Páscoa: O amor de Cristo nos impele
Caros amigos,
Enquanto nos preparamos para celebrar a Páscoa, finalmente o mundo está unido.
Estamos unidos com medo do que o amanhã trará, sem saber como vão as nossas sociedades suportar o impacto devastador da pandemia de Coronavírus e se nós ou os nossos familiares iremos sobreviver a este momento.
Estamos no jardim de Getsemani com os discípulos e a nossa fé está a ser abalada. Muitos de nós estão a sofrer e são tentados a sentir que não temos para onde ir, pois a ciência, os governos e o conhecimento que desenvolvemos até este momento da história não nos oferecem soluções. A pandemia está a tornar ainda mais profundo o sofrimento das pessoas vulneráveis - migrantes e refugiados, idosos, doentes, pobres e desempregados.
Instamos os nossos governos a garantir o acesso a cuidados de saúde e proteção social para todos – especialmente os mais vulneráveis.
Oramos para que os nossos líderes enfrentem o desafio de promover a unidade e da responsabilidade partilhada em todos os nossos países.
Neste ponto da história, ponto de inflexão que lança as nossas vidas e sociedades no caos, pode cada um de nós ter a honestidade e a coragem de dizer: “Eu sozinho não tenho a resposta”? Podem os governos admitir que erraram ao não permitir que todos pertencessem à família humana de maneira digna? Podem as nossas sociedades pôr de lado as preocupações económicas e mostrar que cuidam de todos sem exceção?
No meio da perda, incerteza e sofrimento, algo incrível está a acontecer: percebemos os laços que formam a família humana. Laços que anteriormente tínhamos como garantidos ou ignorados. No isolamento todos nos tornamos vulneráveis e o sofrimento global a que assistimos revela-nos que precisamos dos outros e outros também precisam de nós.
É como se a pedra que cobre a túmulo estivesse lentamente a ser levantada para permitir uma luz de reconhecimento. Esta luz anuncia a Páscoa e o Cristo ressuscitado.
Enquanto isso, mudanças que seriam impensáveis há três meses estão realmente a acontecer: a qualidade do ar melhorou em vários países e as partes em guerra entraram em cessar-fogo. Isso pode ser temporário, mas lembra-nos que os problemas humanos, aparentemente irresolúveis, não são eternos. Lembra-nos que Jesus ficou no túmulo por um breve período antes de subir à vida eterna. A morte não tem a palavra final quando abrimos espaço à esperança.
A Cáritas enfrenta esta emergência global como uma confederação e trabalha em unidade, partilhando experiências com outros países e oferecendo ajuda mútua. Uma a uma, as organizações da Cáritas em todo o mundo ativaram-se para alertar, prevenir e cuidar das pessoas afetadas pelo Coronavírus.
O meu agradecimento mais profundo aos trabalhadores e voluntários da Cáritas e a todos aqueles que estão ao lado dos que estão doentes ou são mais vulneráveis e no meio desta crise. Sinto imensa gratidão por todos aqueles que de forma confiante se entregam plenamente para trazer as luzes do amor e da esperança à vida dos outros neste momento sombrio. A equipa e os voluntários da Cáritas e as suas famílias estão nas minhas orações enquanto as nossas comunidades enfrentam esse enorme desafio.
“Caritas christi urget nos” – o amor de Cristo nos impele (2 Coríntios 5:14). Este amor, visto em pequenos e grandes gestos de esperança e solidariedade, chama-nos para um novo futuro e uma nova maneira de viver. COVID-19 não conhece fronteiras, mas também a fé, a esperança e o amor.
A resposta para esta crise está em todos nós e na nossa unidade. Enquanto em todo o mundo vivemos a Páscoa sem a possibilidade de comunhão física, sem a possibilidade de celebrarmos a Eucaristia fisicamente juntos, temos um tempo de desaceleração, onde podemos refletir profundamente sobre o que “Corpo de Cristo” significa para cada um de nós. Nas trevas desta crise, a luz de Cristo brilhará. Jesus ressuscitou verdadeiramente! Ele não morre. Que Jesus ressuscite para todos ao redor do mundo através do nosso amor!
Oremos pela serenidade que nos faz aceitar as coisas que não podemos mudar, a coragem de mudar aquilo que podemos e a sabedoria para reconhecer a diferença.
Oremos para encontrar o significado mais profundo deste desafio que enfrenta toda a humanidade e que nos chama à fé e à ressurreição.
Desejo a todos uma Páscoa de amor e paz.
Seu em Cristo,
Cardeal Luis Antonio Gokim Tagle