Ambiguidades da Caridade
O termo “caridade” acarreta consigo “modos históricos de realização que a reduzem ao assistencialismo”, a afirmação é de Eugénio Fonseca, ontem, em Ponta Delgada onde participou nas festas do Divino Espírito Santo. Numa conferência sobre o “O dom da Caridade” o presidente da Cáritas Portuguesa apontou as duas principais ambiguidades que põem em perigo a “verdadeira” caridade: “confundir caridade com ‘bem-estar’ ou mera esmola e dissociar a caridade da justiça”.
Recordando o contexto que se vive não apenas em Portugal ou na Europa devido à crise financeira e económica, mas olhando à humanidade que “vive hoje uma nova fase”, Eugénio Fonseca apontou alguns desafios que se colocam à caridade. Entre eles está o equilíbrio entre aqueles que têm muito e os que não têm nada, “nunca o género humano teve ao seu dispor tão grande abundância de riquezas, possibilidades e poderio económico; e, no entanto, uma imensa parte dos habitantes da terra é atormentada pela fome e pela miséria, e inúmeros são ainda os analfabetos.”
Falando de caridade e liberdade, tão preservada hoje por todos e em todas as sociedades modernas, o presidente da Cáritas lembra que existem “novas formas de servidão social e psicológica”. “Ao mesmo tempo que o mundo experimenta intensamente a própria unidade persistem ainda agudos conflitos políticos, sociais, económicos, «raciais» e ideológicos”, que se apresentam hoje ao mundo e aos cristãos, como um desafio à caridade.
A participar nas tão particulares festas do Espírito Santo, Eugénio Fonseca não deixou de fazer um paralelismo entre a liberdade provocada pelo dom do Espírito Santo e a liberdade gerada pela verdadeira caridade. “Poucas coisas têm uma força tão irresistível como o gesto gratuito do dom, porque contradiz a lógica fria do lucro resultante da mentalidade actual do interesse e da eficiência. É um gesto de liberdade absoluta”.