À conversa com Pedro Vaz Patto
Editorial Cáritas: Que principais conclusões resultam da Conferência Anual da CNJP deste ano subordinada ao tema ”Com os Pobres” e que teve como pano de fundo a Mensagem do Papa Francisco para o II Dia Mundial dos Pobres – “A esperança dos pobres jamais se frustrará”?
Pedro Vaz Patto: Da Conferência não resultaram propriamente “conclusões” formalmente enunciadas. Pela minha parte, baseando-me, sobretudo, na mensagem do Papa que serviu de inspiração à Conferência e na comunicação nela apresentada pelo cardeal Omella (arcebispo de Barcelona) sobre «a opção preferencial (ou amor preferencial) pelos pobres hoje na Europa», eu sublinharia dois aspetos.
O amor preferencial pelos pobres é um empenho prioritário para os cristãos porque Jesus Cristo se identifica com o pobre. Afirma o Papa na sua mensagem que «esquivar-se a esta identificação é ludibriar o Evangelho e diluir a Revelação». É trair «a credibilidade da Igreja», porque é nesse amor que a caridade cristã «encontra a sua prova real».
Nestas tão inequívocas palavras, encontramos a motivação mais profunda para uma dedicação constante e coerente às causas do combate à pobreza, no plano das relações interpessoais de proximidade e também nos planos mais globais da ordenação social e política, nacional e internacional.
Por outro lado, a mensagem do Papa sublinha também que os pobres não são «números de uma estatística», são «pessoas a quem devemos encontrar, que esperam uma palavra amiga, que se hão de convidar para entrar em casa e partilhar a refeição»
O que implica atender a dimensões da pobreza que não se restringem à privação de bens materiais. A solidão, a falta de esperança, a desorientação existencial, são também vertentes da pobreza.
E implica também tratar cada pobre como pessoa “única e irrepetível”, que tem talentos (talvez escondidos) e que não se limita a receber ajudas, também pode dar.
Editorial Cáritas: Enquanto Presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, que tem como finalidade “promover e defender a Justiça e a Paz, à luz do Evangelho e da Doutrina Social da Igreja”, quais são os principais desafios que se lhe colocam no contexto espácio temporal em que nos encontramos?
Pedro Vaz Patto: A questão do combate à pobreza, que serviu de temática da nossa Conferência Anual e que desde há muito (em especial desde os mandatos de anteriores presidentes, como Manuela Silva e Alfredo Bruto da Costa) tem merecido a nossa atenção, continuará a ser objeto da nossa intervenção, porque o fenómeno permanece no nossa país, com alterações não muito relevantes, como o revelam os últimos dados do I.N.E..
Mas os desafios que hoje nos são colocados são muitos: o trabalho e a vida familiar, as incontornáveis migrações e relações entre culturas diferentes, as questões ecológicas (nas suas vertentes ambiental, social e humana), as inovações tecnológicas e os seus reflexos nas relações sociais e laborais, a paz e a justiça nas relações internacionais, as violações da liberdade religiosa em todo o mundo, entre outros.
Perante estes desafios, os princípios da doutrina social da Igreja (da dignidade da pessoa humana, do bem comum, da solidariedade e da subsidiariedade) fornecem-nos pistas iluminadoras, mas não dispensam contributos criativos da parte da reflexão de cada um de nós. A Comissão Nacional Justiça e Paz procura dar esses contributos, consciente das suas limitações.
É também um desafio fazer com que a luz desses princípios doutrinais e esses contributos sejam ouvidos para além dos ambientes da Igreja, por toda a sociedade, como serviço que a esta queremos prestar.
Esta entrevista e outros conteúdos podem ser lidos no mais recente caderno da Editorial Cáritas: Comissão Nacional Justiça e Paz, com os Pobres