Desemprego fonte de Pobreza e Exclusão Social
Os riscos com que se confronta o mundo são sistémicos e atravessam todas as civilizações. Estes riscos reclamam uma grande mudança civilizacional. Estamos confrontados com um potencial de destruição enorme, que temos muita dificuldade em compreender como se chegou a esta situação: existem armas nucleares capazes de destruir o mundo dez vezes; 2/3 da humanidade morre de fome ou vive na miséria; cada ano uma parte significativa da terra cultivada transforma-se em deserto; o fosso entre pobres e ricos aumenta em todos os continentes; a guerra emerge num número significativo de países; o mercado de trabalho rejeita cada vez mais “normais inúteis”; assiste-se ao fim da proteção do estado social.
Se não fossem as transferências de pensões de reforma e sobrevivência, em 2011, quase metade da população portuguesa estava em risco de pobreza. Com estas transferências, o risco diminuiu cerca de 20 pontos percentuais.
A crise e o aumento do desemprego por ela originado estão a ter reflexos nas taxas de pobreza em Portugal, como comprovam os dados relativos ao ano já referido, apresentados pelo INE. O risco de pobreza para a população em situação de desemprego aumentou 2,3 por cento, passando a ser de 38,3 por cento. Já a proporção dos apoios sociais na redução da taxa de risco caiu 0,1 por cento.
Embora o abaixamento e perda de rendimentos da população portuguesa tenha vindo a fazer decrescer os indicadores sobre o limiar de pobreza, o limiar desceu dos 5.046€ anuais para os 4.994€. Quanto menor for o rendimento, mais perto se fica da situação de pobreza e, em 2011, esse índice caiu um por cento, baixando dos 421 para os 416€ de rendimento mensal.
O INE revela ainda que, enquanto há mais gente próxima de ser ‘oficialmente’ pobre, os ricos têm cada vez mais reservas. O coeficiente de Gini, índice que mede o distanciamento entre os mais ricos e os mais pobres, subiu para os 34,5 por cento, dos 34,2 de 2010 e dos 33,7 por cento registados em 2009.
De facto, o trabalho e o rendimento que dele decorre é a primeira “política de inserção” O desemprego entre os mais jovens voltou a aumentar segundo os recentes dados do INE. A taxa de desemprego global foi de 17,7% no 1º trimestre do ano, de 42,1% entre os jovens dos 15-24 anos e de 21,3% entre os 25-34 anos (2013).
Há, segundo estes dados oficiais, mais 43 mil e 800 pessoas em situação de desemprego, em relação ao mesmo trimestre de 2012, e o número de desempregados ascende aos 952 mil e 200, de acordo com o Inquérito ao Emprego, realizado nestes meses.
A economia não está a gerar suficiente emprego e a qualidade do trabalho gerado também parece insuficiente. Na Europa em todos os países há perdas de emprego e onde cresce é frequentemente em part-time (involuntário) e muito emprego é informal. O número de pessoas que está desempregada há mais de um ano cresceu em quase todos os países em muitos casos significativamente.
O Trabalho é essencial para a coesão social mas hoje as políticas estão mais assentes no aumento da competitividade e na regulação financeira do que na criação de emprego. Desde o início da crise os rendimentos reais do trabalho aumentam menos do que o justificaria os ganhos de produtividade tendo como consequência um crescimento das desigualdades.
A ausência de trabalho está a gerar forte agitação social num número significativo de países. Um aumento significativo do mal-estar está a afirmar-se e nota-se que em 82 países nos quais há informação mais de 3/4 dos interrogados indicaram que a sua qualidade de vida está em declínio. Entre os que estão empregados em 71 países mais de 2/3 consideram-se agora menos satisfeitos com o trabalho.
Em resumo, adoptando políticas de criação de emprego reforça-se a coesão social e recupera-se a economia. Isto requer cuidadosas políticas fiscais para sustentar emprego de longa duração, esforços para reforçar as ligações entre emprego e produtividade, orientando a economia para a vida real. Como referem muitos, a crise poderá uma ocasião para construir novos equilíbrios na economia mundial.
Porém, é cada vez mais nítido que o que está em causa não é apenas a economia, mas a cultura e a urgência de fazer evoluir a consciência e a visão ética do mundo que urge reconstruir.