SEMANA NACIONAL CÁRITAS?
A Semana Nacional Cáritas é uma iniciativa que junta toda a rede Cáritas em Portugal e que acontece todos os anos na semana que antecede o Dia Nacional Cáritas, que se assinala no 3º domingo da Quaresma. É uma semana durante a qual se procura evidenciar a ação da Cáritas no combate à pobreza e exclusão social. Em todo o país, multiplicam-se atividades de reflexão sobre a ação social, atividades de animação pastoral e também iniciativas de angariação de fundos, particularmente o Peditório Público Nacional onde participam anualmente cerca de 4 mil voluntários apelando ao contributo de todos os portugueses como forma de expressarem a sua solidariedade com todos os que atravessam um momento de vulnerabilidade e, por isso, procuram a ajuda da Cáritas.
No primeiro semestre de 2020 sentimos um aumento de 27 por cento nos pedidos de apoio que, anualmente, ultrapassam já as 100 mil pessoas. Criámos uma resposta especifica para os que viram os seus rendimentos afetados pela COVID-19 e respondemos a mais de 8 mil pessoas. Para além do atendimento social, mantivemos em funcionamento as principais respostas sociais que chegam a mais de 40 mil pessoas: creches, cantinas sociais, centros de dia, lares, apoio domiciliário, acolhimento temporário de crianças em situação de risco, comunidades de inserção, acolhimento para sem abrigo, apoio a vítimas de violência doméstica, etc
CÁRITAS: O AMOR QUE TRANSFORMA
“Cáritas é amor”
Como sabemos, a palavra latina “caritas” foi inventada para traduzir o termo grego “agápê”. Significa um amor que se dá, sem esperar recompensa.
“Caridade” (diretamente transposto para português) ou “amor” – neste sentido forte – é, na feliz expressão de alguns teólogos, o nome dado a uma liberdade que torna mais livre a vida dos outros, o nome dado a uma vida entregue que torna mais viva a vida dos outros.
Neste ano, focamo-nos no centro da Cáritas: o amor traduzido no cuidar do outro.
Como proferi na homilia da Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus (1 de janeiro de 2020), «cuidar da pessoa humana é cuidar da sua saúde, educação, ambiente familiar, trabalho, espiritualidade, ideais com objetivos positivos, sentido do bem comum, em espírito de solidariedade, onde haja lugar ao perdão e à festa».
Nessa altura, fiz notar «a inquietante falta de respeito pela vida humana, a falta de educação e formação da consciência, a violência dentro do espaço familiar, a falta de respeito para com as crianças e outros comportamentos que corrompem o tecido social, mostram ao cidadão comum que o êxito económico empresarial não é suficiente para o desenvolvimento e bem-estar da sociedade em que queremos viver».
O amor é possível e necessário para pensar a sociedade, partindo sempre da pessoa humana. Como escreveu o Papa Francisco, “o amor autêntico é sempre contemplativo, permitindo-nos servir o outro não por necessidade ou vaidade, mas porque ele é belo, independentemente da sua aparência” (EG 199)
“Cáritas é amor” neste sentido forte. Corresponde a um olhar novo.
«Todos somos verdadeiramente responsáveis por todos» (SRS, 38).
O apelo que faço ao concluir esta Mensagem foi também formulado naquele Dia Mundial da Paz: «Sintamo-nos responsáveis pela sociedade em que vivemos e participemos em reflexões de aprofundamento que levem a atitudes, segundo princípios e valores de defesa do bem comum. Os cristãos devem estar na linha da frente, no interesse pelo bem da sociedade em que vivem». Porque “Cáritas é amor” e o amor é criativo, é desejável que a semana Cáritas seja uma oportunidade para crescer em reflexão e ação.
Mensagem de:
+José Traquina, Bispo de Santarém
Presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana (2020)