D. Joaquim Mendes celebra Eucaristia na sede da Cáritas Portuguesa
Como motivação para a vivência do Tríduo Pascal e, em união na fé em Cristo Ressuscitado, celebrou-se, na sede da Cáritas Portuguesa, uma Eucaristia evocativa da Paixão e Ressurreição de Cristo.
Presidida por D. Joaquim Mendes, Vogal da Comissão Episcopal da Pastoral Social e da Mobilidade Humana, nesta celebração participaram os membros da direcção e colaboradores da Cáritas Portuguesa, bem como alguns convidados, nomeadamente, o presidente do Tribunal Constitucional, Dr. Guilherme de Oliveira Martins, o presidente do Instituto Pe. António Vieira, Dr. Rui Marques, o Dr. João Teixeira, em representação do CNE, entre outros.
Homilia
1. A nossa vida e a nossa missão são permeadas pela fé.
Vivemos e trabalhamos com uma perspetiva de fé e de esperança. À luz da fé concebemos o trabalho que realizamos como missão, como serviço a Deus, à Igreja e aos homens, particularmente aos mais necessitados.
Uma missão nobre, como é o serviço à caridade cristã.
É por isso que sentimos a necessidade de fazer uma pausa e celebrar a Eucaristia, para dar graças a Deus pelos dons recebidos, pelo trabalho realizado, por todo o bem que o Senhor realizou e realiza connosco e através de nós.
A Eucaristia é também escola de amor e de doação, de serviço e de entrega. Nela buscamos a força de Cristo e o sentido para a nossa entrega quotidiana na missão que o Senhor nos confiou.
Da fé e da relação com o Senhor nos vem o sentido da vida marcado por convicções e valores humanistas e cristãos, e a fecundidade do nosso trabalho.
Em cada Eucaristia são proclamados textos da Sagrada Escritura que iluminam, interpelam e nos ajudam a refletir sobre a nossa vida, nos seus diversos âmbitos: pessoal, familiar, profissional, eclesial e social.
Estamos na “Semana Santa” ou também chamada “Semana Maior”, porque nela celebramos os acontecimentos centrais da nossa salvação, que marcaram um novo tempo e dividiram a história no antes e depois de Cristo, um tempo novo, com novos horizontes de vida, de esperança e de eternidade.
2. Na primeira leitura escutamos um texto do profeta Isaías que apresenta a figura do “Servo do Senhor”, que os cristãos, mais tarde, após a morte e ressurreição Jesus, identificaram como figura e anúncio profético do Messias, de Jesus-servo.
Na descrição da figura do “Servo” podemos rever alguns traços do discípulo de Cristo, de cada um de nós, tais como o chamamento para a missão de “restaurar” e de “reconduzir” um povo disperso.
Também vós sois chamados a restaurar a esperança, socorrendo, ajudando, promovendo a solidariedade, a partilha, a fraternidade, sensibilizando para o empenho na construção do bem comum, contribuindo assim para reconduzir a humanidade a uma convivência pacífica.
Esta é também uma missão profética, que no texto bíblico é descrita com as comparações “espada afiada” e “seta aguda”: uma missão exigente, não de êxitos fáceis e imediatos, onde se pode experimentar, por vezes, o desânimo, o cansaço, o sofrimento e a desilusão.
Contudo, exercida numa perspetiva de fé, nela sente-se também o apoio incondicional de Deus, tal como o “Servo”, que testemunha: “o Senhor abrigou-me à sombra da sua mão”; “guardou-me na sua aljava”, confessando abertamente: “Deus é a minha força”.
4. O texto evangélico apresenta-nos Jesus o verdadeiro Servo, a luz das nações, que está para entregar a sua vida para reunir, restaurar, congregar a humanidade numa família de irmãos, uma missão de salvação de todos.
Como o Servo, descrito na primeira leitura, também a sua vida não teve aparentemente muitos êxitos. Concretamente o texto apresenta-nos a sua traição, por Judas e o anúncio da sua negação por Pedro, ambos do grupo dos apóstolos, dos seus amigos mais próximos e mais íntimos.
5. Olhando a nossa vida, à luz destes textos, também nós fomos chamados. Em primeiro lugar à comunhão com Deus, na qualidade, não já de servos, mas de filhos no Filho, que nos reconciliou e nos deu acesso ao dom da filiação divina.
Fomos chamados também a uma missão profética, que obriga, muitas vezes, ao recurso a um discurso duro, exigente, educativo, semelhante ao de “espada afiada” e a palavras como “flechas”, em nome da verdade, da justiça, da legalidade, dos valores humanos e cristãos porque nos pautamos.
Também a nossa missão nem sempre é marcada pelo êxito, mas nela também experimentamos, por vezes, o desânimo, o cansaço, a negação, e a traição.
6. Contudo, a palavra e a experiência do Servo e de Jesus garante-nos que o Senhor está connosco, “abriga-nos à sombra da sua mão”, “guarda-nos na sua aljava”, sobretudo no seu coração, porque Ele vê no oculto e recompensa sempre.
Penso que ao fazermos memória de tantos momentos difíceis da nossa vida, que foram ultrapassados também nós podemos exclamar: “Deus é a nossa força”. “Deus foi a minha força”!
Pode acontecer que em momentos de crise, de fadiga, de insucesso, nós nos perguntemos se vale a pena continuar a trabalhar e a lutar com empenho, dedicação, fidelidade. Sim, vale a pena continuar, porque o Senhor está connosco. É para ele que trabalhamos, para a edificação do seu Reino de vida, de verdade, de justiça e de paz.
Não pretendamos êxitos a curto prazo e sem o dom da vida, a entrega, a doação, o trabalho, o espírito de sacrifício e de perseverança. A vida nasce da vida. É a lógica do grão de trigo.
Falando de si, da sua própria experiência, sob a qual somos chamados a modelar a nossa, Nosso Jesus Cristo afirmou: “Se o grão de trigo lançado à terra não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto” (Jo 12,24).
7. A nossa vida, se vivida à luz da de Jesus Cristo, e como a de Cristo, será fecunda, dará muito fruto.
Praticar a caridade, promover a caridade, ser mediador da caridade, ser sinal e portador do amor de Deus no mundo, é uma missão nobre. E não há fruto mais belo do que, através dela, fazer nascer a esperança, a partilha, a solidariedade.
Ao prepararmo-nos para celebrar mais uma Páscoa, a festa da vida e da esperança, peçamos ao Senhor que nos ajude a ser profetas da vida que brota da sua ressurreição, percorrendo com Ele e como Ele o caminho da doação sem limites, da entrega até ao fim, do amor gratuito.
+ Joaquim Mendes
Bispo Auxiliar de Lisboa