Microcrédito: Eficácia no combate à pobreza
A apresentação de um estudo preliminar sobre o sistema de microcrédito em Portugal aponta a eficácia desta ajuda destinada a pessoas com capacidade produtivas ou «saberes-fazeres» que lhes permita criar o seu próprio posto de trabalho ou uma micro empresa. Este é o principal objectivo desta ideia, originária de Muhammad Yunus, que em 2006 foi distinguido com o Prémio Nobel da Paz.
Em Portugal esta ajuda está disponível desde 1999 e oito anos foram concedidos 621 empréstimos, contribuindo para a criação de 720 empregos. Quem tutela esta ajuda é a Associação Nacional de Direito ao Crédito – ANDC – que vê neste estudo preliminar “informações muito úteis para tentarmos corrigir trajectórias, afinar instrumentos e aumentar a forma de intervenção junto daqueles que precisam do microcrédito, de forma a sermos mais eficientes e atingirmos resultados eficazes”, afirma à Agência ECCLESIA, Manuel Brandão Alves, Presidente da ANDC.
O estudo foi conduzido por Américo Mendes que destaca a eficácia do microcrédito enquanto instrumento de “redução da pobreza e do desemprego”. “O impacto junto das pessoas que beneficiam do micro crédito anda na ordem dos 312 euros de valor do rendimento a mais por mês”, sublinha o coordenador do estudo, realizado pela Universidade católica Portuguesa através do Centro de Estudos de Economia e Gestão. É também uma mais valia no combate ao desemprego “porque permite a criação de emprego de uma forma sustentada e é também eficaz nas condições de impedir a exclusão social”, visível na melhoria da situação familiar, na produtividade e no rendimento social.
Apenas “cerca de 20% das empresas criadas desaparecem ao final de seis meses de projecto mas os que sobrevivem são uma percentagem muito respeitável”, destaca Américo Mendes.
Uma das conclusão que o estudo apresenta é que o microcrédito é entendido essencialmente como um instrumento de combate à pobreza e à exclusão social. Mas é fundamental que a ANDC, a principal instituição visada nesta avaliação, seja capaz não só de estender a rede de agentes que tem no terreno, em projectos próprios da Associação que apoiam os potenciais beneficiários nos seus projectos, mas que seja também capaz de “estabelecer relações de parcerias com instituições que estão no terreno mais vocacionadas para a acção social, para o acolhimento e apoio aqueles que devem ser os principais destinatários deste instrumentos financeiro”, sugere o coordenador do estudo. Mas para que isso aconteça é “necessário fazer uma revolução cultural dentro das próprias organizações que estão no terreno, associações a nível municipal, IPSS para que estejam disponíveis para entrar nestas parcerias”, pois não basta o esforço da ANDC.
Segundo o presidente da ANDC “falta um trabalho de mentalização e consciencialização de responsáveis de instituições e de todos os que trabalham nas estruturas, porque as ideias boas e orientações não bastam”, assegura, “falta o acreditar que vale a pena combater a pobreza com outros meios, para além dos mecanismos que já existem”. Este é um sentimento “em crescendo, mas que é preciso continuar a trabalhar”.
Há situações que podem ser melhor resolvidas através do mecanismo do microcrédito, “porque é mais dignificante para as pessoas e mais barata para a sociedade”, assegura Manuel Brandão Alves.
O trabalho que a ANDC tem desenvolvido desde 1999 “é meritório e vale a pena ser prosseguido, porque sobretudo desenha um modelo de intervenção junto do mundo da exclusão que merece ser ampliado”. Esta associação afirma “a importância no desenvolvimento do modelo no futuro e no estabelecimento de relações de parceria com instituições de solidariedade que intervêm no terreno e que estão mais junto das populações”.
O coordenador do estudo destaca a evolução positiva que está a acontecer “ao nível das IPSS e das organizações na área da acção social, entre aquelas que compreendem a importância de encontrar outras formas, para além das que já existem, disponibilizando vários instrumentos e respostas como o micro crédito”, mas aponta que é “preciso que aconteça e se aprofunde”, conclui Américo Mendes.
Fonte: Agência Ecclesia