, defendem “a criação urgente de um programa de ação, assumido como instrumento de política pública para a prevenção e combate eficazes da pobreza infantil e exclusão social em Portugal”.
“As crianças têm sido o grupo etário mais penalizado pela deterioração das condições de vida no nosso país. Esta constatação deverá levar-nos a refletir sobre as consequências da pobreza infantil para as crianças que, desta forma, têm o futuro ameaçado. Trata-se de um problema societal que a todos toca e a todos diz respeito”, refere Amélia Bastos, professora do Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa e membro do referido grupo de trabalho coordenado pela EAPN Portugal.
Construir memórias positivas é crucial para o desenvolvimento harmonioso de uma criança e essa construção não depende apenas dos progenitores, depende também dos seus educadores (desde a primeira infância), dos seus pares, de todos os adultos que os rodeiam. Situações de abusos, violência, bullyng, são passiveis de criar memórias negativas numa criança e afetar o seu equilíbrio físico e emocional. No entanto, como explica Fernando Diogo, da Universidade dos Açores e membro do mesmo grupo de trabalho, “no contexto de grande crise que o país atravessa, os esforços parentais para proteger as crianças dos efeitos da pobreza têm limites, e esses limites consubstanciam-se na escassez de todo o tipo de recursos, fazendo com que a possibilidade de efeitos duradouros da pobreza infantil na vida dos indivíduos seja muito grande. Problemas de desenvolvimento mal resolvidos, traumas psicológicos e uma escolaridade medíocre traçam um destino provável de inferioridade social construído na infância e vigente ao longo de toda a vida, mau grado a precocidade e a ousadia da previsão.”
Por sua vez, Dulce Rocha, vice presidente do Instituto de Apoio à Criança (IAC), entidade que também integra o grupo de trabalho da EAPN Portugal, foca que “ao comemorarmos o Dia da Criança, quereríamos poder salientar apenas os Direitos que estão consagrados na sua Convenção, sobretudo os novos direitos reconhecidos, como o direito de brincar e o direito à participação, que têm sido verdadeiras bandeiras nas metodologias de trabalho do IAC, mas este ano temos muito presentes as múltiplas violações de que ainda são vítimas as crianças, e, por isso, em nome da defesa dos Direitos Humanos, não podemos silenciar o aumento da pobreza infantil, a violência, a exploração sexual e o fenómeno associado do tráfico de crianças que continuam a ensombrar um futuro que queremos de respeito e dignidade”.