Ciclone Idai: 2 anos depois
ONG portuguesas apoiam 22.500 pessoas a combater a fome
O Ciclone Idai, desatra natural, que assolou a região norte de Moçambique, aconteceu em 13 e 14 de março março de 2019, mas dois anos depois a situação continua a ser dramática, principalmente, ao nível da segurança alimentar. Enfrentando uma das épocas ciclónicas mais fortes de sempre, muitos dos avanços ao nível da produção agrícola tiveram grandes retrocessos.
Estima-se que 2,9 milhões de pessoas nas áreas rurais (aproximadamente 2,1 milhões) e urbanas (800 mil) em todo o país vivam em situação de insegurança alimentar severa*.
Como resposta de apoio a Moçambique, as ONG portuguesas Oikos, Cáritas Portuguesa e ADPM – Associação de Defesa do Património de Mértola, unidas em parceria com a Cáritas Moçambicana e a Associação Luarte – continuam a trabalhar nas zonas críticas mais afetadas após a passagem dos ciclones Idai e Kenneth – províncias de Sofala e Cabo Delgado – apoiando na recuperação do sector agrícola para garantir a segurança alimentar e nutricional das famílias e a restauração económica das comunidades.
A intervenção, está construida para apoiar um conjunto de 22 500 pessoas, é desenvolvida em consórcio, sob a coordenação da Oikos e contribui para a recuperação produtiva das famílias mais afetadas, a permitir, em autonomia e de forma sustentável, assegurar a satisfação das necessidades alimentares e nutricionais do agregado familiar.
A prioridade no momento é proporcionar às famílias condições que lhes permitam produzir e garantir os seus alimentos: foram feitas entregas de sementes (milho, feijão e gergelim) e materiais agrícolas na província de Sofala. Foram também criados diferentes campos de demonstração agrícola, “escolas” para ensino de novas técnicas de cultivo que permitam melhorar a eficiência na produção.
Estas ONG vão ainda melhorar a capacidade de armazenamento de cultivos, para as famílias não perderem as suas colheitas e apoiar as pessoas a criar novas fontes de rendimento, vivendo da agricultura.
O trabalho está ainda fortemente orientado para melhorar as capacidades locais de resposta aos impactos futuros de desastres naturais na segurança alimentar e meios de vida.
Esta ação é financiada pelo Mecanismo de Financiamento para Apoio à Recuperação e Reconstrução das Regiões afetadas pelos ciclones Idai e Kenneth em Moçambique, criado pelo Governo Portuguesa, através do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua.
Recrode-se que nos dias 14 a 15 de março, o ciclone Idai atingiu, de forma severa, a região central de Moçambique. Segundo dados do Instituto Nacional de Calamidades de Moçambique, a 18 de abril, existiam 603 mortes registadas, mas estima-se que terão sido mais de 1 000 as vítimas mortais do Ciclone Idai e, mais tarde, do Ciclone Kenneth.
As Regiões Central e Norte de Moçambique estavam já em situação de emergência desde 5 de março de 2019, devido às cheias e a Cáritas estava já no terreno em resposta as estas populações. A passagem dos dois ciclones veio agravar esta situação e para além das vítimas humanas, causou interrupções no fornecimento de energia, nas comunicações em grande escala e cortou as redes rodoviárias.
De uma forma geral estima-se que a taxa nacional de pobreza, nas áreas afetadas, esteja neste momento em 64%, podendo subir até aos 79%.
* Segundo relatório IPC sobre Moçambique feito sob coordenação do Secretariado Técnico de Segurança Alimentar e Nutrição