Cáritas Portuguesa parte do Sri Lanka com reforço da cooperação
A Cáritas Portuguesa visitou projectos e benficiários. No final desta visita ao Sri Lanka assinou um memorando para continuar a apoiar comunidades que, além do tsunami, sofreram com a guerra.
Nesta passagem pela terra dos “peixes que cantam”, Batticaloa, a Cáritas Portuguesa visitou Sílvia beneficiária do apoio da Cáritas. No dia 26 de Dezembro de 2006, Sílvia viu partir amigos e vizinhos. A sua casa, o seu modo de vida, a educação dos seus filhos pareciam fugir com o esvaziar das ondas. Sílvia, juntamente com muitas das famílias de Dutch Bar, pequena península entre o mar e a lagoa da cidade, foi viver para o campo de deslocados da Paroquia de S. Inácio e, durante um ano, viveu num abrigo que agora serve de armazém à paróquia. Além da construção da habitação, foi-lhe concedida um empréstimo para que iniciasse o seu negócio de costura, competência que já possuía antes e à qual se dedicava em pequena escala. Hoje produz para vários clientes e até pede ajuda para fazer face às encomendas. Com algum do dinheiro, proveniente do trabalho, já conseguiu ampliar a casa e é neste local que costura e engoma as suas criações.
Jude Prince Hendrick viveu uma situação semelhante. Agora tem uma pequena oficina nas traseiras da sua casa. Jude pertence à comunidade Burgher, descendentes dos portugueses que em 1505 chegaram ao Sri Lanka. Ao lhe pedirmos para falar um pouco de crioulo Português Jude disse “Como tem passado?”. Apesar da clareza desta frase o português dos Burgher está hoje misturado com as línguas locais (Cingalês, Tamil e Inglês). Ao longo de 500 anos os Burgher Portugueses têm mantido a tradição e cultura mas a língua tem sido transmitida oralmente.
“O mar ficou diferente” conta-nos o Sr. Johnson, pescador de profundidade, também ele beneficiário da Cáritas. “O tsunami alterou o meio marinho e apesar de ter melhorado as minhas condições de pesca não consigo retirar mais proveito do mar do que antes da tragédia.” O pescado do Sr. Johnson, principalmente as lagostas, é encaminhado para Colombo e garante a subsistência da sua família. Recebeu da Cáritas um barco de pesca no mar, formação em gestão de negócios e equipamento de pesca submarina. Mergulha todos os dias mas “quando não há condições não vou, o que significa que nesse dia não recebo nada para alimentar a minha família” afirmou. Para ajudar ao rendimento que lhe advém da pesca desenvolveu um negócio de venda de peixes de aquário, actividade muito apreciada neste país.
Em Dutch Bar visitámos, também, a casa do Sr. Sebamalai que em 2004 perdeu dois dos seus quatro filhos. A Cáritas Batticaloa EHED construi casas de dois andares com alicerces mais profundos para servir de refúgio, no caso de ocorrer um novo tsunami. Recentemente, após um alerta de tsunami que não se consumou, o Sr. Sebamalai e a família não utilizaram o segundo andar como refugio. Fugiram porque o trauma persiste.
A comunidade não esquece o que se passou e com o contributo dos residentes ergueu, em Kaladi Beach, um monumento aos familiares e amigos que morreram.
No final da visita ainda foi possível ver o complexo habitacional que a Cáritas Batticaloa EHED construiu em Mylambavely, algumas delas, com a ajuda da Cáritas Portuguesa. Este complexo fica mais afastado da zona costeira, num local de realojamento disponibilizado pelo governo do Sri Lanka.
No regresso a Colombo, a Cáritas Portuguesa assinou um memorando de entendimento com a Cáritas do Sri Lanka para a construção de 88 habitações, a distribuição de 80 barcos de pesca e o apoio a 132 famílias, para que estas desenvolvam meios de subsistência próprios. Este programa, orçamentado em 650.000,00 €, irá ocorrerá durante um ano na zona norte do Sri Lanka e dedica-se a famílias deslocadas pelo tsunami e pela guerra.