Crise Social em Portugal
Uma leitura da rede nacional Cáritas
A rede nacional Cáritas acompanha com preocupação a atual situação da sociedade portuguesa e os impactos que as sucessivas crises provocam no bem-estar das famílias.
As condições de vida de muitas famílias em Portugal já eram muito frágeis. Esta fragilidade é visível em inúmeros dos chamados “indicadores de privação material severa”. Também para muitas destas famílias, os desafios económicos atuais representam uma barreira difícil de transpor, principalmente, sem recurso a ajudas fora do seio familiar.
Veja-se, por exemplo, o caso de “uma família com dois adultos e uma criança, que adquire sempre produtos das gamas mais baratas em Portugal, o orçamento alimentar básico mensal aumentou €45 ao longo do último ano. O aumento das despesas de primeira necessidade (incluindo também combustíveis, saúde, educação, comunicação, água, rendas, eletricidade e vestuário) terá sido mais do dobro. Estes valores são muito superiores aos apoios previstos para acudir à situação de emergência gerada pela inflação”.
O acumulado de aumentos e a sobreposição de crises sociais são as razões pelas quais as famílias procuram a ajuda da rede nacional Cáritas. Também a Cáritas luta para dar resposta ao aumento das solicitações, à sua diversidade e, por outro lado, ao aumento dos custos de gestão, para garantir que quem nos procura encontra sempre uma porta aberta e a resposta de emergência de que necessita. Do pulsar da nossa rede, composta por 20 Cáritas Diocesanas, representando todas as regiões do país, que anualmente apoia cerca de 120 mil pessoas, podemos afirmar hoje que:
– há um aumento generalizado em todo o país dos pedidos de ajuda;
– as famílias que mais procuram a Cáritas são famílias de classe média e média-baixa. Há uma tendência comum para um aumento da procura por parte de famílias em situação de empregabilidade;
– o acesso à habitação constituí uma das principais dificuldades para a integração de pessoas vulneráveis, nomeadamente jovens estudantes, famílias com baixo rendimento e pessoas sem abrigo. Não há medidas políticas nem estratégias que permitam vislumbrar soluções no curto prazo, o que compromete o futuro de muitos;
– há um aumento generalizado de famílias de outros países que procuram ajuda de emergência;
– existe um decréscimo de disponibilidade por parte dos doadores e as medidas com vista à sustentabilidade das respostas sociais tardam em chegar;
“Como Cáritas acreditamos que uma parte fundamental do nosso trabalho se faz nas relações de proximidade e apesar das dificuldades continuaremos a procurar caminhos eficazes para inverter as situações de vulnerabilidade e dar às famílias a quem servimos um olhar de esperança sobre o futuro.” Rita Valadas, presidente da Cáritas Portuguesa
Portugal enfrenta um final de ano de 2022 e um início de ano de 2023 muito preocupante. As diversas proveniências das crises com que nos debatemos exigem intervenção multissetorial e uma grande capacidade de rentabilizar as interdependências.