Mensagem do Presidente da Cáritas Portuguesa aos participantes das Jornadas Transfronteiriças “Pobreza e Desenvolvimento”
Como gostaria de ter participado nestas I Jornadas Transfronteiriças que vos congregaram em torno de uma tema, tão complexo mas bastante desafiador às capacidades de todos os que acreditam que “Outro Mundo é Possível”, tal são os temas da pobreza e do desenvolvimento. Duas realidades antagónicas, mas que se condicionam uma à outra. Razões de saúde, que me obrigaram a transferir, temporariamente, para a Dr.ª Isabel Monteiro, as minhas funções, impediram-me de dar o meu modesto contributo e, sobretudo, de me enriquecer com as muitas reflexões que cada tema suscitou, a partir da experiência adquirida e da partilha de vidas germinadas na feliz utopia de transformar as vidas de outros que são vividas nas “fronteiras” do progresso e do desenvolvimento.
Por isso, foi significativo que estas Jornadas tivessem decorrido durante a Semana Nacional da Cáritas que, na senda do lema escolhido para assinalar o Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos – Para uma Sociedade Justa, a Cáritas interpela os portugueses, muito em particular os cristãos, para tomarem consciência de que a dignidade de qualquer ser humano estará sempre condicionada às oportunidades que lhe forem proporcionadas. Em Portugal, pelo menos para 20% dos seus cidadãos, o acesso às indispensáveis oportunidades para sobreviverem com alguma dignidade, não têm passado de meros propósitos, alguns vertidos em diplomas legislativos e programas específicos de luta contra a pobreza, como o recente Plano Nacional de Acção para a Inclusão, mas sem resultados que alimentem a esperança de se alcançarem os objectivos almejados.
Escrevi na mensagem que dirige, esta semana, à sociedade portuguesa, e muito em particular à Igreja que, e cito, “O Estado, parece não ter capacidade de resposta para estas questões de desigualdade. Importa que seja a sociedade a dar mostras de querer empenhar-se na construção de um tempo novo. Por isso, nunca, como agora o ideário cristão é tão premente, tão actual, sobretudo se for capaz de fazer com que “a actividade caritativa da Igreja mantenha todo o seu esplendor- como diz Bento XVI na “Deus Caritas Est”- e não se dissolva na organização assistencial comum, tornando-se uma simples variante da mesma.”. Estou feliz, Presidente da Cáritas Portuguesa, que a Caritas Diocesana de Salamanca e a minha querida Cáritas Diocesana da Guarda, com a competente parceria da Universidade da Beira Interior, o apoio do Programa Operacional Emprego, Formação e Desenvolvimento Social (POEFDS) e a solidariedade cooperante das Cáritas Espanhola e da Portuguesa, se tivessem unido para, em espírito de fraterna comunhão, pensarem, programarem e concretizarem iniciativas que visem combater problemas comuns às Cáritas que se situam em zonas geográficas que tocam a raia de dois países tão próximos territorialmente, mas ainda mais pela mesmo ideário de serem samaritanos, mesmo sentindo-se “estrangeiros na sua própria “casa” e na sua própria “terra”, se recusam a passar ao lado dos que estão prostrados nas beiras dos ínvios caminhos da vida. Os recursos humanos e económicos serão, decerto, diferentes, mas, estou convencido de que este será o obstáculo mais fácil de ultrapassar, porque confiante de que a providência de Deus não descuidará de nos ajudar para que, também, entre Cáritas se cumpra o lema da Cáritas Portuguesa para esta sua semana: “Pela dignidade, igual oportunidade”.
Estou ansioso por conhecer as conclusões, deixando, desde já, o meu compromisso de tudo fazer o que estiver ao nosso alcance para que nenhuma caia, como dizem os portugueses, “ em saco roto”.
Quero agradecer, com todas as forças da minha alma, a todos os que tornaram possível esta realização, pedindo-lhe que continuem animados a prosseguir, com o mesmo sonho dos que sabem, como o poeta espanhol, “que é caminhando que se faz caminho” e reforcem o vigor que têm demonstrado até aqui.
Sei que não vos faltará a bênção de Deus derramada sobre vós por cada um dos Bispos das vossas Dioceses, sendo certo que, como primeiros responsáveis deste Serviço da Igreja, que é a Cáritas, e artífices da verdadeira comunhão eclesial, estarão sempre na linha da frente de todas as iniciativas que vierem a ser assumidas.
Deixo um abraço muito fraterno a todos os participantes, espanhóis e portugueses, mas permitam-me que manifeste o meu apreço afectuoso por D. Manuel Felício, primeiro impulsionador desta ideia do fortalecimento do diálogo fronteiriço; pela Dr. Isabel Varandas e Dr. Paulo, dinâmicos animadores desta iniciativa e os Professores Doutores Pires Manso e João das Neves que sabem que uma Universidade só será competente e cumprirá a sua missão, na medida em que vivenciar o que ensina na vida concreta do meio humano, económico, cultural, social e religiosa em que se situa.
Mas abraço também com aquele amor que “brota do coração de Cristo” os meus irmãos da Cáritas Espanhola e a Cáritas Diocesana de Salamanca. Aos representantes desta última não tive, infelizmente, a possibilidade de encontrar, mas saibam que os considero por tudo o que me tem chegado acerca do vossa dedicação a esta e a muitas outras causas a favor de uma sociedade mais de acordo com o Projecto Salvífico do nosso Deus.
Por último, confio os bons resultados destas Primeira Jornadas à intercessão de Nossa Senhora, a Mulher que percorreu caminho íngremes e atravessou montanhas para ir ao encontro dos que necessitavam da sua solidariedade, e não se recusou, mesmo trespassada de dor, a subir ao Calvário para acompanhar o seu amado Filho na entrega total da Sua vida por todos os que viviam na fronteira da vida, separados por “muros” levantados pelo poder político e religioso.
A todos desejo um feliz regresso a vossas casas e à missão de servir os irmãos.
O Presidente da Cáritas Portuguesa
Eugénio José da Cruz Fonseca