O trabalho como construção do bem comum
O 1º de maio assinala o dia do trabalhador e neste dia lembramos os direitos fundamentais dos trabalhadores sendo que o primeiro é o acesso ao trabalho e à sua manutenção. Bento XVI, a propósito da Jornada Mundial da Paz, janeiro de 2013, falava deste “direito ao trabalho” como sendo um dos mais ameaçados na atualidade.
A verdade é que a taxa de desemprego, em Portugal, nunca foi tão elevada como é hoje. Mesmo que a referência sejam os valores fixados oficialmente e que revelam uma percentagem acima dos 17%. Isto quer dizer que o acesso ao trabalho está a ser negado a muitos cidadãos que vêm assim as suas vidas atiradas para o beco da exclusão social. É que não ter trabalho, para além da perda de rendimentos financeiros, é ainda perder estatuto social e isto acontece porque na sociedade atual mede-se o sucesso em função da capacidade de consumir e produzir riqueza. Apenas os que são “ativos” e que “produzem” têm valor e lugar social. Isto faz com que os que vêm a sua atividade limitada por via do desemprego se sintam colocados nas periferias da participação cidadã. A imagem de “fracasso” está desde sempre associada aquele que por alguma razão perdeu o seu emprego. A crise que vivemos veio agudizar esta realidade. Veio colocar muitos portugueses e portuguesa cara-a-cara com situações que nunca esperariam viver ou ver viver de perto. Muitos mesmo não tendo falhado no plano pessoal sentem-se derrotados. Para estes o governo e a sociedade civil têm de encontrar novas respostas. Não podemos esperar que os programas e planos de combate ao desemprego sejam hoje os mesmos que eram há 5 anos. As pessoas e os problemas que carregam consigo não são as mesmas e as causas são também muito diferentes. Não é só a falta de trabalho que retira dignidade à vida, é a falta de horizontes e de perspetivas.
É preciso estabelecer novas dinâmicas de organização da própria sociedade e renovar a capacidade de correr riscos. Encontrar novas formas de dignificar o trabalho porque também entre os que estão na vida ativa têm direito a mais do que um posto de trabalho e uma remuneração. Têm direito à segurança e a poder viver as suas vidas em liberdade e tranquilidade. O mundo laborar vive hoje debaixo de um sentimento de medo que condiciona e obriga a aceitar todas as regras e todas as imposições. Não podemos permitir que isto aconteça. Não podemos permitir que ter um emprego, seja ele qual for e em que condições, se torne uma atitude de resignação.
Assinalar o dia do trabalhador é lembrar a empregadores e empregados e a governos e sociedade civil as suas responsabilidades, direitos e deveres. É exaltar as dimensões da liberdade, equidade e subsidiariedade.
Neste dia, a Cáritas quer manifestar a solidariedade a todos os que estão sem trabalho ou o têm, mas não recebem salários, assegurando a todos que não cruzará os braços na procura de caminhos que levem Portugal a ser um país de maior justiça social, alicerçada no sentido do bem comum para a construção do qual ninguém está dispensado.