Paz, Dignidade e Solidariedade para a população da Ucrânia
Estará a velha Europa em risco?
Por esta altura já ninguém conseguirá ignorar o que se passa a leste. Ainda me lembro quando se celebrou o fim da Guerra Fria …mas o medo retornou acrescentando ainda mais incertezas aos tempos que vivemos.
Hoje assinala-se o Dia Mundial da Justiça Social, implementado em 2007 quando a ONU “reconheceu que o desenvolvimento e a justiça social são indispensáveis para alcançar e manter a paz e segurança entre as Nações”
A rede Cáritas na Europa, está profundamente preocupada com a crescente tensão nas fronteiras da Ucrânia. Ecoamos firmemente o apelo do Papa Francisco no último domingo, confiando “à consciência dos líderes políticos, todos os esforços em nome da paz”, pois qualquer possível escalada pode causar sofrimento humano adicional ao povo da Ucrânia e da região como um todo. Já não podemos fingir que este tipo de cises humanitárias só acontecem lá longe.
O povo da Ucrânia já enfrentou oito anos de conflito armado no leste do país e nestes 8 anos este foi um conflito amplamente esquecido.
Mais de 1,5 milhões de pessoas foram deslocadas, enquanto cerca de 2,9 milhões precisam atualmente de proteção humanitária. A Cáritas Ucrânia está ativa há 30 anos e responde a este conflito, em curso, desde 2014. Durante este período, ajudou quase 950.000 pessoas nas áreas afetadas, começando pelas que vivem em condições mais vulneráveis, graças ao apoio incansável de mais de 2.000 colaboradores e voluntários.
A deterioração do diálogo político e a escalada das hostilidades ameaçam aumentar exponencialmente essas carências, e é imperiosa uma ação rápida para responder às necessidades humanitárias, incluindo aquelas relacionadas com o acesso a bens de primeira necessidade e apoio psicossocial. Independentemente das tensões atuais, as necessidades das pessoas atingidas por esta crise devem ser priorizadas e o acesso humanitário deve ser concedido continuamente sempre que necessário.
A rede Cáritas apela às diferentes partes com responsabilidades nesta crise para que mantenham as janelas do diálogo político abertas para evitar uma catástrofe humanitária que pode afetar gravemente a região europeia como um todo.
Como refere Michael Landau, Presidente da Caritas Europa, “O sofrimento do povo da Ucrânia deve ser visto e considerado. A segurança e a proteção de crianças, mulheres e homens devem ser colocadas no centro das atenções políticas.”.
Ao assinalar o Dia Mundial da Justiça Social a Cáritas pede mais esforços diplomáticos e diálogo político para que se evite uma ação militar. Se isso não for feito, milhões de ucranianos fugirão de suas casas e precisarão de proteção, seja em outros lugares da Ucrânia ou em países vizinhos. Isso constituiria um desastre humanitário numa escala não vista na Europa há várias décadas.
A Cáritas Portuguesa está atenta a esta situação e estamos absolutamente empenhados em apoiar o povo da Ucrânia durante estes tempos difíceis, dedicando atenção especial aos mais vulneráveis. O povo ucraniano, e toda a população da região circundante, merecem viver em paz e com dignidade. Devemos todos trabalhar para que haja uma resolução pacífica deste conflito e estar prontos para responder às consequências humanitárias que venham a resultar desta situação.
Rita Valadas
Presidente da Cáritas Portuguesa
(Crónica emitida no domingo, 20 de fevereiro de 2022, no espaço “A Opinião”, na TSF