Juntos numa só Família Humana
Mensagem para a Semana Naciona Cáritas
D. José Traquina, Bispo de Santarém
Presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana
Habitamos uma casa comum. É o mundo em que vivemos.
Sabemos por experiência que é a partir do pessoal encontro (mais imediato ou mais mediato) com o outro que podemos compreender quem somos. Essa nossa experiência permite quebrar barreiras, ultrapassar muros divisórios e, neste mundo que é a nossa casa, sabendo-nos vizinhos (por efeito da globalização), podemos tornar(mo)-nos irmãos, por exigência moral.
Formamos, na verdade, uma só família humana. Reconhecermo-nos todos como irmãos permite interrogarmo-nos, para lá de eventuais preconceitos, sobre as reais condições de vida desta família que somos.
Juntos numa só família humana.
Já teremos lido algumas vezes a bela encíclica do Papa Francisco, Laudato si’. Mas vale a pena retomá-la. Por muitas razões. Sobretudo para a assumir num novo estilo de vida que é urgente podermos viver. Gostava de chamar a vossa atenção para este trecho, quase do final:
«Nem todos são chamados a trabalhar de forma directa na política, mas no seio da sociedade floresce uma variedade inumerável de associações que intervêm em prol do bem comum, defendendo o meio ambiente natural e urbano. Por exemplo, preocupam-se com um lugar público (um edifício, uma fonte, um monumento abandonado, uma paisagem, uma praça) para proteger, sanar, melhorar ou embelezar algo que é de todos. Ao seu redor, desenvolvem-se ou recuperam-se vínculos, fazendo surgir um novo tecido social local. Assim, uma comunidade liberta-se da indiferença consumista. Isto significa também cultivar uma identidade comum, uma história que se conserva e transmite. Desta forma cuida-se do mundo e da qualidade de vida dos mais pobres, com um sentido de solidariedade que é, ao mesmo tempo, consciência de habitar numa casa comum que Deus nos confiou. Estas acções comunitárias, quando exprimem um amor que se doa, podem transformar-se em experiências espirituais intensas» (n.232).
É o que este ano vos quero dizer. Há que “cuidar do mundo”, cuidando “da qualidade de vida dos mais pobres”. A solidariedade não pode permanecer no abstracto, se temos «consciência de habitar numa casa comum que Deus nos confiou». A missão da Cáritas é despertar para esta solidariedade no concreto, comprometidos que estamos na transformação do mundo em que vivemos para que seja, cada vez mais, uma terra de irmãos. Para que juntos vivamos verdadeiramente numa só família humana.