Melhorar a transparência na relação com as pessoas
No início de março de 2018, em Angola, diretores e técnicos da Cáritas Portuguesa e da Caritas de Angola, com o apoio no terreno da Fundação Fé e Cooperação juntaram-se para o arranque do projeto “Cáritas Lusófonas em Rede – Inovar para o Impacto”. No momento do arranque do projeto, Eusébio Nguengo, diretor-geral da Cáritas de Angola, deixou claras as suas preocupações e as suas ambições para este trabalho, que exige mudanças internas na forma de trabalhar. “Cáritas Lusófonas em rede – Inovar para o Impacto” é desenvolvido tendo como base os Standards de Gestão desenvolvidos pela Caritas Internationalis que visam a capacitação e o desenvolvimento institucional, cuja implementação já está a ser realizada em vários países, nomeadamente em Portugal, e que devem ser também implementados nas demais Cáritas Lusófonas. É um contributo para melhorar a ação da Cáritas junto das populações mais vulneráveis, reforçando a organização da instituição através da capacitação.
Quase 6 meses depois do arranque do projeto, fomos ao encontro de Eusébio Nguengo, diretor da Cáritas de Angola para saber qual a sua leitura do projeto.
“Ao nível de implementação de projetos no país, o momento que vivemos é uma grande oportunidade de discussão e de intervenção regional. É um projeto que nos oferece uma boa oportunidade de cooperação e de formulação conjunta de políticas organizacionais que nós não tínhamos. Não é só ao nível das Cáritas lusófonas e internacional que devemos construir rede, mas também ao nível interno deveremos consolidar e reforçar a nossa rede interna.”
Foi com este objetivo que decidiram partir ao encontro de si próprios propondo-se visitar as cinco Arquidioceses. Muitas horas de caminho percorridas, o balanço é positivo. Com o intuito de reforçar a sua estrutura interna quer nos procedimentos e formas de atuação, mas também ao nível da forma como são Igreja. Eusébio sabia das dificuldades que poderia encontrar, mas no final não esconde a sua satisfação. “Eu conheço a organização já o suficiente e sabia que, neste momento, era importante que os agentes – principalmente os que têm de tomar decisões – estivessem envolvidos no processo. Achámos, então, que seria coerente iniciar este processo mesmo com algum receio por não sabermos qual seria a posição deles. Hoje percebemos que estamos juntos e que há da parte de todos a intenção de ouvir coisas novas e a arriscar na mudança. Não é só a ida ao terreno, mas é, também, essa longa convivência que nos vai ajudar a perceber qual a melhor forma de termos sucesso na implementação do projeto.” Um exemplo concreto disto que é descrito pelo diretor-geral da Cáritas Angola foi a deslocação à Arquidiocese do Lubango onde, depois de 5 anos, foi possível reunir as três Dioceses envolvidas, explica Eusébio Nguengo “nós fomos para a Arquidiocese do Lubango, na região do Cunene, que tem três Dioceses Lubango, Namibe e Ondjiva. Nunca tinham feito um encontro entre elas. Não tínhamos ideia nenhuma de como seria recebida a nossa apresentação dos Standards nesta Arquidiocese, mas tínhamos o apoio do Bispo e do Arcebispo e decidimos ir. Numa visita de três dias conseguimos ter um diretor nomeado pela Diocese, conseguimos juntar as três Dioceses que nunca se tinham reunido e conseguimos desenhar um primeiro plano de trabalho que nos irá orientar nos próximos dois anos. Podemos dizer que numa viagem conseguimos resolver um dilema que tínhamos há cinco anos!”
Mas partir para o terreno, levando consigo a mochila dos Standards de Gestão da Caritas Internationalis foi uma responsabilidade que Eusébio não assumiu sozinho e também isso lhe dá a certeza de que a Cáritas está a percorrer um caminho que terá furtos para toda a Igreja em Angola e, como resultado final, para o próprio país através do serviço que prestam às pessoas mais vulneráveis nas comunidades locais. “Como nós Caritas temos sido pioneiros na concretização de muitas intenções políticas, nós queremos que isso sirva de exemplo para a implementação de muitas outras intenções ao nível da própria Igreja. Neste sentido, os Bispos também compreenderam aquilo que nós pretendíamos e estão a incentivar o nosso trabalho.”
Eusébio Nguengo explica que ter o apoio dos Bispos angolanos tem sido muito importante para a implementação deste projeto que tem como prioridade melhorar a transparência na relação com as pessoas. “Os Bispos estão abertos, há uma dedicação demonstrada até agora que é bastante confortável e isso dá-nos a indicação de que pode também ser uma boa inspiração para todo este processo de mudança que se pretende que seja para toda a Igreja em Angola.” Uma mudança que não está a ser imposta, mas que, pelo contrário, chega à direção da Cáritas de Angola em forma de pedido de apoio por parte dos diretor e técnicos que se encontram no terreno. “Começamos a perceber que a prioridade não somos nós, enquanto gestores de projeto, que a estamos a definir, mas são os diretores locais que nos começam a dizer o que sentem que deve ser prioridade. As comunidades já sentem que os Standards podem ajudar a melhorar o seu trabalho e a aproximarem-se uns dos outros enquanto responsáveis e interlocutores, mas, essencialmente, a aproximarem-se mais daqueles que são os beneficiários do trabalho que a Cáritas faz, ou seja, as pessoas vulneráveis. Isto mesmo foi dito pelos Bispos e Arcebispos.”
No plano institucional, este projeto traz também consigo o concretizar de intenções que têm sido reforçadas no Fórum das Cáritas Lusófonas que se realiza de dois em dois anos. Estes encontros têm sido importantes para a troca de experiências e para manter a proximidade, mas com este projeto surge a oportunidade de efetivar estar relação e dar-lhe continuidade no terreno, naquilo a que Eusébio chama de cultura da partilha: “a partilha dos modos de trabalho reforça este projeto, não apenas como um projeto, mas como uma cultura de partilha recíproca.”
Em 2019, a Cáritas de Angola irá receber o Fórum Lusófono. Uma nova oportunidade de troca de experiências agora já com trabalho e experiências para partilhar e com um desafio concreto que se pretende que seja assumido também pelas restantes Cáritas de língua oficial portuguesa.
“Queremos receber os participantes das Cáritas Lusófonas em 2019, no próximo Fórum, e deixar que sejam eles a avaliar o nosso trabalho através das várias visitas no terreno e do contacto que vão tomar com a nossa realidade e que nós possamos ser exemplo e sinal de esperança e inspiração para cada um dos países lusófonos que também estarão em condições de iniciar a implementação dos Standards da Caritas Internationalis”.
Este é um projeto financiado pelo Instituto Camões e tem como parceiro no terreno a Fundação Fé e Cooperação – FEC