COVID-19 | Obrigada, por poder “estar perto”
COVID-19 | Testemunho de Ana Catarina Fernandes, Cáritas Diocesana de Coimbra
Sou fisioterapeuta. Gosto de cuidar, do toque, do carinho e gosto muito de estar junto dos mais velhos. Acompanhei, e vivo, a realidade de ser fisioterapeuta num Lar de Idosos, naquele que também é o meu Lar. A minha casa. E pela primeira vez, durante estes meses, tive medo de cuidar. Dizendo melhor, tive medo de não os conseguir proteger. De um vírus que chega sem avisar, que não nos dá tempo de preparação e não nos ensina como devemos agir. Deste maldito vírus que tanto medo nos deixa. Que nos impede de tocar, de abraçar, que nos dá uma distância social de segurança e diz que nos devemos proteger “estando longe”.
“Estamos longe, para podermos estar todos juntos daqui a uns tempos”, dizia aos meus utentes, em jeito de justificar o porque de não poderem receber visitas, de não poderem sair do quarto, de verem as suas rotinas alteradas… dizia eu, como se fosse assim tão simples. Como se não custasse “estar longe”, dos filhos dos irmãos, dos netos. Como se fosse fácil de perceber o porque de terem de passar os dias confinados aos quartos. Como se fosse confortável que todos à sua volta circulassem com máscara, viseira, toca, luvas. Como se fosse assim tão simples entender, que neste fase da vida, tenham de estar afastados para estarem protegidos. E foi aqui que percebi, eles são os verdadeiros heróis.
Pela resiliência com que aceitaram estes tempos. Pela forma como vivem a mudança. E foi aqui que senti, que não podia ter medo. E (re)descobri o porque de gostar tanto de estar e trabalhar junto dos mais velhos. Têm sabedoria e amor no olhar, sorriem com os olhos e vêem muito para além das máscaras que temos na cara. Já viveram uma vida inteira e estão a ensinar-nos como devemos viver o NOVO dia-a-dia.
Ensinam-nos que devemos parar, que temos de aprender a valorizar mais, a agradecer mais e a ser mais. Que cada dia é um NOVO começo. Que tem de haver tempo, para estar, para sentir e para viver.
Ensinam-me todos os dias, sorriem-me todos os dias e eu? Eu fui abençoada com a sorte de fazer parte do NOVO dia-a-dia deles. De viver estes tempos com eles, no nosso Lar.
Hoje, passados estes meses, continuo a fazer o que mais gosto: a cuidar. Desejo que eles ainda possam viver muitos NOVOS dias junto daqueles que mais amam. E agradeço por me terem deixado tirar lições tão bonitas destes tempos tão difíceis que vivemos. Juntos.
Ana Carolina Fernandes
Fisioterapeuta
Cáritas Diocesana de Coimbra
Desde o início da atual crise provocada pela propagação do novo Coronavírus – COVID-19, que a rede das 20 Cáritas Diocesanas responde ao aumento na procura de ajuda nos grupos considerados de apoio prioritário: população sénior, famílias e crianças em situação de vulnerabilidade, pessoas em situação de sem-abrigo, migrantes em situação de vulnerabilidade social.
A Cáritas Portuguesa assegurou, na primeira hora, todas as condições de saúde e higiene aos seus profissionais, voluntários e beneficiários. Disponibilizou, em abril, uma verba de apoio às Cáritas Diocesanas que nunca pararam o seu trabalho no terreno e identificaram como principal necessidade o acesso a bens alimentares.
Chegou a hora de reforçar e multiplicar a nossa ação no terreno.
Em todo o país, através do seu trabalho diário de contacto com a população, a Cáritas foi uma das primeiras organizações a sentir os efeitos socioeconómicos da COVID-19 e a alertar para as suas graves consequências junto das famílias portuguesas. Face às alterações sociais que foram impostas às famílias, muitas novas situações de pedidos de apoio surgiram e para elas, como sempre, a Cáritas criou uma resposta imediata.
Estamos comprometidos em cooperar para a inversão da curva da pobreza em Portugal e a partir de hoje toda a nossa ação se canaliza para dar resposta aos efeitos provocados pela Covid-19 a quatro níveis:
1) Apoio de primeira linha;
2) Apoio de Recuperação Sócio Económica Inclusiva;
3) Apoio à capacitação da estrutura social da rede nacional Cáritas;
4) Apoio à rede Cáritas Internacional
O apelo que a Cáritas faz a toda a população portuguesa é que acreditem que é possível inverter a curva da pobreza e que todos podem fazer a diferença. O pouco de muitos tornar-se-á numa gigante solidariedade.
O apelo que a Cáritas faz a toda a população portuguesa é que acreditem que é possível inverter a curva da pobreza e que todos podem fazer a diferença.
O pouco de muitos tornar-se-á numa gigante solidariedade.