Gratidão pelo legado de Bruto da Costa
A Cáritas Portuguesa enaltece o cidadão e cristão, Professor Doutor Alfredo Bruto da Costa, que nos deixa um testemunho exemplar de coerência de vida, no que respeita aos valores que defendia e praticava.
A sua opção preferencial pelos pobres tomou maior dimensão pública e empenho decisivo, quando, em conjunto com a Professora Doutora Manuela Silva, realizaram o primeiro grande estudo da Pobreza em Portugal, logo seguido de igual análise, mas relativa à Pobreza em Contexto Urbano. A Cáritas teve a honrosa responsabilidade de editar estes dois trabalhos.
A sua competência académica e a autoridade ética fê-lo ser, constantemente, solicitado para ocupar cargos públicos e eclesiais. Neles sempre pugnou pelo envolvimento de toda a sociedade e da Igreja, em particular, na erradicação da pobreza absoluta e de qualquer forma de exclusão social. Era seu sonho ver criadas condições de participação de todos, incluindo as vítimas de tão grandes flagelos.
Partiu sem ver concretizado este seu sonho. Mas a esperança de que, um dia, isso acontecerá, encontrou eco na catequese que o Papa Francisco fez, pela manhã de hoje, pedindo aos 6.000 participantes no Jubileu dos pobres e de outros excluídos socialmente, dizendo: “Com os seus sonhos, ensinai-nos a sonhar a partir do coração do Evangelho, onde vós vos encontrais (…) Obrigado pelo exemplo que vós dais. Ensinai, ensinai a solidariedade ao mundo.”. Os 178 portugueses, que também se encontraram com o Papa, sentiram esta interpelação bater mais forte ao tomarem conhecimento da morte de tão grande amigo, companheiro apaixonado pelas suas causas e seu determinado defensor em quaisquer circunstâncias. Esta sua opção esteve bem patente, em mais uma afirmação do Papa, no encontro já referido, ao dizer: “Pobres sim, escravos não. A pobreza está no cerne do Evangelho a ser vivido. A escravidão não é para ser vivida com base no Evangelho, mas para ser libertada”.
Como teria gostado o Professor Alfredo de ter escutado o Papa Francisco neste seu encontro jubilar com os pobres, sobretudo, quando, com expressão humilde, disse: “Agradeço-vos por terdes vindo visitar-me. Agradeço os vossos testemunhos, e peço-vos desculpa se alguma vez eu vos ofendi com a minha palavra ou não disse o que o deveria ter dito. Peço desculpa em nome dos cristãos que não leem o Evangelho, encontrando a pobreza no seu centro. Peço desculpa por todas as vezes que os cristãos frente a uma pessoa em situação de pobreza, olharam para o outro lado. Desculpem. O vosso perdão aos homens e mulheres da Igreja, que não querem olhar ou não quiseram olhar, é água benta para nós, é a nossa purificação, ajuda-nos a acreditar, novamente, que a pobreza está no coração do Evangelho como a grande mensagem; e nós, católicos cristãos, todos nós temos que criar uma Igreja pobre para os pobres, e que cada homem ou mulher de qualquer religião tem que ver, em todos os pobres, a Palavra de Deus que se aproxima de nós e se faz pobre para nos acompanhar na vida”.
Foi à nossa frente um amigo, um professor, um sonhador que nunca perdeu a esperança de viver num mundo sem pobreza. A melhor gratidão que a Cáritas lhe pode prestar e a todos seus familiares, que muitas vezes aceitaram ser privados da sua companhia para nos tornar humanamente mais ricos e a sociedade menos pobre, é dar continuidade ao seu legado.
O Presidente da Cáritas Portuguesa
Eugénio Fonseca