Marcelo Rebelo de Sousa recebe «10 MILHÕES DE ESTRELAS- UM GESTO PELA PAZ»
Agradeço ao Senhor Presidente da República o ter-se dignado aceitar, das nossas mãos, o símbolo da Operação «10 Milhões de Estrelas – um gesto pela paz» que, há 16 anos, a Cáritas dinamiza em Portugal, e como já foi referido pelo Chefe Nacional do CNE, há dois anos em conjunto com a atividade “Luz de Belém” por eles concretizada e que, no passado domigo, a partir da qual acedemos as nossas e a deles. Neste Natal de 2018, gostaríamos que a campanha ficasse associada a três objetivos comuns à Cáritas, ao Escutismo e a outras entidades, a saber: iluminação; serviço; e radicalidade.
A iluminação respeita ao conhecimento de todas as situações de carência. Não voe enumerá-las porque Vossa Excelência conheces bem pela opção que fez de uma magistratura de muita proximidade. O que já não sei é se todos os que têm vindo a ter responsabilidades políticas, económicas e socias o sabem. Consideramos lamentável a este propósito que, após tantos séculos de ação social, ainda não se difundam regularmente estatísticas sobre as situações de carência atendidas pelos serviços públicos e privados de ação social, bem como pelo voluntariado social de proximidade. No início deste mês soube -se que, em 2017, 18,3% vive na situação de pobreza. A intensidade da pobreza destes ainda é de 24,5% e 6% encontram situação de pobreza severa. Diz o INE que há um decréscimo, mas para um país com as potencialidades como as nossa são percentagens muito elevadas. Isto só pode querer dizer que não há a devida articulação entre as políticas públicas e a realidade da nossa sociedade. A situação da pessoas sem teto ou sem casa nem refiro, pois Vossa Excelência conhece -as bem. Obrigado Senhor Presidente pelo que está a fazer por esses que estão no grupo dos mais pobres dos pobres.
O objetivo «serviço» é nuclear no escutismo e na ação Cáritas. A educação para ele e a respetiva prática inspiram-se, para nós, na parábola do «bom samaritano», e deveriam funcionar em todas as localidades, junto de cada situação humana de carência.
O terceiro objetivo – «radicalidade» – não se confunde com o radicalismo nem com qualquer tipo de extremismo; pelo contrário, ele implica a atuação nas raízes, ou causas, dos problemas sociais e a cooperação de todas as entidades que possam contribuir para as respetivas soluções. No nosso entendimento, a radicalidade é indissociável do diálogo, da superação de conflitos e da cooperação plural, como recomenda o Papa Francisco («Laudato Si`», cap. V, e «Evangelii Gaudium», nºs. 226-228 e 238-239.
Não vou ler estas passagens, mas não registo a ler um pequenino trecho de uma homília proferida, em 1995, mas que se reveste de grande atualidade, proferida por um seu saudoso amigo, D. Manuel Martins:
»Cantemos o Natal. Cantemos o apaixonado amor de Deus por nós, manifestado neste Menino que nos foi fdado, que nasceu para nós. Mas, por favor, deixempos que este Menino nasça, cresça e no leve a trasformar com Ele, este mundo que, por nossa culpa, escapa aos seus desígnios de verdade, de justiça, de compreensão e de paz. Isto, sim é O Natal. Este, sim, é o Natal que esperamos e ansiamos.»
È esta ânsia que nos faz, há 16 anos, realizar a esta Operação, agora unidos ao CNE, com pequenos gestos e símbolos, como o que vamos realizar a seguir e que pedimos a todos os portugueses e portuguesas que numa janela ou varanda de cada casa se aceda amanhã, a partir das 20h, uma vela como símbolos da sua igual ânsia por um mundo com mais justiça, solidariedade, pois só assim a paz pode ser possível. No dizer de um pensador brasileiro: “Um símbolo sozinho pode não representar nada, mas se todos se juntam, um símbolo pode significar muito, pode significar a mudança de um país”[1]
Reafirmo que registamos com todo o apreço a relação de proximidade entre o Senhor Presidente e inúmeras situações em que as pessoas por si visitadas se encontram. Neste Natal de 2018, fazemos votos de que, mediante essa relação e o esforço de todos nós, se intensifique a proximidade social em todas as localidades; e que ela contribua ativamente para a consciência coletiva dos problemas sociais, visando sempre as respetivas soluções.
[1] Gerdal Maluco Beleza, Sociedade Alternativa
(Intervenção do presidente da Cáritas Portuguesa, Eugénio Fonseca)