Igreja de Lisboa cria emprego para os mais pobres
Reforço do apoio alimentar, promoção do emprego e dos cuidados de saúde continuados. Cardeal-Patriarca reúne-se na sexta-feira com padres de Lisboa para divulgar estas medidas de apoio às famílias.
A Igreja de Lisboa vai criar postos de trabalho nos centros sociais e paroquiais e quer fazer protocolos com os centros de emprego e formação do Estado. Esta é uma das medidas de combate à crise, que afecta cada vez mais famílias, que serão apresentadas aos padres da diocese lisboeta na sexta-feira, num encontro promovido pelo patriarca, D. José Policarpo.
A curto prazo, a acção urgente do projecto “Igreja Solidária” passa pelo reforço da ajuda alimentar e pelo apoio às famílias no pagamento de créditos à habitação. Para isso, já começaram a ser angariados alguns fundos.
“Há muita gente a precisar de emprego e as instituições precisam de pessoas para trabalhar”, afirmou ao DN Francisco Crespo, director da pastoral sociocaritativa do Patriarcado de Lisboa. Para além do trabalho nos centros sociais e paroquiais, que cresce à medida que sobem as necessidades das famílias, a Igreja está a estudar o alargamento das valências de algumas instituições, que necessitarão, assim, de mais funcionários.
Outra medida, ainda em estudo e que avançará apenas numa segunda fase do projecto, passa pelo estabelecimento de protocolos com o Instituto de Emprego e Formação Profissional para a criação de empregos “para quem mais necessita”, explica o cónego Francisco Crespo.
No futuro, o patriarcado pondera avançar com a construção de equipamentos de prestação de cuidados de saúde continuados a nível paroquial, para libertar camas nos hospitais, actualmente ocupadas por alguns doentes que podem ser acompanhados noutras instituições. Neste momento, estão já a decorrer contactos com o Ministério da Saúde.
A prioridade actual passa, contudo, por dar de comer a quem tem fome, sublinha o responsável do Patriarcado de Lisboa, referindo que as paróquias têm sentido muito o aumento da crise e da procura de ajuda. “Temos cada vez mais gente a bater-nos à porta e sabemos que isto não vai acabar,” diz Francisco Crespo.Em articulação com a Cáritas diocesana, pretende-se reforçar o serviço de refeições nos centros sociais e aos idosos que vivem sozinhos, o acesso aos cuidados de higiene e a distribuição de roupas. Outra prioridade é apoiar as pessoas no pagamento dos créditos à habitação e das rendas, para que não percam o direito à sua casa.
“As situações serão estudadas caso a caso. O objectivo é envolver ao máximo as comunidades locais e, quando isso não for possível, encaminhar os pedidos para a Cáritas diocesana que não dará ajuda directamente às pessoas, mas apoiará quem está no terreno”, explica Francisco Crespo. Para financiar estas acções, o projecto conta já com mais de dez mil euros – uma verba ainda insuficiente -, mas o grupo coordenador da diocese está já a recolher contributos monetários junto das empresas e da banca. Serão ainda lançadas campanhas de recolha de fundos, nomeadamente através da Rádio Renascença, apelando à generosidade de todos.
O desafio lançado por D. José Policarpo aposta numa maior responsabilização dos padres na missão de ajudar os pobres. Por isso, e em ano de crise, para o encontro que anualmente costuma reunir apenas os responsáveis dos centros sociais foram convocados todos os párocos, mesmo os que não têm a seu cargo instituições de acção social, apurou o DN. Estes deverão ir acompanhados por um leigo da sua paróquia. Actualmente, ainda há paróquias sem centros de apoio social.
O encontro do clero decorrerá na manhã de sexta-feira, no Centro de Espiritualidade do Turcifal, em Torres Vedras, onde haverá também um espaço de partilha de experiências que já estão a correr nas paróquias. O Projecto Igreja Solidária será apresentado pelo departamento da pastoral socio-caritativa aos padres e bispos e entrará imediatamente em vigor, não tendo data para terminar, uma vez que não se antevêem sinais de retoma económica.
Francisco Crespo considera ainda que, na área social, a prioridade tem de passar também pela aposta na formação dos técnicos que trabalham nas instituições, pois a Igreja “não pode ajudar por ajudar, nem apenas abrir os cordões à bolsa”. Fazer melhor acção social, acrescenta, passa por fazer um levantamento mais rigoroso das necessidades das pessoas, responsabilizando-as na construção do seu futuro, e dando respostas mais integradas.
Fonte: Diário de Notícias