Cuidar da casa comum
A expectativa sobre o conteúdo da segunda Encíclica do Papa Francisco era muita e o texto, cujo tema abordado era já conhecido, foi recebido em todos os quadrantes, político, social e eclesial, com grande entusiasmo. Como cuidar de nossa casa comum. Esta é a reflexão que Francisco coloca a católicos e não católicos. Para a Cáritas este é um momento de grande importância. Trata-se de uma menagem, dirigida a “todos os homens de boa vontade”, numa alusão à “Pacem in Terris”, de João XXIII, que reflete uma séria preocupação mas é, também, um grande sinal de esperança.
Para os que, eventualmente, esperavam uma encíclica centrada apenas na temática da ecologia, poderão ficar desiludidos. Nas 184 páginas do texto agora disponível, o Papa Francisco fala da “casa comum” de um forma integral, ou seja, fala de uma casa onde coabitam e interagem as vertentes económica, social e ambiental. (13) Face a este alerta para uma mudança, o Santo Padre sublinha a necessidade de se pensar um novo modelo de desenvolvimento onde a pessoa humana esteja no centro das decisões e da vontade política.
Dada esta chamada especial para uma mudança transformacional, lembra ele sobre a necessidade de repensar um novo modelo de desenvolvimento, onde as pessoas pobres têm de estar no centro do diálogo e das decisões políticas.
A mudança climática é um dos grandes desafios que o mundo atual está a enfrentar. O seu impacto é uma realidade evidente nos países em desenvolvimento e entre as comunidades mais pobres (25), no entanto, não podemos deixar de ter em consideração os seus efeitos nas restantes partes do mundo e nas gerações futuras.
A Cáritas identifica-se com esta abordagem holística apresentada por Francisco, principalmente, ao falar de coerência nas políticas. A interdependência das três dimensões do desenvolvimento exige uma coerência nas políticas em todas as suas fases.
Enquanto rede europeia e internacional a Cáritas congratula-se com o facto de o documento abordar questões como a segurança alimentar e o direito à alimentação. Os pequenos agricultores, os cuidados da biodiversidade, desperdício alimentar, o acesso aos mercados, são alguns dos temas abordados de uma forma muito clara, como ferramentas de serviço à pessoa humana e de preservação do planeta (76).
Esta encíclica surge num momento muito pertinente antecedendo alguns momentos importantes no panorama internacional como a Conferência sobre o Financiamento do Desenvolvimento, em Adis Abeba, a Assembleia Geral da ONU para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, em setembro (onde o Papa Francisco vai participar) e, além disso, a Conferência do Clima, em Paris, em dezembro.
A Cáritas exorta as instituições europeias e os Estados-Membros a acompanharem esta mensagem atendendo a que é o nosso bem comum que está em risco e não podemos desviar o nosso olhar.