Ano Europeu da Juventude
A EXPECTATIVA E O DIREITO AO REJUVENESCIMENTO
Na sequência da pandemia e da evidência do impacto que esta crise sanitária teve nos jovens, a UE designou 2022 Ano Europeu da Juventude.
Nas palavras do presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, “não podemos esquecer o impacto que a crise da COVID-19 teve nas gerações jovens. Admiro a vossa resiliência ao longo destes tempos difíceis.”
Hoje partilho convosco uma reflexão sobre juventude. Como em muitos outros temas não podemos deixar passar este ano só celebrando a efeméride. Temos de tornar esta oportunidade num espaço de promoção de pensamento e de mudanças.
Será que, enquanto estrutura europeia fomos capazes de entender que era necessário levantar esta bandeira e colocar o foco na importância da participação ativa dos jovens na vida social, política, cultural e nas organizações? Fora da emergência é importante, agora, perceber como é que o país, as organizações, as estruturas políticas, sociais e governamentais vão ser capazes de colocar isto na agenda e, na prática, na vida dos jovens.
Até onde seremos capazes de ir?
Os jovens, e aqui penso nos jovens adultos em início de vida ativa, são porventura as grandes vítimas da crise COVID e deste impacto parece-me que ainda não conseguimos ver a imagem completa em termos de implicações futuras… Não podemos esquecer que a vida destes jovens tem sido feita entre crises, mas que o confinamento e a “dessocialização” desta crise tiveram implicações brutais na sua vida e consequentemente no seu futuro.
Há algumas questões que rapidamente se identificam e têm já começado a ser levantados alguns sinais de alerta.
Desde logo a questão da saúde mental e impacto dos períodos de confinamento no desenvolvimento e envolvimento social dos jovens.
Depois as frechas que se abriram no panorama da educação. Temos uma mancha de jovens que iniciou o seu percurso universitário em situações completamente anormais e, por outro lado, jovens adultos que, tendo terminado os seus estudos, não se sentem preparados nem acolhidos pelo mundo do trabalho.
Há neste ambiente de educação um sentimento de frustração que deverá ser trabalhado. É a própria UNESCO quem desafia os países fazer este caminho coletivo através da construção de um novo contrato social para a educação. A educação como direito universal e como ferramenta de combate às desigualdades é um conceito sob o qual não pode haver divergências e que deve ser defendido por todos como um direito de todos, independentemente do caminho que conduz a essa “garantia”. Não pode haver dúvidas sobre o papel que a educação tem no caminho para a justiça social, a sustentabilidade e a paz. Disto mesmo nos fala o Papa Francisco no Pacto Global para a Educação, outro documento da Igreja que foi apresentado no final do ano de 2021, no Dia Mundial do Professor, a merecer a atenção de todos independentemente das crenças. Relembra-nos Francisco que “é preciso uma aldeia para educar uma criança”. Temos de estar todos envolvidos e comprometidos naquilo que se passa dentro das escolas.
Naturalmente que isto é um caminho que se vai percorrendo e que vai além do Ano Europeu da Juventude, mas que este ano possa ser visto como um marco neste caminho que compromete o desenvolvimento económico e social de Portugal e da Europa.
Não deixa de ser uma feliz coincidência que, em Portugal, este ano comece também com o exercício de eleições…Sabemos já, como tem sido crónica a falta de participação dos jovens. É fundamental perceber as razões deste comportamento para perceber também como agir para transformar. Se os jovens não estão nas preocupações dos decisores políticos e se não estão nos seus programas as preocupações e as respostas às ansiedades dos jovens, então, eles não vão participar. E os jovens, por sua vez, têm de se assumir como um grupo de interesse, ou seja, o seu voto tem de ganhar tal importância, que os políticos o queiram disputar.
Para já tem de ser claro que há um exercício que todos temos de fazer, quer sejamos decisores políticos ou sociedade civil. Todos os que temos algum tipo de responsabilidade temos de trabalhar para que os jovens deixem de ser entendidos como um suplemento da nossa ação, para serem reconhecidos como agentes ativos das nossas organizações. Tenho muita esperança que assim seja.
O primeiro exercício será, por isso, de confiança por parte de quem está no lugar de decisão, mas também, importa dizer, de grande autoconfiança por parte dos próprios jovens. PARTICIPEM. Façam ouvir a V. voz.
Rita Valadas
Presidente da Cáritas Portuguesa
(Crónica emitida no domingo, 16 de janeiro de 2022, no espaço “A Opinião”, na TSF