Laudato Si: que mundo queremos deixar?
Faz 6 anos que foi assinada a Laudato Si, a segunda encíclica do papado de Francisco.
Desde 24 de maio de 2020 e até hoje a igreja viveu um “Ano Especial” dedicado a esta enciclica com o objetivo de aprofundar o tema da ecologia integral. Esta última semana, viveu-se o culminar de várias iniciativas que terminam exatamente no dia de hoje.
Falamos de um texto sobre o cuidado da casa comum, a nossa casa Terra, que veio surpreender não apenas a Igreja, mas a sociedade no seu todo. E nestas coisas, já se sabe, que as surpresas podem ser sempre agradáveis para uns e mais desagradáveis para outros. Este Papa tem esse efeito nas pessoas. O tema do ambiente é um tema que mexe com muitos outros e alguns bem estratégicos … desde logo a economia.
A “ecologia integral” foi assim trazida para todos os fóruns de reflexão lembrando que há uma preocupação que deve ser comum a todos, católicos e não católicos: a pessoa humana. Esta pandemia que nos atropelou, parece ter vindo ainda reforçar mais a mensagem deste texto de Francisco.
Temos uma nova oportunidade de olhar para a nossa forma de ser humanidade, mas também, de ir além da reflexão …de agir. Podemos ir alterando pequenos comportamentos individuais, poderemos também criar, olhar à nossa volta e criar o movimento da tal borboleta que provoca efeitos mesmo longe de nós.
Esta ideia ressoou em todos e é animadora a forma como os mais jovens se envolveram nesta defesa do ambiente. Vejo isso com alegria, com esperança.
É certo que, como em todos os temas, há achismos, protagonismos e oportunismos, mas a verdade é que a geração mais nova está a ser protagonista de uma mudança e isso deve ser valorizado.
Pessoalmente parece-me que vale a pena ler esta encíclica e absorver as pequenas dicas e os oportunos conselhos desta “Laudato Si”. Talvez pensar numa das suas evidências mais importantes, para refletir, que é o facto de verdadeiramente termos consciência de que há uma interligação entre tudo o que fazemos e somos.
Ninguém é nada sozinho, ninguém se salva sozinho, não há instituições capazes de fazer seja o que for de forma isolada. Isto tem de entrar nas nossas práticas, no nosso dia-a-dia. Seja nas relações de vizinhança, seja nas relações de poder político, seja nas relações entre religiões. Somos um todo e se não agirmos como tal, apoucaremos a nossa ação… seremos apenas um conjunto de pequenos conjuntos, sem impacto no devir e no cuidado da casa comum.
Que tipo de mundo queremos deixar?
Rita Valadas
Presidente da Cáritas Portuguesa
(crónica emitida no domingo, 23 de maio, no espaço “A Opinião”, na TSF