COVID-19 | Idosos na resposta local
Sabemos que mesmo nas sociedades mais avançadas, entre as quais Portugal, quando as responsabilidades institucionais são ignoradas, os deveres estabelecidos por lei são ignorados, ou as obrigações éticas das famílias são omissas, acabam por causar danos que ameaçam a dignidade dos idosos. Cada uma dessas violações, pela sociedade, pela administração pública ou pelas próprias famílias, pode desencadear a marginalização social do idoso, cuja dimensão mais dramática é a falta de relacionamento humano, pois causa enorme sofrimento à pessoa idosa, pelo abandono, solidão e isolamento a que está sujeito, sendo exatamente isso que pretendemos combater ou atenuar com o nosso serviço.
Por esse motivo, um dos primeiros serviços que a Cáritas Diocesana de Beja criou e definiu como prioritário na sua intervenção foi o Serviço de Apoio Domiciliário que constituiu em 1994, optando por um modelo de assistência centrada na pessoa idosa, tendo por base procedimentos de assistência, acompanhamento e promoção. Este modelo, envolveu, na altura, uma profunda mudança na maneira usual de cuidar e acompanhar o idoso, para que suas competências fossem valorizadas e a sua participação fosse favorecida e promovida. Este tem sido o nosso enfoque até aos dias de hoje.
Atualmente, este serviço está protocolado com o Centro Distrital da Segurança Social de Beja para 64 utentes, contudo, temos capacidade para prestar este serviço a 76 pessoas, sendo que, atualmente prestamos cuidados a 70 idosos sobretudo na nossa cidade.
O Centro Distrital da Segurança Social de Beja comparticipa com uma verba para os custos globais dos serviços prestados aos utentes que estão dentro do protocolo, sendo que os restantes, é a Cáritas que se suporta a totalidade das despesas dos serviços prestados. Sempre que tal não seja possível, por parte da família ou utente, a própria Cáritas Diocesana de Beja assume os serviços, procurando que ninguém fique sem o mesmo.
Este serviço é prestado por dez ajudantes de ação direta, coordenada por uma diretora técnica e com apoio de uma nutricionista, que definem a prestação de cuidados a famílias e/ou pessoas que se encontrem no seu domicílio, em situação de dependência física e/ou psíquica e que não possam assegurar, temporária ou permanentemente, a satisfação das suas necessidades básicas e/ou a realização das atividades instrumentais da vida diária, nem disponham de apoio familiar para o efeito.
O serviço é ajustado ao contexto de cada caso e é possível oferecer um conjunto de serviços diversificados aos utentes, promovendo também a socialização com outros utentes, colaboradores, voluntários e pessoas da comunidade.
São as ajudantes de ação direta que diariamente, uma ou mais vezes, conforme os serviços protocolados, se deslocam à habitação dos nossos utentes, levando as refeições solicitadas, que pode ser o almoço, lanche e jantar, realizando, se assim necessário, a higiene habitacional e pessoal dos mesmos, garantindo o seu conforto e os cuidados de saúde.
O trabalho que desempenhamos tem por base a formação das nossas assistentes de ação direta, no respeito pela dignidade da pessoa idosa, respeitando-a nas suas fragilidades, atuando com ética e zelo pela sua segurança e, sempre que necessário, em articulação com os familiares e com o próprio.
A resposta à propagação do COVID-19
Atualmente, e em virtude da pandemia do denominado COVID 19, a Cáritas Diocesana de Beja, em articulação interna com a direção técnica do serviço de apoio domiciliário e a direção de serviços técnicos, desenvolveram um Plano de Contingência para esta resposta social, que é monitorizado diariamente e atualizado sempre que se justifique, para poder corresponder às medidas e recomendações da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade Social (CNIS), da Direção Geral de Saúde (DGS) e Segurança Social em tempo real.
Contudo, a verdade é que na nossa intervenção, as dificuldades sentidas, e acreditamos que não será muito diferente em outras IPSS que trabalham com este público-alvo, sejam em contexto de lar, centro dia ou serviço de apoio domiciliário, são caracterizadas pela falta de meios, de equipamentos de proteção individual (EPI), tais como, máscaras individuais, gel desinfetante, luvas e fatos, bem como, de voluntários e financiamento.
