Portugueses devem assumir “indignação plena”
Terminou, hoje, Dia Mundial do Refugiado e do Migrante, o 17º Encontro dos Agentes Sociopastorais das Migrações. Nos últimos três dias, em Leiria, reuniram cerca de 70 participantes, em torno da interrogação: “Refugiados: euros ou pessoas?”. Este é um encontro anual, promovido pela Obra Católica Portuguesa das Migrações, a Cáritas Portuguesa, o Departamento Nacional da Pastoral Juvenil e a Agência Ecclesia.
Face a uma Europa que teima em ignorar os valores que impulsionaram a sua união, não assumindo a solidariedade como um dos seus pilares mais fortes, deste encontro saiu reforçada a convicção do papel da Igreja e da sociedade civil como promotores de mudança de consciências e intervenientes no acolhimento e na integração de pessoas e famílias refugiadas. A necessidade deste reforço resulta da consciência da obrigação que têm em promover e defende a dignidade humana, sempre, mas sobretudo quando esta está ameaçada e também, neste caso, porque a Europa não está a ser capaz de assumir as suas responsabilidades, tendo vindo a mostrar-se, escandalosamente, “tímida” na resolução da crise da mobilidade humana que o mundo atravessa, em especial o Extremo Oriente. Na sequência dos trabalhos resultou ainda a confirmação de que os fluxos migratórios, e, de forma mais gravosa, o recente drama dos refugiados estão a esbarrar com uma Europa a ceder espaço a ideologias anti-humanas, pondo cada vez mais em perigo a paz no mundo.
O potencial da Europa para acolher refugiados é muito superior aquilo que surge vinculado nos discursos políticos. No início desta crise humanitária, disponibilizou-se a acolher um milhão de pessoas que estão a fugir da morte e, até agora, somente recebeu sete mil. A invocação de impossibilidades de ordem económica não é mais que um cínico subterfúgio, pois está provado que uma correta integração contribui até para o crescimento económico do país de acolhimento. Afirmar o contrário é não estar a ajudar a uma correta informação dos cidadãos europeus, gerando medos infundados que estão na origem de alguns comportamentos xenófobos e de rejeição ao acolhimento de refugiados. A defesa dos direitos humanos é uma garantia de segurança aos olhos de quem procura a Europa como local de destino e a não arbitrariedade nos critérios para o acolhimento é uma exigência ética. A defesa do fraco, que neste encontro se leu “refugiado”, é uma questão de justiça, que nunca existirá se não for dada preferência ao fraco. É necessário criar condições de um apoio humanitário imediato, defendendo a abertura de vias de acesso para que as pessoas se desloquem de forma segura e legal, para os países de acolhimento.
As novas relações inter-religiosas que têm sido suscitadas, no nosso país, estão a revelar-se num contributo fundamental para a integração das famílias refugiadas acolhidas por nós. Portugal está, assim, a dar um exemplo positivo, nesta matéria, à União Europeia, nomeadamente, com a resposta consensual ao nível politico. No entanto, revela-se uma resposta ainda curta para as expetativas e necessidades das famílias retidas, desumanamente, em campos de refugiados. É urgente que os portugueses deixem de lado uma “indignação de sofá”, estimulada pelos picos de informação e a exploração de casos dramáticos, para agirem numa indignação plena que leve ao verdadeiro compromisso. Para uma resposta pronta ao atual desafio de acolhimento às famílias que estão para chegar a Portugal a PAR – Linha da Frente e as Organizações a ela associadas vão promover um reforço de sensibilização e consciencialização sobre o que é ser-se uma instituição de acolhimento. O objetivo é alcançar o desafio que foi lançado pelo Papa Francisco para que “cada paróquia, cada comunidade religiosa, cada santuário da Europa” possa receber, pelo menos, uma família de refugiados.
Deste Encontro saiu o apelo a todos os portugueses que é o de, constantemente, se perguntarem: qual a minha responsabilidade e que o que deverei fazer?