Hoje é dia de festa. Celebra-se a Páscoa
Sem confraternização, sem reunião da família, sem visita pascal, sem o som do sino pelas ruas, nem bênção das casas. O padre não entrará anunciando que Jesus Cristo ressuscitou, mas teremos de encontrar novos meios de garantir a confraternização e a alegria.
O distanciamento social vestiu a solidão de atitude cidadã e estamos todos no mesmo barco por isso, o desafio, é ainda assim celebrar. Apesar de tudo a Páscoa não perdeu o sentido e ainda devemos festejar a capacidade que temos de usar a alegria, a amizade e o amor para fazermos sentir a nossa presença, ouvir a nossa voz para que ninguém se sinta só
Não há doença que não se cure, nem crise que não se ultrapasse se estivermos juntos e acreditarmos que é possível renascer no nosso coração.
A solidão é o combate que está nas nossas mãos vencer e os exemplos criativos são algo que não devemos perder quando o mundo se puder encontrar. A solidão era já um flagelo social antes da pandemia. Hoje está mais visível, aflige mais pessoas, mas a nossa experiência nesta luta vai poder reforçar a nossa ação. Vale a pena registar as iniciativas das comunidades para levar alegria aos sós e aos doentes.
Usaram-se as redes sociais e a internet e o muito longe ficou muito perto.
Falou-se, dançou-se e cantou-se na rua, na varanda, à janela e ao postigo.
Criaram-se rotinas de contacto. Fizeram-se compras para os vizinhos. As redes familiares reestruturaram-se para acompanhar os mais velhos.
Pode o convívio ser com distanciamento social e não haver isolamento social. Se fomos capazes de o fazer, não podemos perder esta aprendizagem.
Temos de alimentar a esperança e renascer em cada dificuldade com que tropeçamos. Não deixar que a doença nos alcance, e se acontecer, vencê-la com energia e confiança.
A crise pandémica, não tem de ser (e não tem sido) uma crise de presença e de solidariedade. Os sinais que tenho podido observar dizem bem o contrário e fazem-me acreditar que conseguiremos, todos juntos, enfrentar as dificuldades que ainda teremos pela frente. As pessoas e as instituições que no terreno se defrontam com a complexidade deste tempo merecem ser celebradas e também agradecem.
Infelizmente estamos todos mais tolhidos com outras guerras em que se torna muito mais complexo fazermo-nos presentes e é por isso que tenho de deixar uma palavra de alerta neste dia.
Há no mundo várias crises humanitárias severas. Em Moçambique, Cabo Delgado, vivem-se tempos de grande violência e uma desgraça humanitária que não nos pode deixar indiferentes.
Desejo-vos Uma Páscoa feliz e um Domingo abençoado: Aleluia!
Rita Valadas
Presidente da Cáritas Portuguesa
(crónica emitida no domingo, 4 de abril, no espaço “A Opinião”, na TSF