Sentimos que ninguém estava preparado para uma situação com esta gravidade e intemporalidade, precisamente, pelo facto de não sabermos quando vai acabar, sentimos a necessidade de ter voluntários especializados que nos ajudem a lidar com o stress e ansiedade diária a que todos estamos colocados, particularmente as ajudantes de ação direta, que diariamente estão na linha da frente, de forma que possam gerir com segurança as situações que eventualmente possam surgir junto dos idosos e familiares.
Os cuidados com os idosos
Os idosos que acompanhamos no âmbito do Serviço de Apoio Domiciliário, bem como de suas famílias ou rede de suporte com quem articulamos a intervenção, manifestam naturalmente preocupações que consideramos legítimas, uma vez que são o público de risco elevado e onde se tem verificado que a COVID-19 tem um maior impacto, sobretudo em pessoas com mais de 65 anos, com doenças cardiovasculares (como a hipertensão e insuficiência cardíaca), patologia respiratória crónica ou diabetes.
Neste sentido, temos procurado falar regularmente com as nossas equipas de ação direta, familiares e idosos, no sentido de transmitir segurança e tranquilidade no atual contexto, aproveitando para esclarecer dúvidas quanto aos nossos procedimentos de atuação e ao mesmo tempo esclarecer dúvidas e reforçar aquilo que são as recomendações da Direção Geral de Saúde para prevenir o contágio e que fazem parte do nosso Plano de Contingência.
Procuramos, sempre que possível sensibilizar os idosos que acompanhamos, para evitar saídas de casa e recorrer aos nossos serviços para qualquer necessidade que tenham, a par disso, sensibilizamos para os sintomas e características da doença, as regras de etiqueta respiratória, a necessária lavagem correta das mãos, sempre que possível, o distanciamento entre as ajudantes de ação direta e o utente, a ventilação dos espaços habitacionais, implementação e reforço das medidas de higiene e controlo ambiental, com a limpeza regular das superfícies, e sempre que seja necessário acompanhar nas idas aos serviços de saúde.
Toda esta abordagem é coordenada pela diretora técnica do serviço de apoio domiciliário, que, por sua vez, junto das ajudantes de ação direta, reforça sobre os cuidados acima enunciados devido ao contacto diário a que estamos sujeitos. No que respeita à entrega da alimentação, confecionada e distribuída pela Cáritas no âmbito deste serviço, alguns idosos solicitaram que não entremos na habitação, cuja consciência revela sobre a aquisição de medidas preventivas adotadas pelos próprios, e solicitam que deixemos as marmitas com as refeições à porta, para que o contato seja o menor possível, sendo essa uma prática recente, o que não invalida o contacto telefónico para saber se está tudo bem com o idoso. No que respeita, aos cuidados de higiene pessoal das pessoas mais dependentes e acamados, aos quais é indispensável a existência do contato direto, realizamos todas as diligências para acautelar qualquer e possível foco de contágio, utilizando todo o material de proteção que temos disponível.
Resposta da rede nacional Cáritas
Em todo o país as Cáritas diocesanas estão a trabalhar para garantir que todos os serviços essenciais se mantêm em atividade. Em primeiro lugar, a rede Cáritas em Portugal assumiu a preocupação de manter ativos todos os serviços essenciais à população, seja através de respostas não presenciais (atendimento e acompanhamento por telefone e email) seja implementando as medidas de autoproteção nas respostas onde os utentes estão presentes e que não têm nenhuma retaguarda familiar: Centros de Dia, Lares, Apoio Domiciliário, Acolhimento Temporário de Crianças em Situação de Risco, Comunidades de Inserção, Apoio a Sem Abrigo, Apoio a Vitimas de Violência Doméstica.
A rede nacional Cáritas dá, anualmente, resposta a cerca de 100 mil pessoas no atendimento nacional e 40 mil pessoa em respostas sociais.
Queremos estar junto da população e contribuir para a proteção de todos – beneficiários, mas também agentes da Cáritas e grupos paroquiais – não sendo fonte de contágio nem de transmissão.
O reforço dos materiais de proteção foi a primeira ação de resposta à emergência precisamente para garantir a segurança dos nossos colaboradores e voluntários, mas também dos beneficiários.
As Cáritas Diocesanas, tomando os cuidados necessário e em articulação com as entidades locais, estão a efetuar distribuição de alimentos e a procurar soluções para os casos que vão surgindo.
Texto: Cáritas Diocesana de Beja