Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza
A Cáritas Portuguesa assinala o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza enviando mensagem de ânimo ao afirmar que atribui toda a prioridade a todos quantos sofrem de pobreza:
“Que temos feito para a erradicação da pobreza, de maneira sistemática e radical? Limitamo-nos a chamar a atenção para duas lacunas graves, entre outras, que parecem invencíveis: a recusa de conhecimento corresponsável da pobreza no país, e ausência de atuação sistemática nas suas causas.
Em mais de dois mil anos de existência do cristianismo que tem no seu centro o tema dos pobres, vemos que as instituições e comunidades cristãs procedem como se não conhecessem os pobres existentes em cada localidade e no país: não procedem ao conhecimento estatístico, resultante do contato direto de proximidade e ajuda; não refletem regularmente sobre este assunto, visando soluções assistenciais e estruturais; e não assumem compromissos que visem não só o atendimento de cada pessoa pobre mas também a erradicação gradual e sistemática da pobreza.
Tal desconhecimento verifica-se, aliás, na generalidade das outras instituições, bem como no meio académico, no Estado central e nas autarquias locais. Quase toda a gente atribui enorme relevância às estatísticas de base científica, sobre a pobreza, difundidas regularmente mas, em geral, vão aproveitando esse conhecimento para ignorar a pobreza que está a seu lado, o enorme esforço diário dos pobres e de quem os ajuda, o risco de inviabilidade económica de inúmeras instituições e a corresponsabilidade da sociedade civil, da economia, do Estado…
A publicação, deveras meritória, da Carta Social, no âmbito do Ministério do Emprego e da Solidariedade e Segurança Social, constitui um exemplo bem significativo destas omissões: figuram, na Carta, abundantes dados sobre as diferentes respostas sociais, mas falta a referência às listas de espera, às necessidades não atendidas por respostas adequadas, à sustentabilidade efetiva das respostas existentes…
Entretanto, a própria Assembleia da República não tem vindo a cumprir as Resoluções que adotou, em 2008, com vista ao «Acompanhamento da situação de pobreza em Portugal», mesmo tendo em conta que ela «conduz à violação dos direitos humanos».
Numa leitura otimista, dir-se-á que existe hoje uma consciência generalizada acerca da injustiça da pobreza e do imperativo da sua erradicação; em contrapartida, escasseiam a consciência coletiva e a ação consequente. A Cáritas Portuguesa não deixará de atribuir-lhes toda a prioridade.”