“Louvado Seja” na expectativa da nova enciclica
Em meados dos anos 80 não sabíamos muito bem em que sentido caminhava o nosso mundo. Lembro-me de assistir a um filme sobre a guerra nuclear em torno desse tempo. A bomba caiu, os edifícios desabaram como peças de dominó. As pessoas que sobreviveram ao impacto inicial terão, eventualmente, morrido de doenças provocadas pela exposição à radiação. Passados 30 anos, a bomba não é nuclear, mas climática: acontecimentos climáticos extremos, elevação do nível do mar, o degelo e pessoas desalojadas e com fome. São situações que se repetem cada vez com mais frequência.
No próximo dia 18 de junho, o Papa Francisco vai apresentar uma carta encíclica muito aguardada, precisamente, sobre a ecologia “Laudato Si” ‘(Louvado seja), sobre o cuidado da nossa casa comum. Muito poucas pessoas além do Papa conhecem o conteúdo, mas os relatórios dizem que vai encorajar-nos a olhar para a nossa relação com o meio ambiente e vai desafiar-nos a viver de forma mais simples e com atenção para as consequências que as nossas escolhas podem ter na vida dos outros.
A Cáritas aguarda com expectativa a chegada desta encíclica. O tema escolhido pela Confederação para orientar o nosso trabalho nos próximos quatro anos é “Uma só família humana, Cuidar da Criação”. Ele estabelece o caminho para defender a dignidade humana, a construção de uma convivência pacífica entre povos e para a salvaguarda e cuidado da criação.
Em todo o mundo existem várias organizações Cáritas a trabalhar sobre o clima e o meio ambiente. Trabalham em comunidades ajudando durante as secas e depois de tufões; ajudam as pessoas a reconstruírem as suas casas e a ter um meio de subsistência; reduzem os impactos dos desastres; trabalham com as comunidades devastadas por indústrias extrativas e empurram para a mudança em questões ambientais importantes que a nível pessoal como político. Por outro lado, na América Latina, nove organizações Cáritas fazem parte do recém-lançado REPAM (Rede Eclesial Pan-Amazónica), que irá ajudar a proteger a área contra a ação danosa provocada pelo homem e pelas alterações climáticas.
Esta encíclica do Papa Francisco chega num momento chave para o desenvolvimento. Em setembro, a ONU apresenta os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Em dezembro, realiza-se a reunião da ONU em Paris, durante a qual, esperamos, será alcançado um acordo climático global.
A encíclica procura responder a um apelo urgente, deixado no ano passado pelos bispos católicos, na reunião climática da ONU, no Peru, na qual pediam uma posição sobre as mudanças climáticas, tendo em conta as dimensões éticas e morais.
O Papa Francisco é o primeiro pontífice a adoptar o nome de S. Francisco de Assis. Para muitos de nós, S. Francisco está associado com o seu amor pela natureza e pelos animais. Na sua viagem à cidade natal do Santo, em 2013, o Papa Francisco afirmou: “São Francisco de Assis testemunha a necessidade de respeitar tudo o que Deus criou e como ele criou, sem manipular e destruir a criação; mas sim para ajudá-la a crescer, para se tornar mais bonita e mais parecida com o que Deus o criou para ser. “
Para não deixar dúvidas sobre a origem da sua inspiração, o Santo Padre dá a esta encíclica o título Laudato Sii – Louvado seja -, o título , em italiano arcaico falado por São Francisco de Assis e que é o primeiro verso do famoso “Cântico das Criaturas” ou Cântico do Irmão Sol, escrito por S. Francisco de Assis.
Enquanto encíclica do Papa está criando muita emoção em Roma e entre as organizações baseadas na fé e ambientais, outros, como alguns políticos e negadores do clima dizem que o Santo Padre deve manter o nariz fora da ciência e as coisas que ele não entende.
Fonte: Caritas Internationalis