Dia Internacional da Tradução | Uma história de voluntariado
O tradutor é um artesão das palavras
Quando a Cáritas me propôs dar o meu testemunho para assinalar o Dia Internacional da Tradução, o primeiro sentimento que me invadiu foi gratidão. Não é todos os dias que uma instituição de renome coloca na sua agenda um destaque para a figura do tradutor, que muitas vezes vive na obscuridade. O segundo sentimento foi o de responsabilidade. Embora a minha entrada como profissional no mundo da tradução seja recente, as minhas palavras neste dia tinham de ir ao encontro do pensamento dos tradutores em geral. O resultado foi este texto que, acima de tudo, fala sobre a minha experiência pessoal e sobre o meu contributo, procurando elucidar um pouco sobre o que é o meu trabalho.
A tradução foi o seguimento lógico da minha paixão, desde criança, pelas línguas. Transformar, aproximar o texto das pessoas, dar a volta às palavras, encaixá-las como legos, desde cedo soube que o meu caminho só poderia passar por aqui. E, por isso, após terminar a licenciatura em Línguas para Relações Internacionais, concorri ao mestrado em Tradução, cheia de vontade de saber os meandros da área que sempre me cativou.
Todos os dias em tradução são um desafio: há prazos apertados, clientes impacientes, tecnologias que falham, textos de partida inundados de erros, dúvidas que assolam o tradutor, dedos frenéticos que procuram o significado daquela palavra tão técnica que não aparece em nenhum dicionário. Mas no final, quando tudo corre bem, somos tomados por um sentimento de dever cumprido inigualável, como se tivéssemos derrotado o Adamastor e dobrado o Cabo da Boa Esperança. E é isso que nos faz continuar, a confiança que depositamos em nós próprios para saber que, mesmo nas circunstâncias mais difíceis, daremos sempre o nosso melhor para que o resultado seja um produto com qualidade e que vá de encontro aos requisitos do cliente.
Guardo um lugar muito especial no meu coração para a Cáritas: foi ela que me viu andar pela primeira vez quando frequentava a creche e tornar-me menina quando frequentava o ATL. Foram vários anos de muitas e felizes recordações, com funcionárias com quem ainda hoje tenho contacto e com amigos que fiz e que ainda me acompanham atualmente.
Ser tradutora na Cáritas é das melhores experiências que levo deste ano tão atípico e desafiante para todos nós. Desde a primeira reunião com a Isabel Quintão que sabia que se avizinhava uma boa colaboração, proveitosa para ambas as partes. A exímia qualidade dos textos, uma preciosidade hoje em dia, facilitava em grande parte o meu trabalho. Juntamente com a amabilidade e simpatia com que sempre fui tratada, considero que enriqueci bastante, também a nível espiritual. Era impossível ficar indiferente à natureza dos textos quando invocavam figuras históricas como a Madre Teresa de Calcutá, temas pertinentes como o Plano de Resposta Humanitária Global da ONU para lutar contra a COVID- 19, citações do Papa Francisco e discursos cheios de luz do Cardeal Tagle, presidente da Caritas Internationalis.
Para terminar, deixo-vos com uma pequena contextualização histórica em relação ao Dia Internacional da Tradução: o dia 30 de setembro não foi escolhido ao acaso, é o dia da morte de S. Jerónimo, o padroeiro dos tradutores. Foi este santo que traduziu a Bíblia para o Latim, tornando-a mais acessível à população.