Mensagem da Cáritas Portuguesa às Cáritas Diocesanas de Dili e de Baucau
Queridos irmãos,
Se há acontecimentos paradoxais no mundo, os conflitos armados que se geram, entre concidadãos, dentro dos próprios países são um exemplo por excelência. A fractura de populações que têm um passado comum, que contribuíram para a mesma História e que deveriam querer o melhor para a sua Pátria não é facilmente compreensível, para quem acompanha, de forma, tais acontecimentos. Mas, infelizmente, é o que acontece em muitos Países e culturas.
Em Timor-Leste também? – A Caritas Portuguesa, interpretando o sentimento de todas as Cáritas diocesanas, tem esperança de ainda ir a tempo de afirmar: Não! E queremos contribuir para isso, como fizemos noutros momentos da história daquele país do sol-nascente.
Se o contributo para a construção da paz é dever de todas as mulheres e homens, ainda mais dos cristãos. Porque receberam, como maior legado do seu Deus, a Ele próprio que é Amor. E amar, para os cristãos, é amar “também os inimigos”. Foi esse um dos mais difíceis desafios que Jesus Cristo lançou a todos os que se disponibilizam a segui-Lo (cf. Lc 6, 27).
Esta “Regra de Ouro” fundamenta a paz, a construção da cidadania, a promoção da justiça. É nessa regra que se alicerça uma atitude nem sempre em sintonia com a natureza humana: a capacidade de perdoar.
Na Mensagem para a Quaresma deste ano, os Bispos de Timor-Leste sugerem o perdão como o caminho para a pacificação da sociedade timorense. Convidam “os filhos e as filhas de Timor – Leste a promover o perdão e a reconciliação em todos os níveis”, nas famílias, nos locais públicos, na sociedade. “Deste modo, toda a nação evitará toda forma de violação da vida e da dignidade humana e poderá construir uma cultura da vida e da paz”.
Seguindo com atenção a história contemporânea de Timor-Leste, a Caritas Portuguesa manifesta a sua preocupação e apela aos cristãos que dêem o primeiro passo. Para isso é necessário muita coragem. Numa jovem democracia, que se vê invadida de um clima de guerrilha interna, onde os comportamentos individuais e de grupos se fundamentam na reacção sem qualquer reflexão e não têm em conta o futuro do País, é necessário que apareçam sinais de maturidade pessoal e social; é necessário afirmar que os problemas não se resolvem com o recurso à violência; é necessário demonstrar que vale a pena renunciar ao bem pessoal para dar lugar ao bem comum, ao bem comum dos timorenses e de Timor-Leste.
Com os Bispos de Timor-Leste, a Cáritas Portuguesa afirma: “Em nome de Deus, que durante o tempo da Quaresma nos chama a realizar a viagem de uma autêntica conversão ao amor de Cristo, nós fazemos um apelo especial para que triunfe a não-violência”.
Lisboa, 9 de Março de 2007
O Presidente da Cáritas Portuguesa
Eugénio José da Cruz Fonseca