Conselho Geral da Cáritas Portuguesa em Vila Real
Mensagem de Abertura do Presidente da Cáritas Portuguesa
Rev.mo Senhor Bispo de Vila Real, D. Amândio Tomás
Rev.mo Senhor Arcebispo de Braga e Presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e da Mobilidade Humana, D. Jorge Ortiga
Exmo. Senhor Presidente da Câmara Municipal de Vila Real, Eng Rui Santos
Exmo. Senhor Presidente da Cáritas Diocesana de Vila Real, Pe. Lúcio
Exmos. Senhores e Senhoras Presidentes das Cáritas Diocesanas e seus colaboradores,
Começo esta minha intervenção com um pedido de desculpas a todos vós, na pessoa do Senhor D. Jorge Ortiga por não estar convosco no inicio dos trabalhos. Razões familiares mo impedem. Mas agradeço o esforço feito pelo Senhor Arcebispo que reorganizou a sua agenda para acompanhar os trabalhos desta noite e, assim manifestar, mais uma vez, o seu apreço pela missão que a Igreja a todos nós confiou. Agradeço, desde já, ao nosso mui estimado Pe. Dr. José Pereira de Almeida que irá, como sempre, assegurar, com a sua presença e as suas sempre oportunas reflexões e atitudes positivas e alegres, a nossa união com a Comissão Episcopal e a Igreja portuguesa, em geral.
Uma natural e muito sentida saudação ao Sr. D. Amândio Tomás, a quem agradeço o acolhimento e presença que é, para nós, sinal de incentivo ao nosso trabalho, mas que revela também a estima consolidada que tem pela ação da Cáritas em Portugal, já manifestada de várias formas, mas permitam que realce a amizade que faz o favor de me tributar com gesto e palavras sempre muito estimulantes. Um agradecimento especial também ao Senhor Presidente da Câmara Municipal de Vila Real, cuja preocupação pela área social tem sido evidente nos diversos contactos que temos tido e que revela o reconhecimento da importância da ação social para a existência de uma real coesão social. Ainda que seja claro para todos que, nestas como noutras áreas de intervenção em ordem ao bem de todos, não poderá haver nunca uma sobreposição, de ações, devendo sim imperar uma relação de envolvimento e colaboração que resulte em critérios de subsidiariedade que ultrapassam a afirmação despropositada das diferentes instâncias sócio –politicas e dos seus mais variados setores.
Uma palavras também de agradecimento ao Sr. Presidente da Cáritas Diocesana de Vila Real, que que recebe esta magna reunião, colocando nela todo o seu empenho, reconhecendo, como todos nós aqui presentes, a importância da descentralização destes encontros nacionais. Esta nossa presença nas diferentes dioceses tem permitido à Cáritas tornar-se mais próxima das populações o que se traduz numa maior motivação para o desenvolvimento da nossa ação e a renovação do nosso compromisso de serviço aos outros e à Igreja.
Vivemos hoje dias de grande questionamento ético e até moral. Os vários sinais de alarme que surgem dos mais variados setores da nossa sociedade apontam para a necessidade de agirmos com uma rigorosa transparência e elevarmos as nossas realizações de mecanismos que permitam a sua clara difusão, sem preocupações de inúteis e personalizados protagonismos, mas que evitem dúvidas desnecessárias ou suspeições, mesmo que infundadas. É que «Ninguém, depois de acender uma candeia, a cobre com um vaso ou a põe debaixo duma cama; pelo contrário coloca-a sobre um velador, a fim de que os que entram, vejam a luz. Pois não há coisa oculta, que não venha a ser manifesta; nem coisa secreta, que se não haja de saber e vir à luz.» (Lc 8, 17-17). Escândalos, como o do recente “Panamá Papares”, vêm reforçar as palavras corajosas do Papa Francisco quando afirmou que a “economia mata”. Não é a economia em si mesmo que é assassina, mas as mentiras e obscuridades de que a têm vindo a revestir. Os senhores do mundo e do capital sabem, perfeitamente, que as regras estabelecidas pela economia estrangulam, cada vez mais, a livre circulação da riqueza o que impede, naturalmente, o acesso à mesma que fica confinada aos mais poderosos. Isto é tanto mais preocupante pelo facto de estar a acontecer sob o olhar passivo das instituições reguladores e fiscalizadoras que, assim, se tornam cúmplices. A economia perdeu o coração e deixou de ter no seu horizonte o seu maior desígnio que é criar condições de vida dignas a toda a gente, valorizando o contributo e o respeito inalienável pela vida de cada ser humano e a preservação das demais criaturas. É como se as riquezas andassem por aí, num pairar livre de justificações… aguardando a justiça para atuar apenas em situações limite que, depois, se arrastam em processos judiciais que não têm fim à vista e que nem sempre traduzem o desejado respeito pela justiça e, menos ainda, que esta esteja ao alcance e seja igual para todos.
