Conclusões das Jornadas Pastorais do Episcopado
“A Pastoral social antes de ser impulso criador e espaço criativo de acções e instituições é chamada a criar uma consciência crítica diante dos que menosprezam a dignidade da pessoa humana”.
A Igreja Católica sente-se fortemente interpelada pelas profundas mudanças que alteram a actual mundividência e complexificam uma visão lúcida do futuro. A nova configuração do mundo requer inovação e criatividade e pede conversão de mentalidade. Somos mais facilmente mundanos do que ousados na forma de estar no mundo, comprometidos com as entranhas da história para a ir abrindo para o Reino de Deus.
Os princípios de acção social e caritativa já foram traçados em documento da Conferência Episcopal Portuguesa de 2005. Estamos conscientes de que a pastoral social é a expressão da responsabilidade da missão da Igreja na sua integridade: evangelização, celebração e serviço da comunhão. Não é mero suplemento das carências das políticas sociais do Estado. A articulação entre acção pastoral evangelizadora, litúrgica e social é testemunho credível do amor misericordioso de Deus. O lugar social onde nos situamos como Igreja condiciona a leitura do Evangelho que fazemos e a significação do que anunciamos e do que celebramos.
A Pastoral social antes de ser impulso criador e espaço criativo de acções e instituições é chamada a criar uma consciência crítica diante dos que menosprezam a dignidade da pessoa humana.
1. Dimensão comunitária
A acção sócio-caritativa não é própria de uns tantos mais sensíveis, mas faz parte da missão baptismal. Em ordem a desenvolver esta consciência sócio-caritativa das comunidades cristãs, através de pastores formados para atender e promover esta vertente pastoral, é fundamental multiplicar canais de comunicação entre as instituições porventura existentes e os participantes na liturgia. O valor de partilha inscrito em cada eucaristia para ser efectivo precisa de atenção particular, com realismo e verdade na apresentação das situações.
A existência de serviços não dispensa cada membro da comunidade de praticar a caridade no acolhimento e encaminhamento dos seus mais próximos. A criação de ministérios laicais voltados para a caridade pode andar a par de uma maior dedicação do diaconado permanente a este campo da acção pastoral, aliás no seguimento da boa tradição.
2. Coordenação.
Novo esforço de decisão se requer para uma coordenação e trabalho em rede aos diversos níveis:
– nacional, pela valorização do Conselho de pastoral social, que reúne os representantes dos principais grupos de actores sócio-caritativos;
– paroquial (vicarial / unidade pastoral), pela criação de um grupo de acção social que integre os centros sociais paroquiais, se existirem, e quem atenda às diversas valências: pobres, doentes, presos, reflexão sobre justiça e paz e doutrina social da Igreja.
3. Cooperação.
O exercício da missão da Igreja e a sua decorrente responsabilidade pública na construção do bem comum implicam a cooperação com o Estado, em campos como o da educação, da saúde, do apoio à família, sobretudo os mais carenciados. Essa cooperação acontecerá no respeito pela clara identidade das instituições que deverá sempre ser defendida e salvaguardada na sua matriz cristã. A par da qualidade profissional do serviço, pede-se a plenitude humana da ajuda, com gestão operativa e transparente.
Particular discernimento exige-se a estabelecimentos de acolhimento de jovens em risco, dada a especial dificuldade dos casos.
4. Responsabilidade.
Importa revigorar a consciência da responsabilidade de todos os cristãos como cidadãos, de cada família, de cada comunidade cristã na observação atenta, reflexão lúcida, desenho estratégico, actuação eficaz e na avaliação crítica. Se o trabalho do voluntariado representa um papel enorme na resposta aos problemas sociais, será fundamental lugar para o exercício organizado de uma responsabilidade social. Desenvolver tempos e espaços de acolhimento de todos é primordial.
5. Movimento de pedagogia social.
A tarefa urgente de um movimento de pedagogia social ajudará os cristãos a tomar posição e poderá recorrer aos seguintes meios:
– evidenciar decisões contra-crise, indicadoras de um novo paradigma de vida;
– fomentar a comunhão e a partilha entre as pessoas e entre instituições;
– atender a situações mais extremadas, como aos sem-abrigo, a deficiência, toxicodependência, crianças abandonadas por famílias desestruturadas, solidão de idosos, famílias com pessoas gravemente doentes, pobreza envergonhada, precariedade do emprego, mendicidade;
– orientar para estilos de vida simples, sóbrios, alegres;
– sensibilizar para decisões que preservem a ecologia e incrementem os valores do ambiente e do clima.
6. Formação.
O testemunho profético passará neste tempo por associar uma intervenção eclesial pautada pela desinstalação evangélica e inspirada nas atitudes inovadoras de Jesus. Privilegie-se o cuidado com a formação de todos os cristãos, na catequese, nas aulas de educação moral religiosa católica, nos grupos e movimentos de jovens, e sobretudo nos actores / agentes de acção sócio-caritativa. Convém aproveitar de planos formativos já disponíveis pela Caritas e pela Universidade Católica e preparar novos materiais em falta. Uma Escola de “servidores líderes” poderá desenvolver-se no seguimento da iniciação cristã.
Fonte:Agência Ecclesia