Cáritas condena cortes na assistência humanitária
A Caritas Internationalis considera “deplorável” a onda de cortes drásticos na assistência ao desenvolvimento internacional que está a varrer os países mais ricos do mundo. A decisão do Reino Unido de reduzir o seu orçamento de ajuda em 40% é apenas a mais recente demonstração de indiferença cruel para com o bilhão de pessoas mais pobres do mundo, que enfrentam guerra, fome e pobreza desumanizante. Esta decisão levará ao abandono de milhões de pessoas que sofrerão diretamente as consequências destas decisões.
Para além do congelamento de toda a assistência dos EUA, a França, os Países Baixos, a Suíça, a Alemanha e o Reino Unido também reduziram a sua assistência internacional retirando mais 12,5 mil milhões de dólares ao bilhão de pessoas mais pobres do mundo.
A Caritas Internationalis está consternada com as decisões destes governos de reduzir drasticamente os seus orçamentos de Assistência Oficial ao Desenvolvimento (AOD) em favor do aumento das despesas com a defesa. Esta mudança terá consequências devastadoras para milhões de pessoas em todo o mundo, impulsionando a migração forçada e minando a estabilidade que estes países procuram proteger. Mais uma vez, as contas das nações mais ricas estão a ser equilibradas à custa das pessoas mais pobres.
Estas decisões sinalizam uma perigosa retirada da responsabilidade global num momento de crises humanitárias sem precedentes.
O impacto do congelamento do financiamento dos EUA já está a manifestar-se:
- Programas críticos de assistência alimentar foram suspensos, empurrando milhões de pessoas – especialmente na África Oriental e no Oriente Médio – para o limiar da fome. No Sudão, 24 milhões de pessoas necessitam urgentemente de comida, 12 milhões estão em risco de fome, enquanto 750.000 pessoas já estão em situação de fome extrema. Na Etópia, 3 milhões de pessoas perderam serviços essenciais, enquanto na R.D. do Congo 1,2 milhão de pessoas ficaram sem assistência vital.
- Os serviços de saúde foram afetados, limitando o acesso a vacinas, cuidados maternos e medicamentos que salvam vidas. No Quénia, crianças desnutridas deixaram de receber alimentos terapêuticos, aumentando o risco de desnutrição aguda e morte.
- O apoio a regiões afetadas por conflitos diminuiu, alimentando ainda mais o deslocamento e a instabilidade.
Estes não são apenas números abstratos num orçamento. São vidas perdidas, futuros destruídos e um mundo cada vez mais volátil.
Com os governos europeus a seguir o mesmo caminho, as consequências só podem ser catastróficas. Com a fome a ameaçar partes de África, guerras a devastar a Ucrânia e o Oriente Médio, e desastres climáticos a forçar comunidades inteiras a abandonar os seus lares, este não é o momento para se virar para dentro. Abandonar este compromisso não é apenas uma mudança de política – é uma traição da responsabilidade moral e estratégica.
Estas decisões também representam um golpe sério para o multilateralismo num momento em que o mundo precisa urgentemente de um forte enquadramento para a paz, a estabilidade e o desenvolvimento. Este ano, a Conferência das Nações Unidas sobre o Financiamento do Desenvolvimento terá lugar em Sevilha, Espanha, em julho, com o objetivo, como afirmou o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, de “trazer uma medida de justiça para a economia global e ajudar a colmatar as profundas divisões que afetam o nosso mundo.” Cortar a ajuda internacional agora mina esses esforços e enfraquece a resposta global às crescentes crises humanitárias.
Alistair Dutton, Secretário-Geral da Caritas Internationalis, afirmou:
“A Caritas Internationalis deplora a onda de cortes drásticos na assistência ao desenvolvimento internacional que está a varrer os países mais ricos do mundo. A decisão do Reino Unido de reduzir novamente o seu orçamento de ajuda em 40% é apenas a mais recente demonstração de indiferença cruel para com o bilhão de pessoas mais pobres do mundo, que enfrentam guerra, fome e pobreza desumanizante. Esta decisão levará à morte de milhões de pessoas e trairá centenas de milhões mais, que sofrerão enormemente como consequência.
Instamos fortemente todos os governos a reconsiderarem estes cortes cruéis e a honrarem os seus compromissos para com as pessoas mais pobres do mundo. As pessoas mais pobres não devem pagar o preço da defesa; gastar 0,7% do RNB na assistência ao desenvolvimento internacional deve permanecer o nosso padrão; os objetivos de desenvolvimento sustentável devem continuar a ser o nosso objetivo internacional. Isto não é sobre política. É sobre pessoas e humanidade.
Apelamos aos líderes governamentais, empresariais e da sociedade civil que se oponham firmemente a estes cortes. Virar as costas aos mais vulneráveis do mundo não é apenas estrategicamente imprudente – pondo em risco a paz, a estabilidade e vidas humanas – é moralmente indefensável. Agora é o momento para uma liderança que priorize a compaixão, a solidariedade e uma visão partilhada para um mundo melhor. Não podemos abandonar aqueles que mais precisam de nós!”