2021: o ano da esperança
“Expectativa”. Esta é sempre a palavra que antecede qualquer início de ano. O novo ano que agora vivemos é todo ele esta “expectativa”. O que vai acontecer? Como vamos resistir? Uns acreditam, outros desesperam-se. Para nós, Cáritas, é tempo de fazer das palavras de Francisco um guia estratégico de ação: «A solidariedade manifesta-se concretamente no serviço, que pode assumir formas muito variadas de cuidar dos outros. O serviço é, «em grande parte, cuidar da fragilidade. Servir significa cuidar dos frágeis das nossas famílias, da nossa sociedade, do nosso povo». Nesta tarefa, cada um é capaz «de pôr de lado as suas exigências, expetativas, desejos de omnipotência, à vista concreta dos mais frágeis (…). O serviço fixa sempre o rosto do irmão, toca a sua carne, sente a sua proximidade e, em alguns casos, até “padece” com ela e procura a promoção do irmão. Por isso, o serviço nunca é ideológico, dado que não servimos ideias, mas pessoas».[89]» (Fratelli Tutti, 115)
Estamos ao serviço e acreditamos, por isso, que a esperança é para nós um caminho obrigatório e é para que ela possa ser possível na vida daqueles a quem servimos que iremos dar continuidade ao nosso trabalho reforçando a nossa ação onde ela for necessária e colocando sempre o outro, o frágil, no centro das nossas atividades.
O ano de 2021 é um ano de renovação para a Cáritas Portuguesa. Uma nova direção lança obrigatoriamente um novo olhar sem, contudo, deitar por terra o que de bom foi construído. Por isso, estaremos a dar continuidade ao trabalho realizado, renovando-o sempre que assim fizer sentido. Estaremos a trabalhar no novo Plano Estratégico e através dele, definindo metas e objetivos a alcançar, procuramos reforçar a nossa presença nas comunidades e o nosso trabalho em rede através das Cáritas Diocesanas. Vivemos meses de grande constrangimento provocados pela Pandemia da COVID-19. Alterou-se a forma como planeamos e como trabalhamos, mas sabemos agora que os efeitos sociais e económicos da COVID-19 estarão vincados nas vidas das famílias e por isso o nosso trabalho tronou-se ainda mais exigente. Vamos continuar a olhar os que se encontram mais frágeis com o cuidado de quem serve, como nos pede Francisco.
Este é um “cuidado” que não se limita ao outro que sofre, mas também ao meio que nos envolve. Como parte da rede internacional Cáritas estaremos, também, atentos às indicações da Caritas Internationalis que pede a todas as Cáritas Nacionais um olhar atento a todas as formas de assegurar que as diretrizes da Laudato Si fazem parte da cultura Cáritas. Da mesma forma estaremos de olhar atento aos países mais pobres e àqueles que mais precisam do apoio da rede Cáritas. Lembramos aqui, particularmente, a situação vivida em Moçambique, na província de Cabo Delgado, diocese de Pemba. A Cáritas Portuguesa, em parceria com a Cáritas Espanha, mantem a sua presença e apoio a esta população que lembra, na pessoa do seu bispo D. Luiz Lisboa, que a ajuda a esta população não pode parar. Num ano em que Portugal terá um papel importante do ponto de vista político, este é um tema que a Cáritas deseja ver na agenda da presidência portuguesa da União Europeia, no primeiro semestre de 2021. Recorda-o Francisco de forma muito clara na carta Encíclica Fratelli Tutti: “A verdadeira qualidade dos diferentes países do mundo mede-se por esta capacidade de pensar não só como país, mas também como família humana.” (141)
Mas este será também um ano de celebrar. Estaremos a assinalar 65 anos sobre a assinatura dos primeiros estatutos da Cáritas Portuguesa, ou seja, estaremos a agradecer a nossa História, aquilo que somos e aquilo que já vivemos não como vitórias, mas como marcos de uma caminhada feita em Igreja.
Seguindo o desafio que Francisco deixou ao mundo e à Igreja na Mensagem para o Dia Mundial da Paz 2021, dia 1 de janeiro, desejamos neste novo ano conseguir viver o “compromisso comum, solidário e participativo para proteger e promover a dignidade e o bem de todos, enquanto disposição a interessar-se, a prestar atenção, disposição à compaixão, à reconciliação e à cura, ao respeito mútuo e ao acolhimento recíproco” desta forma saberemos que estamos a contribuir para construir uma cultura de paz onde todos, nos gesto mais pequenos, têm um papel a desempenhar e onde a solidariedade é “uma forma de fazer história” (Fratelli Tutti, 116)