Unidos no amor, juntos contra a fome
A fome é a manifestação mais básica da pobreza e da violação de um direito humano essencial já que ele diz respeito não apenas ao direito à alimentação, mas também ao direito a uma vida digna. O direito à alimentação é uma questão de justiça e, por isso, a Cáritas revê-se nas palavras do Papa Emérito Bento XVI, no seu discurso na FAO, durante a Cimeira Mundial sobre Segurança Alimentar – “a fome é o sinal mais cruel e concreto da pobreza”.
Sabemos que, em números gerais, mil milhões de pessoas em todo o mundo passa fome. Estamos a falar de uma em cada sete pessoas. O número é ainda maior se pensarmos em todos os que sofrem de forma escondida os efeitos da pobreza.
A Organização Mundial de Saúde estima que cerca de 60 por cento de todas as mortes de crianças nos países em desenvolvimento estão associados a situações de fome crónica e má nutrição. Embora alguns fatores indiquem que este é um número que está a diminuir a verdade é que a população mundial está aumentar e a tornar-se mais urbana e isto traz implicações na capacidade de sustentabilidade também ao nível alimentar. Este é, aliás, um dos maiores desafios no que diz respeito à segurança alimentar. Basta pensarmos que o aumento de população exige um aumento dos recursos naturais e que o facto desta população se estar a tornar mas urbana levará também a alterações na dieta alimentar da população. Continuando neste ritmo de crescimento espera-se que até ao ano de 2050 a necessidade mundial de alimentos tenha um aumento de 60 por cento (FAO 2012).
Neste processo qual tem sido o papel da Cáritas? Por um lado um trabalho de influência pública particularmente junto das estruturas das Nações Unidas e da União Europeia tendo em conta o quadro de desenvolvimento pós-2015. A rede internacional da Cáritas tem chamado a atenção para a necessidade de se definir uma meta global que permita o acesso universal à alimentação bem como a meios de produção sustentáveis e equitativos. Por outro, tem desenvolvido projetos que permitam o acesso à alimentação de crianças e famílias bem como a assistência alimentar em situações de emergência e calamidade. Também a nível nacional e local se desenvolvem esforços para que o direito à alimentação seja uma realidade aplicada na vida quotidiana das populações.
Acreditamos na possibilidade da erradicação da fome até ao ano de 2025. Este é para nós, Cáritas, um requisito básico para que todos os seres humanos tenham a possibilidade de viver em dignidade. Por isso, incentivamos as Nações Unidas, a União Europeia e todos os países a adoptar este mesmo objetivo no chamado quadro de desenvolvimento pós-2015 com vista a incorporar o direito a uma alimentação adequada e nutritiva para todos e em particular para as pessoas mais necessitadas.
Naturalmente que para isto é necessária uma abordagem integrada e sustentável. É necessário que se olhe novamente para o desenvolvimento rural, facilitando o acesso aos mercados principalmente no que aos produtores domésticos diz respeito. Apoiar a produção dos pequenos agricultores, em particular quando estas são mulheres.
Ao nível mundial, é necessário criar condições para diminuir a instabilidade dos preços dos alimentos e isto poderá ser feito através de uma monitorização que impeça a sua especulação.
A campanha internacional da Cáritas “uma só família humana, alimento para todos” surge precisamente com o objetivo de ser uma campanha global com diferentes alvos (nacionais e internacionais) para garantir um trabalho coordenado de influencia pública.
Até ao ano de 2015 muitas das iniciativas da Cáritas em Portugal e no mundo estarão associadas a esta campanha global que se propõem consciencializar o público em geral sobre o direito à alimentação; influenciar os decisores políticos para a necessidade de reduzir o número de pessoas sem acesso a uma alimentação suficiente e de qualidade; aumentar as oportunidades das pessoas carenciadas terem um papel ativo no desenho do próprio futuro.