Mensagem do Papa por ocasião da assembleia plenária da Academia Pontifícia das Ciências Sociais
Se não se vêem os seres humanos como pessoas dotadas de uma dignidade inviolável, será muito difícil alcançar uma plena justiça no mundo: adverte o Papa, numa mensagem por ocasião da assembleia plenária da Academia Pontifícia das Ciências Sociais, que se concluiu nesta segunda-feira, no Vaticano, tendo como tema “Caridade e justiça nas relações entre Povos e Nações”.
Na sua mensagem, enviada à Professora Mary Ann Glendon, que preside à Academia Pontifícia das Ciências Sociais, o Papa afirma que “prosseguir a justiça e a promoção da civilização do amor são aspectos essenciais” da missão da Igreja, “ao serviço da anúncio do Evangelho de Jesus Cristo”. Mas “mesmo na mais justa das sociedades, sempre haverá lugar para a caridade”, enquanto “não há nenhum ordenamento estatal justo que possa tornar supérfluo o serviço do amor”.
No centro do magistério da Igreja, que – recorda o Papa – “se dirige não apenas aos crentes, mas também a todos os homens de boa vontade”, está “o princípio da destinação universal de todos os bens da criação. Segundo este princípio fundamental, tudo o que a terra produz e tudo o que o homem transforma e confecciona, todo o seu conhecimento e tecnologia, tudo está destinado a servir o desenvolvimento material e espiritual da família humana e de todos os seus membros”.
Nesta perspectiva, o Papa faz referência a três desafios que o mundo enfrenta hoje em dia: “o primeiro desafio diz respeito ao ambiente e ao desenvolvimento sustentável . A comunidade internacional – afirma o Papa – reconhece que os recursos do mundo são limitados e que cada povo tem o dever de adoptar políticas visando a protecção do ambiente, a fim de prevenir a destruição daquele património natural cujos frutos são necessários para o bem-estar da humanidade. Bento XVI sublinha que na aplicação de soluções a nível internacional, “há que reservar especial atenção ao facto que os países pobres são os que parecem destinados a pagar o preço mais pesado pela deterioração ecológica”.
O segundo desafio diz respeito ao conceito de pessoa humana. Há que reconhecer todos os seres humanos como pessoas, dotadas de uma dignidade inviolável. Este reconhecimento há-de ter consequências práticas sobre os problemas globais, como o crescente fosso entre países ricos e países pobres, a desigualdade na distribuição dos recursos naturais e da riqueza produzida pela actividade humana; a tragédia da fome, da sede e da pobreza num planeta onde abunda a alimentação, a água e a prosperidade; etc.
O terceiro desafio – recorda a Mensagem do Papa – corresponde aos valores do espírito. “Ao contrário dos bens materiais, os bens espirituais, típicos do ser humano, expandem-se e multiplicam-se quando se comunicam; e quanto mais partilhados, mais são interiorizados”. Há que desenvolver uma maior consciência perante os desafios que se apresentam à própria identidade, promovendo compreensão e reconhecimento dos verdadeiros valores, numa perspectiva intercultural.
Só o amor para com o próximo – conclui Bento XVI, pode inspirar em nós justiça ao serviço da vida e da promoção da dignidade humana. Só a caridade pode encorajar-nos a pôr a pessoa humana cada vez mais no centro da vida na sociedade e no centro de um mundo globalizado, governado pela justiça.
Fonte: Rádio Vaticano