Crianças precisam de comunidades mais esclarecidas
Neste tempo de profunda crise que o nosso país está a viver, temos todos os que fazemos parte da Cáritas a plena consciência de que as crianças são uma das faixas da população mais atingidas pelas privações que a dita crise acarreta. Ao celebrarmos mais um Dia Mundial da Criança, queremos manifestar uma preocupação muito particular para com a situação da infância no nosso país, afectada pela circunstância económica e social em que nos encontramos e pela angústia em que vivem milhares de famílias portuguesas.
Não cabe aqui enunciar todas as carências e problemas que afectam as crianças portuguesas, quer devido à situação familiar, profundamente abalada, quer pelo abandono ou ausência de uma família. Todos os dias a comunicação social traz informação, dolorosa, sobre esta realidade. O que se torna urgente é aproveitar o Dia Mundial da Criança para uma tomada de consciência do que é necessário fazer se queremos, de facto, mudar a condição da infância no país. A pobreza no nosso país é, como explicam todos os estudos recentemente publicados, um fenómeno prevalente e estrutural, agravado sem dúvida pela atual crise e que afecta particularmente as crianças; e muitas crianças que não vivem em situação de privação económica sofrem de solidão, desgaste psíquico e abandono pois os pais e familiares não podem ou não sabem superar as tensões do quotidiano. As instituições que cooperam com a família desempenham um papel crucial em relação a estas situações e as que têm um Projeto Educativo cristão são duplamente importantes.
Se queremos cumprir com o que merecem as crianças de hoje e se de facto pretendemos que algo mude no rumo que lhes está a ser dado, temos que unir ideias e esforços no sentido de criarmos comunidades locais mais esclarecidas e atentas, favoráveis a um desenvolvimento físico, social e espiritual harmonioso e feliz. Eis algumas sugestões:
Esclarecer – Informar não basta, é necessário promover debates e assegurar que pais, famílias, educadores entenderam a informação e sabem procurá-la. Também urge desmontar a informação deturpada e tendenciosa, especialmente nas comunidades menos escolarizadas.
Capacitar – Ajudar a que crianças e seus familiares adquiram competências, saberes e capacidades específicas que lhes permitam saír do ciclo vicioso da pobreza e tornarem-se cidadãos participantes e felizes. Saber lidar com as tarefas do quotidiano é essencial em todas as idades e passa por aspectos tão simples como elaborar um orçamento doméstico, uma ementa nutritiva mas económica ou ajudar os filhos a planearem o trabalho escolar.
Empoderar – Contribuir para que as pessoas se orientem na sociedade em que vivem, conheçam e usem os direitos, serviços, recursos e leis existentes que dizem diretamente respeito à criança. Só assim poderão tomar em mãos o seu destino e assegurar o progresso dos seus filhos. Paralelamente aprofundar a responsabilidade social conhecendo os deveres que a paternidade impõe e o papel de cada cidadão na garantia do bem de todos.
Terminamos citando uma afirmação do Papa Francisco neste tempo de Pentecostes, em catequese proferida no Vaticano a 8 de Maio:
“O Espírito Santo traz aos nossos corações a própria vida de Deus, uma vida de verdadeiros filhos, num relacionamento feito de confidência, liberdade e confiança no amor misericordioso do Pai, que nos dá também um olhar novo sobre os outros, fazendo-nos ver neles irmãos e irmãs que devemos respeitar e amar”
Não há melhor guião para (re)pensar o cuidado das nossas crianças.