“Pacem in Terris”: 50 anos
Assinalam-se hoje os 50 anos da publicação da Encíclica ‘Pacem in Terris’. Exercício de memória, obrigatório para salvaguarda do passado, é obrigatório mas que o presente seja efetivamente “dádiva” da oportunidade vivida e o futuro caminho que se quer trilhar na senda da transformação. Celebrar 50 anos de “Pacem in Terris” é lembrar o muito que já caminhámos enquanto Igreja e enquanto homens e mulheres empenhados em ser contributo para o Mundo Novo.
Deste texto, escrito a 11 de abril de 1963, por João XXIII, evidenciam-se três linhas de reflexão: a afirmação dos Direitos Humanos e a conjugação entre direitos e deveres; a solidariedade entre todos os povos, criando-se inclusive uma autoridade mundial para este efeito (ONU); compromisso dos cristãos para com as questões “terrestres”.
A partir destes três pontos de leitura, que não esgotam a importância do documento no seu todos, percebemos que este foi um marco na história da humanidade e também na história da Igreja, como instituição, e na vivência pessoal dos cristãos.
“Quando as relações de convivência se colocam em termos de direito e dever, os homens abrem-se ao mundo dos valores culturais e espirituais, quais os de verdade, justiça, caridade, liberdade, tornando-se cientes de pertencerem àquele mundo.” (Pacem in Terris,39).
O momento que vivemos dá-nos a oportunidade de olhar para este texto e a partir dele fazer a “refundação” daquilo que é hoje a sociedade, a política e económica e, também, a própria Igreja. O Papa Francisco colocou-nos, ele próprio, nesse caminho de renovação de identidade. Hoje, como há cinquenta anos, levantam-se aos países e aos povos questões graves de cisão e de conflito. São questões de âmbito político mas também de origem económica, financeira e de justiça.
Hoje, como há 50 anos, continuam a existir povos sem acesso aos direitos básicos e, em muitos casos, aos direitos políticos. Também a própria ONU deverá fazer a avaliação da sua missão à luz daquilo que foi escrito há 50 anos. Continua a haver sinais de predomínio de um sistema que privilegia a riqueza e os próprios cristãos deverão ser capazes de agarrar este momento social, mais até do que político e económico-financeiro, para verdadeiramente se envolver nas questões sociais mas de uma forma que deverá ser de estreita colaboração, cooperação e articulação.
Formulamos votos para que, ao assinalar este aniversário e vivendo o mundo e a Igreja um período tão forte de “recomeço”, se retomem as orientações que emanam desta Encíclica que mudou o pensamento da Igreja e a sua forma de estar no mundo na leitura dos “sinais do tempo”.