Trajetórias Escolares Improváveis
Foram motivações “pessoais e profissionais” que deram origem ao mais recente título que é agora apresentado pela Editorial Cáritas: “Trajetórias Escolares Improváveis: O sucesso dos estudantes de meios socialmente desfavorecidos no ensino superior”. Um trabalho desenvolvido por Elsa Justino, doutorada em Serviço Social pela Universidade Católica Portuguesa. Na introdução à obra Elsa Justino explica as razões que levaram à origem desta obra lembrando, em particular, a história de dois irmãos, em risco de não terem bolsa de estudo: “Órfãos de pai, a sua experiência de vida, caracterizada pela pobreza material e que concentrava múltiplas problemáticas, foi a pista para iniciarmos este trabalho de investigação. Como tinham chegado estes dois jovens estudantes até ao ensino superior? Que constelação de fatores se reuniram para que se produzisse esta realidade?”
Muitas entrevistas depois, a profissionais, estudantes e candidatos a bolsas de estudo, no âmbito da atividade profissional – ensino e serviço social – Elsa Justino tem personificada nesta e em muitas outras histórias de vida o ponto de arranque deste trabalho agora editado pela Editorial Cáritas. Uma obra que resulta do conjugar de uma atividade profissional ligada ao ensino e aos serviços de ação social.
É o caso também da história de vida daquele que é hoje um alto executivo e que foi apoiado pela ação social para permanecer no ensino superior, bem como a sua vivência marcada por múltiplas contrariedades. “Como se organizava o seu quotidiano familiar e escolar para que fosse possível um percurso tão bem sucedido até ao ensino superior? Como explicar a sua permanência, no ensino superior, durante toda a formação?”
Explica-nos Elsa Justino, no texto de introdução da obra “Trajetórias Escolares Improváveis” que são realidades como esta “que entusiasmam e legitimam o trabalho que muitos Assistentes Sociais realizam, todos os dias, no âmbito da ação social no ensino superior e fundamentam a necessidade de aprofundamento do conhecimento que o Serviço Social deve ter, sobre a realidade social dos que chegam ao ensino superior em desvantagem, contrariando um meio social e culturalmente desfavorecido de origem.”
Ultrapassar práticas burocratas é um desafio diário. O trabalho de ação social fica, muitas vezes, amarrado a uma prática apoiada em ferramentas de gestão que sistematizam e informatizam. “Refira-se que os sistemas de informação no processo de atribuição de bolsas de estudo aos estudantes do ensino superior, desmaterializado e fundamentado na origem dos rendimentos fiscais, podem ser uma oportunidade porque simplificam a análise estrita dos rendimentos do agregado familiar de origem (também ela necessária para atribuir o benefício social). Podem, igualmente, ser uma ameaça, na medida em que confinam o trabalho social a um mero trabalho de sistematização de informação, e a uma certa forma de “secretariado social”.
“Só os estudantes e os seus percursos de vida, o contexto das suas realidades sociais e, até, afetivas, podem devolver aos profissionais a prática esclarecida e a realidade dos contextos de socialização, produzindo um sentido de justiça fundamental para a prática do Serviço Social.”
Compreender as singularidades de percursos escolares bem-sucedidos de estudantes que chegam ao ensino superior com origem em meios económicos, social e culturalmente desfavorecidos. Que curso escolhem? Que instituição de ensino superior frequentam? Quais as condições objetivas para a sua escolha? São alguns dos critérios utilizados na análise que é feita neste trabalho de investigação. “Abordamos, ainda, a mobilização para o investimento na formação no ensino superior, a economia doméstica (da família alargada), as condições de frequência, o apoio de terceiros, a apropriação dos mecanismos de apoio social disponíveis e a representação social da profissão futura.” Explica Elsa Justino, na introdução da obra.
A necessidade de colmatar uma lacuna existente no panorama livreiro em Portugal, foi a razão que levou a Cáritas a dar corpo ao projeto Editorial Cáritas. Este projeto insere-se no Plano Estratégico da Cáritas Portuguesa, tendo como objetivo estratégico o desenvolvimento de uma cultura organizativa de serviço que tem por base o Pensamento Social da Igreja, em estreita articulação com a Conferência Episcopal Portuguesa e com os Bispos diocesanos.
No ano de 2017 a Editorial Cáritas apresentou ao público 8 novos títulos e realizou um conjunto de 10 apresentações de obras, em todo o país, envolvendo 9 Cáritas diocesanas que cooperam com Escolas Superiores e Universidades na escolha de trabalhos académicos para publicação.