Olhando a este contexto e enquanto Instituição Cristã e Católica somos, cada vez mais obrigados a uma clara diferenciação positiva. Somo hoje, mais do que nunca, obrigados a ter uma visão sobre nós próprios que seja clara e verdadeira, de modo a que a nossa comunicação com os outros, aos que servimos e aos que nos apoiam e que confiam na nossa ação tenha a necessária coerência entre o que anunciamos, denunciamos, somos e fazemos. Não podemos ter receio de ser uma organização de portas abertas e transparente, mas para que isto aconteça a aposta tem de ser feita, repito, na coerência entre discurso e ações e numa gestão baseada em critérios de profissionalismo e sobriedade que permitam um reforço da credibilidade e, assim, um maior reconhecimento a nosso favor por parte da sociedade em geral.
Em ano da Misericórdia são vários os instrumentos que o Papa Francisco nos tem dado para que possamos crescer, não apenas como cristãos empenhados na caridade fraterna, mas também enquanto instituições, o Papa Francisco, no seu jeito tão particular, tem encontrado muitas formas de responsabilizar os católicos em geral e as instituições da Igreja para que estas sejam verdadeiros instrumentos de serviço aos mais necessitados sejam eles quem forem e venham eles de onde vierem. A sua visita, amanhã, à ilha grega de Lesbos surge como mais um desafio e um testemunho do seu amor à universalidade como critério para uma justa e sadia relação humana, a diferentes níveis e latitudes. Esta visita vem colocar mais evidência e até alguma pressão na urgência da definição da política europeia de acolhimento aos refugiados. O atual impasse, já não há dúvidas nenhumas, que é a expressão da inoperância dos governos europeus e suas estruturas e, assim, deverá ser visto como um embaraço para todos os países europeus. Saibamos nós seguir o testemunho deste “gigante cristão” que Deus deu à Igreja, para a configurar mais com o Evangelho, e dar também nós exemplo para que sejamos contributos para uma sociedade capaz de acolher e de se fazer pobre com os pobres.
Este ano a Cáritas, em Portugal, está a celebrar 60 anos da sua criação. A nossa história começou precisamente com uma iniciativa de acolhimento a crianças austríacas que aqui encontraram uma oportunidade de crescer num clima de paz, enquanto os seus pais, no país de origem, recompunham as suas vidas. Teremos oportunidade de assinalar esta data de diversas formas e com o contributo de todos, fica-nos acima de tudo uma herança que nos impele a estar na linha da frente na construção de um mundo como Deus o pensou e que não desisti de o alcançar. Como é óbvio, é sempre bom termos consciência que poderia prescindir de nós, mas não o quis fazer por nos amar infinitamente, concedendo-nos valores incalculáveis como a liberdade e a inteligência.
Falando da nossa história não poderia terminar sem deixar uma palavra de grande amizade e gratidão ao anterior presidente da Cáritas Diocesana de Viseu, o Sr. Borges, como sempre o tratámos e que, durante muitos anos deu o seu melhor contributo e deixou marcas de um trabalho marcado pela sua grande generosidade que a nova direção irá, com certeza, desenvolver dando continuidade ao legado deixado e, naturalmente, inovando e levando sempre mais longe a identidade e a ação da Cáritas Diocesana. Por isso, desejo as melhores felicidades à nova Direcção, disponibilizando, sempre que necessária, a nossa incondicional colaboração.
A todos desejo um bom trabalho na expectativa de que deste encontro resulte um avanço na qualidade da nossa ação em todo o país. Muita coisa há para melhorar, nomeadamente, a criação e rejuvenescimento dos grupos de ação social em todas as paróquias. Enquanto isto não acontecer, a Cáritas não conseguirá assegurar a necessária relação de proximidade com as pessoas carenciadas, tendo por modelo a parábola do Bom Samaritano. Temos de ser mais corretos no tratamento estatístico dos casos sociais acompanhados, promovendo a reflexão sobre eles e a adoção de linhas de ação capazes de os resolver ou, pelo menos, atenuar; aprofundar difundir o conhecimento e as vias de solução dos problemas sociais, à luz da doutrina social da Igreja; levar mais longe a nossa capacidade de intervenção, junto de centros de decisão política e de outras entidades, com vista à adoção das medidas necessárias para que os problemas se resolvam em profundidade.
Esta é a nossa meta à qual chegaremos apostando na partilha franca de esforços e de recursos.
Bom trabalho e até amanhã, se Deus quiser.
Eugénio Fonseca
Presidente da Cáritas Portuguesa