Cáritas “cuidador do outro”
O Conselho Geral da Cáritas iniciou os seus trabalhos com a presença de D. José Ornelas, bispo da Diocese de Setúbal que deu as boas-vindas a todos os participantes sublinhando a forma como a Cáritas tem sido chamada, nos últimos anos, a intervir na sociedade portuguesa e lembrou que é missão da Cáritas ser “cuidador do outro”. D. José Ornelas sublinhou a importância do trabalho da rede Cáritas, como organização da Igreja: “a complexidade da miséria e da sociedade precisa de gente com capacidade, profissionalizada e em rede. Isto não pode ser para cada um, nem para cada Cáritas por si, é necessário que sejamos todos enquanto Igreja”. Também presente na sessão de abertura esteve Pedro Pina, vereador da Câmara Município de Setúbal, que recordou que a Cáritas Diocesana de Setúbal tem sido um parceiro da autarquia no combate ao flagelo da pobreza um caminho feito em conjunto e do qual a autarquia não quer prescindir.
Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas Portuguesa, sublinhou as muitas mudanças que o mundo tem vivido nos últimos anos e que têm desafiado a ação da Cáritas e da Igreja: “nos últimos anos temos assistido a sinais claros de mudança no mundo. Mudanças politicas, económicas e financeiras, mas, também, naquilo que é a nossa identidade enquanto humanidade. Existem hoje em todo o mundo muitos mais muros do que aqueles que separavam famílias e gerações, há 60 anos. Hoje em cada comunidade, vila, cidade, país há muros que separam homens e mulheres, novos e velhos, crentes e não crentes. Constroem-se barreiras na expectativa de não ter de abrir cedências, de não ter de deixar-se penetrar pela existência do outro. Isto leva-nos a cada dia, a cada momento, a perder o nosso sentido de humanidade.”
“Ser Cáritas é dar resposta em situações de emergência a todos os que vivem momentos de fragilidade que comprometem a sua dignidade humana, mas é também ser proposta de construção para um mundo mais justo, mas fraterno, mais humano. É por isto que aqui estamos hoje, representantes das Cáritas diocesanas. Para olharmos a nossa ação de uma forma crítica e construtiva percebendo de que forma ela contribuiu para melhor a vida dos homens e mulheres que estão em situação de pobreza, mas, também, para, juntos, pensarmos estratégias de ação que nos levem a ser um caminho alternativo para uma melhor humanidade em Portugal e, através da nossa rede europeia e mundial, para todo o mundo.”
Sobre a realidade vivida em Portugal, Eugénio Fonseca, lembrou que “o debate público promovido pelos intervenientes políticos, desvia olhares para problemas que sendo fundamentais na vida de todos, estão longe de ter encontrado o seu lugar e maturidade para o impacto das mudanças sociais que poderão provocar na vida privada e coletiva. Cada um de nós tem uma palavra a dizer e a Cáritas, enquanto organização promotora da justiça e da caridade, não quer ficar à margem desta reflexão. Tal como nos dizia por estes dias o Papa Francisco, é urgente que cada cristão, cada cidadão, assuma a sua natureza de santidade e, lembremo-nos sempre, não há santidade que não passe pelas condições de vida do próximo, daquele que é o nosso outro.”