Colocar os pobres em primeiro lugar na sociedade global
Na Mensagem para o Dia Mundial da Paz, Bento XVI sublinha que “se reserve espaço adequado para uma correcta lógica económica por parte dos agentes do mercado internacional, uma correcta lógica política por parte dos agentes institucionais e uma correcta lógica participativa capaz de valorizar a sociedade civil local e internacional”.
Divulgada hoje (11 de Dezembro), no Vaticano, o documento do Papa coloca a tónica nas várias formas de pobreza. Só eliminando a pobreza se consegue construir a paz. Estas insuficiências – não só materiais – “favorecem ou agravam os conflitos, mesmo os conflitos armados” – realça.
Na Mensagem para este dia – celebra-se a 1 de Janeiro – Bento XVI recorre aos seus antecessores, especialmente João Paulo II, para fundamentar a relação causa/efeito da pobreza. Neste combate à pobreza, o Papa salienta que é fundamental “uma análise atenta do fenómeno complexo que é a globalização”. Esta análise convida “a pôr em prática o fruto das pesquisas realizadas pelos economistas e sociólogos sobre tantos aspectos da pobreza”. E acrescenta: “Mas a evocação da globalização deveria revestir também um significado espiritual e moral”.
Com o título «Combater a pobreza, construir a paz», a Mensagem para o Dia Mundial da Paz esclarece que “é preciso ter uma visão ampla e articulada da pobreza”. Se esta fosse apenas material, “para iluminar as suas principais características, seriam suficientes as ciências sociais que nos ajudam a medir os fenómenos baseados sobretudo em dados de tipo quantitativo”. E avança: “Sabemos porém que existem pobrezas imateriais, isto é, que não são consequência directa e automática de carências materiais”.
O extermínio de milhões de nascituros não resolve o problema da pobreza
Ao reflectir sobre a pobreza e implicações morais, Bento XVI refere que a pobreza aparece “muitas vezes associada, como se fosse sua causa, com o desenvolvimento demográfico”. Como consequência desta realidade “realizam-se campanhas de redução da natalidade, promovidas a nível internacional, até com métodos que não respeitam a dignidade da mulher nem o direito dos esposos a decidirem responsavelmente o número dos filhos e que muitas vezes – facto ainda mais grave – não respeitam sequer o direito à vida”. Com o “extermínio de milhões de nascituros”, não se resolve o problema da pobreza porque “a população confirma-se como uma riqueza e não como um factor de pobreza” – escreve Bento XVI.
As epidemias – malária, tuberculose e SIDA – também são abordadas no documento do Papa. “É preciso, antes de tudo, fomentar campanhas que eduquem, especialmente os jovens, para uma sexualidade plenamente respeitadora da dignidade da pessoa; iniciativas realizadas nesta linha já deram frutos significativos, fazendo diminuir a difusão da SIDA”.
Os programas de luta contra a pobreza deverão ter em atenção as crianças. “Quando a pobreza atinge uma família, as crianças são as suas vítimas mais vulneráveis: actualmente quase metade dos que vivem em pobreza absoluta é constituída por crianças” – escreve Bento XVI. E realça: “Quando a família se debilita, os danos recaem inevitavelmente sobre as crianças. Onde não é tutelada a dignidade da mulher e da mãe, a ressentir-se do facto são de novo principalmente os filhos”.
Baixar a despesa militar
A despesa com o armamento também preocupa Bento XVI. “Os ingentes recursos materiais e humanos empregados para as despesas militares e para os armamentos, na realidade, são desviados dos projectos de desenvolvimento dos povos, especialmente dos mais pobres e necessitados de ajuda” – lamenta. Além disso, “um excessivo aumento da despesa militar corre o risco de acelerar uma corrida aos armamentos que provoca faixas de subdesenvolvimento e desespero, transformando-se assim, paradoxalmente, em factor de instabilidade, tensão e conflito”.
Os Estados são chamados a fazer uma “séria reflexão sobre as razões mais profundas dos conflitos, frequentemente atiçados pela injustiça, e a tomar providências com uma corajosa autocrítica”. Com a melhoria das relações entre os Estados dar-se-ia “uma redução das despesas para armamentos” e “os recursos poupados poderão ser destinados para projectos de desenvolvimento das pessoas e dos povos mais pobres e necessitados”.
Solidariedade global
Na Mensagem para o Dia Mundial da Paz, Bento XVI realça também que “uma das estradas mestras para construir a paz é uma globalização que tenha em vista os interesses da grande família humana”. Mas, para guiar a globalização é preciso uma “forte solidariedade global entre países ricos e países pobres, como também no âmbito interno de cada uma das nações, incluindo ricas”. “A marginalização dos pobres da terra só pode encontrar válidos instrumentos de resgate na globalização, se cada homem se sentir pessoalmente atingido pelas injustiças existentes no mundo e pelas violações dos direitos humanos ligadas com elas” – frisa Bento XVI
A luta contra a pobreza requer uma cooperação nos planos económico e jurídico que permita à comunidade internacional e especialmente “aos países pobres individuarem e actuarem soluções coordenadas para enfrentar os referidos problemas através da realização de um quadro jurídico eficaz para a economia” – aponta o Papa.
No mundo global de hoje, só é possível construir a paz, “se se assegurar a todos a possibilidade de um razoável crescimento: de facto, as consequências das distorções de sistemas injustos, mais cedo ou mais tarde, fazem-se sentir sobre todos”.
Neste contexto, a Igreja, ao mesmo tempo que segue com atenção os fenómenos actuais da globalização e a sua incidência sobre as pobrezas humanas, “aponta os novos aspectos da questão social, não só em extensão mas também em profundidade, no que se refere à identidade do homem e à sua relação com Deus. São princípios de doutrina social que tendem a esclarecer os vínculos entre pobreza e globalização e a orientar a acção para a construção.
Fonte: Agência Ecclesia