Comunicado da Comissão Permanente da Cáritas Portuguesa
Cáritas pede ao governo empenho na criação e manutenção de emprego, e apoio para os que, o tendo perdido, possam criar o seu próprio posto de trabalho.
Comunicado da Comissão Permanente da Cáritas Portuguesa
Era bom que estivéssemos errados. Infelizmente para o país e para os portugueses, a Cáritas teve razão quando já, a três de Maio do ano passado, denunciou, através da sua Comissão Permanente, a situação de crise que se anunciava com gravidade. A Cáritas fê-lo, conscientemente, a partir da informação recebida de instâncias internacionais credíveis e do conhecimento adquirido no terreno, paróquia a paróquia, diocese a diocese.
As preocupações manifestadas em Maio passado, são agora redobradas pelos ecos que nos chegam do Portugal profundo e que nos falam de famílias amarguradas pelo desemprego, pelos salários em atraso, pelo aumento do custo de vida e pelas notícias preocupantes que todos os dias fazem manchetes nos jornais e são tema de abertura nos telejornais.
No entanto, é em tempo de crise maior que se vê a verdadeira generosidade das pessoas. E os portugueses sempre souberam oferecer-se quando as situações assim o exigem. Desta vez, estamos certos de que isso irá repetir-se. Todavia, para que os portugueses possam percorrer, com esperança, estes caminhos difíceis, impõe-se que os poderes públicos criem as condições efectivas e atempadas conducentes à revitalização da economia.
Contudo, é necessário que a atenção dedicada à dinamização da economia não deixe esquecidas as preocupações concretas e quotidianas das famílias atingidas pela crise, bem como o apoio às pequenas e médias empresas, pois nelas reside o verdadeiro fortalecimento do tecido económico.
É ainda da mais elementar justiça apoiar todos aqueles e aquelas que por perda de emprego ou por endividamento excessivo vivem no desespero, muitos deles e delas vítimas de uma cultura consumista desregulada que promove o ter em detrimento do ser.
Outro motivo de preocupação e mais um indicador da gravidade desta crise é a falência da classe média que contribuiu para o recrudescimento da designada “pobreza envergonhada”. São cada vez mais as famílias desta classe social que recorrem à ajuda fraterna das comunidades cristãs e de outras instituições, encontrando aí as respostas possíveis às suas mais elementares necessidades.
A Comissão Permanente da Cáritas Portuguesa pede à classe política que crie condições para o reforço dos meios dissuasores de falências oportunistas e fraudulentas. Pede ainda todo o empenho na criação e manutenção de emprego, não excluindo o apoio aos que, o tendo perdido, possam criar o seu próprio posto de trabalho. O recurso ao crédito bancário com bonificações decrescentes das taxas de juros deverá ser, para o efeito, a opção a tomar.
Mas é preciso ir mais longe. É preciso que todos se apercebam que esta crise teve origem no homem que fez da ganância a sua cartilha de valores, no egoísmo que só se satisfaz na busca da riqueza, na aquisição de bens supérfluos, na vida superficial, sem valores espirituais nem solidariedade.
Para a superação da crise, a Cáritas reafirma que hoje, como sempre aconteceu, continuará presente, em cada diocese, em cada paróquia, junto de todos os homens e mulheres de boa vontade, para ajudar todos os que estão verdadeiramente empenhados em construir uma sociedade mais humana e mais justa.
É preciso que todos nos mantenhamos vigilantes e empenhados na superação da crise. A própria Democracia o exige. Mas porque os tempos são tão preocupantes, é preciso que haja uma resposta solidária e invulgarmente forte. É nos momentos mais difíceis que se vê a verdadeira alma de um Povo.
Fátima, 7 de Fevereiro de 2009