Pela Paz sem vencedores e sem vencidos
Dia Nacional da Caritas
Caritas. Ou seja, caridade, amor, solidariedade, desenvolvimento, ternura, preocupação, fraternidade…tudo em nome da Fé e da comum humanidade. Sim, o Amor que transforma!
Deus ouviu o grito do povo escravo no Egipto e, diante de tais gritos, não podemos fechar nem os ouvidos nem o coração. Deus, cheio de compaixão (como diz o Salmo) decidiu acabar com a tragédia humana que a escravatura do povo de Israel representava. Chama Moisés que é atraído no Monte Horeb por uma chama ardente. Uma chama de fogo que chama ao risco do compromisso. E, pronto, lá fica o rebanho sem pastor para que o povo escravo ganhasse um líder. O processo de libertação ganhou corpo e concretizou-se. É o Amor que transforma!
O Evangelho fala-nos de um ditador assassino que mata a seu bel prazer, mas também de catástrofes naturais que provocam inúmeras vitimas. Estas sofrem pelos seus pecados? Não. As guerras, as violências, as tragédias fazem muitas vítimas inocentes que, quando sobrevivem precisam de ser apoiadas, reabilitadas, abrigadas, amadas. Os tempos que correm estão a ser férteis em tragédias humanas e humanitárias, com milhões de pessoas a gritar por mãos que ajudem e corações que amem. De facto, só o Amor transforma!
A tragédia das tragédias é a guerra. Estes dias estão a ser terríveis, com todos os media de câmaras apontadas para a Ucrânia, mas convém não esquecer as dúzias de guerras e focos de violência que matam e destroem por esse mundo além. Celebrar o Dia da Caritas é também ecoar as palavras e atitudes proféticas do papa Francisco. Diz na Fratelli Tutti que o mundo está a viver uma ‘terceira guerra mundial por pedaços’ (nº25). Garante: ‘Jesus Cristo nunca convidou a fomentar a violência e a intolerância’ (238). Diz: ‘a guerra é a negação de todos os direitos e uma agressão dramática do meio ambiente’ (257). Afirma: ‘toda a guerra deixa o mundo pior do que o encontrou. A guerra é um fracasso da política e da humanidade, uma rendição vergonhosa, uma derrota perante as forças do mal’ (261). Quando a resposta actual, de todos os quadrantes do mundo é aumentar o orçamento em gastos militares, o Papa insiste: ‘com o dinheiro usado em armas e noutras despesas militares, constituamos um Fundo mundial para acabar de vez com a fome e para o desenvolvimento dos países mais pobres, a fim de que os seus habitantes não recorram a soluções violentas e enganadoras, nem precisem de abandonar os seus países à procura de uma vida mais digna’ (262).
Olhemos aos sinais do Papa. Muito antes de começar a guerra na Ucrânia, já apelava a um diálogo que impedisse o início dos combates. Logo que a guerra arrancou, ele foi até à embaixada russa pedir o calar das armas e oferecer a Igreja como mediadora. Continuou a apelar ao cessar fogo e à protecção das populações, repetindo: ‘Calem-se as armas! Quem faz a guerra esquece a humanidade’! Lançou um dia de jejum e oração (a quarta-feira de cinzas) pela paz na Ucrânia. Mais recentemente, mandou dois dos seus cardeais mais influentes à Ucrânia e países vizinhos para mostrar a proximidade afectiva e efectiva do papa e da Igreja católica às pessoas vítimas da guerra. Com estes cardeais seguiu muita ajuda humanitária… E que podemos dizer do enorme trabalho solidário da Caritas, a provar ao mundo que só o Amor transforma!
Se os políticos e militares têm dificuldade de ouvir Deus e o Papa, será que abrirão os ouvidos aos poetas? Espero bem que sim e, por isso, termino com Sophia: Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos / A paz sem vencedor e sem vencidos. / Que o tempo que nos deste seja um novo / Recomeço de esperança e de justiça./ Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos / A paz sem vencedor e sem vencidos.
Erguei o nosso ser à transparência / Para podermos ler melhor a vida / Para entendermos vosso mandamento / Para que venha a nós o vosso reino / Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos / A paz sem vencedor e sem vencidos.
Fazei Senhor que a paz seja de todos / Dai-nos a paz que nasce da verdade. / Dai-nos a paz que nasce da justiça / Dai-nos a paz chamada liberdade / Dai-nos Senhor paz que vos pedimos / A paz sem vencedor e sem vencidos’.
Tony Neves
Missionário Espiritano, em Roma
III Domingo da Quaresma. 20.03.2022